A Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah) teve início no dia 1º de junho de 2004 e deveria terminar um ano depois. No entanto, o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu postergar a permanência das tropas até o fim de junho – o governo brasileiro declarou o desejo de que esse prazo se estenda até dezembro.

O motivo seria as graves instabilidades no Haiti, que exigiram maior tempo de intervenção dos capacetes azuis, para minimamente garantir a realização das eleições programadas para o final de 2005. Desde setembro de 2004 até agora, cerca de 700 haitianos e três membros das forças da ONU morreram em conflitos. O primeiro-ministro, Gerald Latortue, à frente de um governo fantoche com o apoio dos EUA, tem se desgastado por conta da violência crescente no país. Como exemplo da crise, Latortue solicitou ao secretário geral da ONU, Kofi Annan, o envio de reforço militar ao país. Annan se prontificou em aumentar o número de soldados e disse ser a favor de que a missão se estenda por mais um ano.

No último fim de semana, o jornal The Washington Post publicou editorial que acusava a missão no Haiti de um verdadeiro fracasso, e sugeria que fuzileiros navais dos EUA, os marines, deveriam se incorporar à operação. O ministro Celso Amorim, apesar de discordar da ineficiência dos capacetes azuis, não ousou enfrentar os norte-americanos e afirmou não se opor a uma possível interferência dos soldados de Bush.

Mas há quem reconheça o empenho do governo brasileiro em agradar o imperialismo. A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, declarou durante a assembléia da OEA: “Avaliamos que a missão da ONU liderada pelos brasileiros vem fazendo um trabalho muito bom. Eles têm sido mais ativos nos esforços de desmilitarizar a situação, de desarmar as milícias”. Ainda assim, Condollezza não descarta o envio de tropas norte-americanas durante o período das eleições no Haiti.

Subimperialismo
O exército do Brasil comanda a operação, que conta com 6 mil soldados, sendo 1.200 brasileiros. O governo Lula se prontificou a chefiar a missão da ONU no Haiti sob a argumentação de que seria importante contribuir para a recuperação e desenvolvimento do país, destroçado pela miséria e a crise que depôs o presidente Aristide no começo de 2004. Mas, por trás das nobres intenções, está o interesse do governo em obter uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. A colaboração no Haiti seria, portanto, uma demonstração da força diplomática e da capacidade de assumir posição de destaque no cenário internacional.

Entretanto, a atuação do exército brasileiro no país não tem servido à missão de recuperar o país, e sim à repressão do povo haitiano. Desde o início da ocupação, são várias as denúncias de atuação dos capacetes azuis na contenção violenta das mobilizações nas favelas de Porto Príncipe e outros locais. O governo brasileiro já gastou R$ 340 milhões na operação militar, mais que o dobro do valor previsto inicialmente. A ONU se comprometeu a ressarcir um terço dos custos, mas até agora só pagou R$ 26,7 milhões.

Na verdade, o governo Lula, ao invés de cumprir uma missão humanitária e pacificadora, faz o serviço sujo para o imperialismo, que no momento está muito ocupado em enviar seus soldados para dizimar a resistência iraquiana. É preciso repudiar esta postura vergonhosa e, assim, como no Iraque, defender a soberania do povo haitiano.