O resultado das eleições presidenciais surpreendeu Lula e o PT. Algumas semanas atrás, todos davam como certa uma vitória já no primeiro turno. Mas o escândalo da compra do dossiê que explodiu nas vésperas das eleições foi implacável e frustrou os planos de Lula. A sucessão de denúncias envolvendo assessores diretos do presidente (seu churrasqueiro, o segurança e o marido de sua secretária particular) e a ampla campanha de mídia realizada por um setor da burguesia repercutiram nas eleições e levaram o candidato tucano, Geraldo Alckmin, ao segundo turno. Pesou também a sucessão de erros cometidos pela campanha de Lula, como a ausência no debate da Rede Globo. O crescimento expressivo de Alckmin na reta final, sobretudo em São Paulo, foi decisivo para que, por uma estreita margem de votos, Lula deixasse escapar sua reeleição.

O impacto do escândalo também teve efeito nas eleições estaduais e o PSDB conseguiu sair vitorioso em dois estados importantes, São Paulo e Minas Gerais.

O resultado mostra que há uma divisão na burguesia brasileira. Um setor segue apoiando Lula e aposta que o presidente reúne “melhores condições”, pelo seu prestígio perante a classe trabalhadora e o povo, para aplicar medidas exigidas pelo imperialismo e pela burguesia, como a nova reforma da Previdência e as reformas sindical, trabalhista e universitária. Para isso, pensam empresários e representantes do capital financeiro, é preciso eleger um presidente que tenha controle efetivo sobre as principais organizações das massas como a CUT, o MST e a UNE, hoje no campo do governo. Há setores da burguesia que se aproveitam da polarização para pressionar Lula a realizar sem demoras, caso reeleito, as reformas neoliberais.

Há um outro setor da burguesia que aposta seriamente na eleição de Alckmin para realizar as reformas e reconduzir a direita tradicional ao Palácio do Planalto.
A realização do segundo turno ameaça seriamente, pela primeira vez, a reeleição de Lula. Mas esse quadro só existe porque o governo manteve o mesmo plano econômico e a mesma corrupção do governo de Fernando Henrique Cardoso. A oposição de direita aproveitou-se eleitoralmente do desgaste do governo e obteve uma vitória parcial no primeiro turno.

Nos próximos dias devem aumentar as denúncias de corrupção, os ataques da oposição de direita e as cobranças sobre a origem do R$ 1,7 milhão para a compra do dossiê. Lula terá que explicar todos os escândalos que abalaram seu governo. Por outro lado, haverá também uma enorme onda entre trabalhadores e ativistas dos movimentos sociais de apoio à candidatura de Lula para “evitar a volta da direita”.

Alckmin: a cara da direita tradicional
A oposição burguesa aposta na falta de memória do povo

O governo de PSDB-PFL foi responsável pela introdução do projeto neoliberal no Brasil, que golpeou profundamente a nossa soberania. Foi com FHC que o desemprego aumentou de forma assustadora e as dívidas externa e interna explodiram. No seu governo foram realizadas as privatizações de 133 estatais, para alegria do capital estrangeiro. O processo de privatização foi marcado por uma roubalheira jamais vista. A Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, foi vendida por R$ 3,338 bilhões, o equivalente ao lucro de apenas três meses da empresa.

Alckmin é um típico representante da direita tradicional do país. No seu governo em São Paulo, o tucano também promoveu uma onda de privatizações que entregou ao capital estrangeiro a companhia estatal de energia (Eletropaulo) e o banco do estado (Banespa). Além disso, reprimiu duramente os movimentos sociais.

A oposição burguesa aposta na falta de memória do povo, e sem vergonha na cara fala em defender a “ética na política”. O recente escândalo do dossiê indica seu envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

O governo de Alckmin também foi marcado por uma sucessão de escândalos de corrupção. Entre eles está o desvio de verbas de publicidade estatal para campanhas eleitorais do PSDB paulista.

PSDB e PFL querem voltar ao governo para roubar e aplicar a mesma política econômica que favorece os ricos e prejudica os trabalhadores. Alckmin é expressão desse setor e sua imagem está associada à de FHC e seu governo corrupto e entreguista.

Concordamos integralmente com os trabalhadores que rejeitam a candidatura dos banqueiros e empresários.

Governo Lula: esquerda ou direita?
Infelizmente, ele não governou para os trabalhadores e para a maioria do povo, mas para banqueiros e grandes empresas

Muitos trabalhadores conscientes afirmam que Lula seria uma opção de “esquerda” para “impedir o retorno da direita” representada por Alckmin.

Compreendemos esse sentimento, mas não concordamos. O fato de Lula ter sido um líder operário confunde a consciência de milhares de trabalhadores. Seu governo é de direita, mas com a cara de um metalúrgico. O presidente, infelizmente, não governou para os trabalhadores e para a maioria do povo, mas para os banqueiros e as grandes empresas.

Durante o primeiro mandato, Lula manteve a política econômica neoliberal do governo FHC, retirou bilhões da saúde, da educação e dos programas de reforma agrária – por meio do superávit primário – para garantir o pagamento das dívidas. Além de ter aplicado medidas exigidas pela burguesia brasileira e pelo capital financeiro internacional, como a reforma da Previdência.

O governo Lula também praticou a mesma corrupção dos governos de PSDB/PFL, como mostram o mensalão e a compra do dossiê.

Aliados de direita
Um governo de esquerda não faria alianças com velhos representantes da direita, o que Lula fez. Entre os aliados estão José Sarney (que teve sua reeleição ao Senado garantida pela máquina do governo federal), Jader Barbalho, Ciro Gomes (ambos com campanhas apoiadas pelo governo) e agora Fernando Collor, que declarou apoio ao presidente no segundo turno.

Outro importante aliado de Lula foi o presidente norte-americano George Bush, maior símbolo da direita mundial. Em diversas ocasiões, Bush manifestou seu apoio ao petista, inclusive durante a crise política do ano passado, e o chamou de “parceiro”. Em troca, Lula mantém uma vergonhosa ocupação militar no Haiti, reprimindo a população do país – realizando o trabalho sujo para o imperialismo.
A campanha do presidente é totalmente financiada por grandes empresários e banqueiros. Depois de eleito, vão cobrar a fatura e exigir que Lula continue governando para eles e implemente um dos maiores ataques aos direitos dos trabalhadores da história do país, as reformas sindical e trabalhista.

Alguns trabalhadores dizem que, sob o governo Lula, a pobreza diminuiu graças a programas sociais como o Bolsa Família. Mas essas medidas não resolvem os problemas estruturais da miséria e servem apenas para ocultar que o governo mantém o Brasil como um dos campeões da desigualdade.

Entre 1995 e 2004, houve um aumento de pobres no país de 12,6% para 15% (PNAD). Por outro lado, o governo destinou ao Bolsa Família um valor 90 vezes menor do que pagou em dívidas interna e externa.

Lula será o maior responsável caso o PSDB retorne ao governo. A partir do momento em que se igualou à direita no terreno econômico e na corrupção, o governo petista permitiu o fortalecimento da direita tradicional. Isso começou já no primeiro dia de governo Lula, quando varreu para debaixo do tapete toda a corrupção do governo FHC.

O resultado do primeiro turno mostra que a oposição de direita aproveitou-se eleitoralmente dos escândalos produzidos pelo governo petista e, por isso, ameaça a reeleição do presidente.

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