É muito comum encontrar trabalhadores que opinam ser melhor votar em Lula, o “mal menor”.

O motivo pelo qual uma parte considerável desses trabalhadores acha isso é porque ele, “sendo um trabalhador”, se preocupa com os problemas sociais. As provas seriam o reajuste do salário mínimo, o Bolsa Família e o pequeno aumento do emprego.
Isto é verdade? Não. O Brasil governado por Lula é tão desigual como o de FHC. O País segue sendo o 8° mais desigual do mundo (pior que o Haiti), em que as 5 mil famílias mais ricas – 0,01% do total – possuem um patrimônio equivalente a quase metade do PIB. Lula governa para os banqueiros e não para os pobres. Os donos de bancos tiveram lucros recordes nesse governo. Em 2005 (36% mais que em 2004), o recorde dos recordes.

As pequenas migalhas (R$ 72 para o Bolsa Família) não mudam a miserável situação de nosso povo. O salário mínimo, já reajustado, corresponde apenas à metade de seu valor na ditadura militar, e um quinto do que determina a Constituição.
Lula apenas se aproveita do crescimento econômico cíclico do capitalismo para fazer algumas concessões num ano eleitoral. Mas os grandes ganhos vão para os banqueiros.

Mas o governo Lula é um governo dos trabalhadores?
Um erro muito comum é definir o caráter de um governo pela origem social ou política do presidente. Isso nos leva a uma completa confusão. Lula era operário e aplicou um programa neoliberal, exatamente como um banqueiro faria.

Tampouco serve definir um governo pela origem política do partido à sua frente. A maioria absoluta dos governos ditos de “esquerda” da América Latina (como o da Frente Ampla, no Uruguai, e do Partido Socialista, no Chile) impõe o mesmo plano pró-imperialista de Lula.

Como estamos numa sociedade dividida em classes, o caráter de um governo é definido em primeiro lugar pela classe beneficiada pelo programa de governo. Um governo que beneficie a burguesia é burguês, seja dirigido por um ex-operário ou um latifundiário, tenha origem na esquerda ou na direita.

Agora se torna mais fácil definir o governo Lula. O programa econômico aplicado foi o mesmo neoliberalismo de FHC, a serviço do grande capital e, mais particularmente, dos banqueiros e das grandes empresas multinacionais.

Podemos apresentar duas provas irrefutáveis desta afirmação. A primeira é o apoio de R$ 7,9 milhões dos banqueiros ao PT em 2004, depois de quase dois anos de governo – quase o dobro do que deram ao PSDB.

A segunda é que Bush, o centro do poder imperialista, apoiou diretamente Lula na crise do ano passado, enviando ao País John Snow e Condoleezza Rice, postura diametralmente oposta à aplicada com Hugo Chávez na Venezuela.

É preciso também avaliar qual a postura do governo Lula perante o Estado burguês. Não há dúvidas da completa adaptação do PT ao Estado: utiliza-se do Congresso Nacional, da Justiça e das Forças Armadas para se manter no poder, incorporando sua metodologia corrupta.

A dança da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) se transformou num símbolo da pizza no Congresso. A perseguição da Polícia Federal ao caseiro que denunciou Palocci é um exemplo de arbitrariedade. Delúbio Soares, José Dirceu e Antonio Palocci são sinônimos populares de corrupção. O governo do PT não mudou em nada o Estado burguês. Quem mudou foi o PT, hoje rivalizando com as piores cenas do malufismo e de Collor.

Por tudo isso Lula, ao contrário do que tenta parecer, não é um governo dos trabalhadores. É um governo burguês a serviço dos banqueiros e do imperialismo. Mas não é um governo burguês qualquer, é uma frente popular, de colaboração de classes, por ter em seu comando lideranças dos trabalhadores. Com este “disfarce”, consegue impor derrotas mais duras à classe trabalhadora, exatamente por ter a confiança da mesma.

Post author Moisés Simon, de São Paulo (SP)
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