Até o momento em que escrevíamos esta matéria, o site oficial da prefeitura municipal de Volta Redonda informava o número de 245 casos confirmados de contágio pelo novo coronavírus, e 8 mortes. A página não informa a quantidade de casos suspeitos, mas circulam informações pela imprensa de que seriam mais 873 casos.

Segundo reportagem do G1, Volta Redonda está em primeiro lugar entre os municípios do estado do Rio de Janeiro com relação ao número de mortes a cada 100 mil habitantes. Esses números por si só já são muito preocupantes, mas não refletem a realidade, pois há uma grande subnotificação em que em muitas pessoas que apresentaram os sintomas não fizeram os exames e muitos foram liberados para casa sem saber se estavam contaminados pelo vírus.

Diante do avanço da pandemia que já fazia milhares de vítimas pelo mundo, o governo de Samuca Silva (PV), assim como a Witzel, demorou a agir e quando agiu tomou medidas insuficientes. Primeiro paralisou as escolas e alguns departamentos do funcionalismo público, para só algum tempo depois paralisar o comércio. Mas a CSN continua operando normalmente.

A CSN apenas colocou em férias coletivas em torno de dois mil operários dos chamados grupos de risco e estagiários, mantendo a maioria dos seus funcionários trabalhando normalmente. A empresa afirma que medidas de higiene como lavar as mãos e usar álcool em gel são suficientes para conter a pandemia contrariando o que dizem os especialistas e a própria OMS (Organização Mundial da Saúde).

São milhares de trabalhadores se aglomerando nos ônibus todos os dias nos horários de troca de turno. No interior da usina, espaços coletivos são compartilhados pelos trabalhadores como vestiários e refeitórios, o que expõe não só aos trabalhadores, mas também suas famílias ao risco de contágio pela Covid-19.

Por que parar a CSN?

A CSN alega que suas atividades são essenciais porque fabrica as folhas de flandres, matéria-prima para a fabricação de embalagens de alimentos como as latas de leite em pó por exemplo.

O que a empresa não diz é que as folhas de flandres só correspondem a uma parte de sua produção. O aço da CSN é utilizado em diversas aplicações na indústria como a fabricação de carros e na construção civil. Também é produzido cimento e vergalhão.

A empresa tem espaço físico suficiente e uma grande capacidade de estoque. Essa capacidade de estoque já é utilizada habitualmente quando algum equipamento importante é colocado em manutenção. Mas em nenhum momento a empresa divulgou seus níveis de estoque.

A pergunta que fazemos é: o vergalhão e o cimento da CSN estão sendo utilizados para a construção de hospitais ou de abrigo para pessoas necessitadas em regiões afetadas pela pandemia? A empresa está disposta a redirecionar sua produção no sentido de adaptar seus equipamentos para produção de insumos necessários à fabricação de equipamentos hospitalares? A resposta é óbvia, toda a atividade da empresa está direcionada a manter os lucros dos acionistas. A CSN teve lucro líquido de R$ 2,245 bilhões em 2019.

Portanto, a empresa tem totais condições financeiras de dar férias coletivas com a garantia dos salários de seus funcionários paralisando todas as atividades não essenciais. Essa é a única forma de termos uma verdadeira quarentena na cidade e conseguir evitar que o vírus continue se espalhando. Caso contrário, podemos chegar a uma situação de caos na saúde uma vez que na rede pública existem apenas 18 leitos equipados com respiradores e a rede particular sequer informou a quantidade de respiradores disponíveis… Ou seja, Volta Redonda ainda tem leitos sobrando. Mas se houver um aumento rápido de casos graves, não terá respiradores para todo mundo.

CSN prova que está preocupada com a saúde… dos acionistas

A CSN divulgou um comunicado adiando para 30 de abril a sua Assembleia Geral Ordinária que seria realizada no dia 24. A justificativa apresentada foi: “preservar os direitos e a integridade física de seus acionistas”. Mas e os direitos e a integridade física de seus milhares de trabalhadores que seguem se expondo e se arriscando ao contágio do Covid-19?

O desprezo da empresa por seus funcionários é tão grande que nem a PPR que tradicionalmente era paga em abril, mês de aniversário da Companhia, foi paga ainda. Ano passado a empresa substituiu a PPR por um abono e esse ano até agora, nada! A verdade é que a empresa não quer dividir nem uma pequena parte dos seus lucros com os trabalhadores que deram duro e foram responsáveis pelo ótimo resultado. Provavelmente, a empresa vai alegar que não pode pagar a PPR devido à crise do novo coronavírus. Mas isso não justifica uma vez que a PPR seria referente aos resultados do ano passado, que aliás foram ótimos.

Por um programa dos trabalhadores para enfrentar a pandemia

Os governos Federal junto com o Congresso Nacional, os governos estaduais e também os municipais estão editando uma série de medidas com a justificativa de que seriam para enfrentar a pandemia e preservar empregos. No entanto, o conteúdo da maioria dessas medidas serve mesmo para retirar direitos dos trabalhadores e socorrer as grandes empresas que não querem ver diminuir suas taxas de lucro.

Em Volta Redonda, por exemplo, foi suspensa a gratuidade dos idosos no transporte público municipal com a justificativa de que é para evitar que esse grupo que é o mais vulnerável circule pela cidade. Mas se o idoso mora sob o mesmo teto de um trabalhador da CSN o vírus pode estar indo para dentro de casa nas botas ou nas roupas deste trabalhador… A medida por anto é insuficiente para proteger os idosos e ainda ataca um direito garantido por lei.

Outra medida tomada pelo prefeito foi o decreto que obriga as pessoas a usarem máscara em ambientes públicos fechados ou abertos e em estabelecimentos comerciais com aplicação de multa de R$ 500 para quem não cumprir. Por trás deste decreto está uma articulação para reabertura do comércio e relaxamento das medidas de isolamento social.

O comércio em Volta Redonda foi fechado pela prefeitura por determinação de uma ação judicial movida pelo Ministério Público. Mas o prefeito Samuca, assim como outros prefeitos da região estão articulando um acordo entre o comércio e o Ministério Público para reabrir o comércio e relaxar as medidas de isolamento social. Alguns vereadores como o Granato, atendendo ao desejo dos grandes comerciantes também se movem pela reabertura do comércio.

Samuca aparece todos os dias no Facebook posando como preocupado com a população e fingindo seguir as determinações da OMS. No entanto, na prática ao articular a reabertura do comércio, ele segue a mesma política genocida de Bolsonaro que defende o fim dessas medidas protetivas e o isolamento vertical.

Esses mesmos governos que atacam os direitos dos trabalhadores e defendem as grandes empresas, fazem vista grossa para a CSN. O governador do estado Wilson Witzel, em uma entrevista coletiva disse em tom de ameaça que se as pessoas insistissem em sair às ruas que o governo iria começar a autuar e até a prender. Mas o governador não disse uma palavra sobre prender Benjamin Steinbruch, presidente da CSN que mantém a circulação de milhares de pessoas se recusando a paralisar a produção na CSN.

Queremos uma ampla campanha de conscientização pela necessidade do isolamento social. Pelo uso de máscara e pelas práticas de higiene que ajudam a evitar o contágio. Também achamos importante orientar que idosos e pessoas do grupo de risco evitem circulação. Mas estamos contra qualquer medida de ataque ou retirada de direitos dos trabalhadores e do povo pobre.  Alertamos que é um grave erro e um crime relaxar as medidas de isolamento justo no momento em que o número de casos segue aumentando. E exigimos a imediata paralisação da produção na CSN (exceto áreas essenciais) e que os trabalhadores sejam colocados em férias coletivas com a garantia do salário, direitos e estabilidade no emprego.

As vagas de UTI da rede particular devem ser colocadas a serviço do SUS. E devem ser garantidos todos os equipamentos de proteção aos trabalhadores de áreas essenciais e em especial aos da saúde.

Defendemos a reestatização da CSN. Somente com uma indústria nacionalizada e sob o controle dos trabalhadores podemos reorganizar a produção para garantir o que é necessário diante de uma grande catástrofe como a que estamos enfrentando: alimentos; remédios e equipamentos hospitalares como os respiradores que estão fazendo tanta falta.

É preciso derrotar os governos de Witzel e Samuca que atacam os trabalhadores e favorecem os ricos e poderosos. Manter e ampliar as medidas de prevenção ao contágio ao Covid-19. Por uma verdadeira política de combate a pandemia é necessário botar para fora o governo que tem uma política genocida. Fora Bolsonaro, Mourão e Guedes!