Sob vaias e protestos, direção do sindicato aprova acordo que mantém ataquesNo dia 11, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC realizou assembléia com os trabalhadores da Volks, em que leu a proposta acordada com a direção da empresa sobre a questão das demissões. Porém, a direção do sindicato afirmou que só votaria a proposta no dia 14. Abriu-se então um debate no interior da fábrica entre a oposição, de um lado, e a direção do sindicato e a empresa, de outro. No chão de fábrica, como se fala aqui no ABC, estava por se travar uma grande batalha pela direção do movimento.

No dia 12, os trabalhadores discutiram a proposta e a direção do sindicato não se atreveu a defender o acordo que fez com a empresa. Mas, no dia seguinte, o sindicato mudou de atitude e foi forçado a realizar uma assembléia com os trabalhadores do CFE (Centro de Formação e Estudo), que reúne 500 trabalhadores.

Os trabalhadores estavam furiosos com o sindicato porque a direção discriminou quem estava no CFE, ao negociar o valor do PDV (Programa de Demissão Voluntária) de 0,6 salário por ano trabalhado, ao invés de 1,4, como o restante (1,4 significa um salário mais 40% sobre cada ano trabalhado – por exemplo, quem tem 20 anos de casa recebe 28 salários).

O diretor do sindicato quase levou uma surra depois de dizer que quem estava no CFE deveria agradecer, porque a empresa havia oferecido só 0,4 no pacote das negociações. Teve que sair às pressas no carro da empresa, escoltado pela segurança.
No mesmo dia, foi a vez da ala do vice-presidente do sindicato, o maior setor da fábrica, com 3 mil trabalhadores. O membro da comissão de fábrica Lira iniciou a assembléia dizendo que a proposta era a melhor possível, tomando uma enorme vaia.

Em seguida, foi a vez do próprio vice-presidente do sindicato defender o acordo e ser vaiado.

Nas alas 2 e 4, 3 e 13, os membros da oposição ainda não tinham feito suas assembléias, mas já se percebia que não precisava de muito tempo para argumentar contra a proposta. Os metalúrgicos em sua maioria eram contrários. O diretor eleito pela oposição Brandão afirmou que “os trabalhadores estavam divididos, mas a maioria estava contra o acordo do sindicato”. 

Diante desses fatos, a direção da Volks percebeu que seu parceiro, a direção do sindicato, não estava convencendo os operários a aceitar os ataques. Na mesma noite entrou em campo distribuindo um boletim que dizia: “caso os trabalhadores não aceitem os planos, as demissões serão feitas sem pagamento de pacote (…) não haverá nova proposta em hipótese alguma”. Ao final a ameaçava com um “grande conflito e um número maior de demissões”. Diante da chantagem e da traição da direção do sindicato, os trabalhadores começaram a refletir. A maioria estava disposta a lutar, mas com uma direção como essa ficaram inseguros.

Apoio da Conlutas incomoda burocratas
A direção do sindicato estava com raiva da disputa que a Conlutas estava travando desde o início, com adesivo, cartaz e os boletins “Ferramenta”, que disputavam as assembléias. Como de costume, os militantes da Conlutas, trabalhadores de outras fábricas e ativistas, assistem à assembléia do lado de fora do alambrado. Mas dessa vez o sindicato, em acordo com a empresa, fez uma parede com os ônibus para que os trabalhadores não vissem o apoio e as faixas da Conlutas.
 
Vaias para a direção
No pátio, entre os trabalhadores, estavam os bate-paus vestindo camiseta dizendo “100% PT” e militantes da Articulação Sindical que tomaram a frente do carro de som, pois sabiam que os trabalhadores do CFE estavam dispostos a se enfrentar com a direção traidora do sindicato da CUT.

Logo na primeira fala, o diretor do sindicato e do conselho mundial da Volkswagen, Vagner Santana, o “Vagnão”, foi intensamente vaiado.  Com o presidente do sindicato, José Lopez Feijoó, não foi diferente. Os trabalhadores sabiam que a proposta era a mesma de Taubaté, ou seja, manter as demissões, retirar direitos e prejudicar quem tem doença profissional.

Ao colocar a proposta em votação, os operários se dividiram. O próprio Feijoó diz que 30% teriam votado contra, mas esse número foi questionado pela própria imprensa, dizendo que a rejeição teria sido bem maior. Segundo os próprios trabalhadores, a votação foi de 55% a favor e 45% contra. Feijoó mentiu mais uma vez. “Ele mesmo disse que se dividisse a proposta estaria rejeitada”, afirmou Samuel, trabalhador do CFE.

Após terminar a assembléia, os trabalhadores do CFE continuaram revoltados. Para sair do local, Feijoó teve que ser escoltado pelos militantes do PT e da CUT. A entrevista coletiva que sempre foi feita no pátio dessa vez foi realizada no sindicato. Para o diretor do sindicato eleito pela oposição ‘Biro Biro’, o acordo só foi aprovado porque “os mensalistas foram liberados pela empresa para votar a favor, etenho certeza que entre os trabalhadores da produção eles perderiam a proposta”. 
 
Falta democracia
“Se nós da oposição pudéssemos falar na assembléia, teríamos ganhado com certeza e mantido o movimento com condições de ter uma vitória sem demissões, já que a empresa vem tendo lucro como já demonstramos nos nossos boletins”, disse Rogério Romancini, diretor eleito pela oposição.

As mobilizações dos operários da Volks, iniciadas em maio, estavam se transformando em uma pedra nos sapatos da direção do sindicato. Desde o início, esta tentou, por diferente meios, terminar o mais rápido possível com as mobilizações. A preocupação era de que o aumento das mobilizações pudesse prejudicar a reeleição de Lula, apoiado amplamente pelo sindicato.

Mesmo com a aprovação do acordo, o sindicato acumulou um grande desgaste perante os metalúrgicos da Volks. Eles sabem que não é possível confiar nessa direção. Com a traição do sindicato, uma conclusão deve ser tirada pelos metalúrgicos da região: é preciso avançar no fortalecimento da oposição para a construção de uma nova alternativa de direção para os metalúrgicos do ABC.
 

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