No início de setembro, Dirceu Travesso, o “Didi”, e Sebastião Carlos, o “Cacau”, estiveram na Europa para participar de reuniões preparatórias do Encontro Internacional do Sindicalismo Alternativo e de Luta, que ocorrerá na França entre abril e maio de 2013.
No dia 8, os membros da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas puderam participar, na sede do Sindicato dos Ferroviários de Madri, de uma importante reunião do “sindicalismo de classe e alternativo” do Estado Espanhol.
A reunião aprovou um manifesto unificado que declara apoio às lutas em curso no país. A maioria das organizações também acordaram em convocar o dia 26 de setembro, quando a LAB (central Sindical Basca) convoca uma greve geral no País Basco, como uma dia Nacional de Luta em todo o Estado espanhol. Leia abaixo trechos da entrevista com Dirceu Travesso concedida para o jornal da organização Corriente Roja.

Corriente Roja: Que dimensão tem hoje o processo de reorganização sindical europeu e que capacidade tem essa articulação para acelerar a reconstrução de uma referência que possa organizar democraticamente a base, os ativistas e coordenar ações internacionais?

Dirceu – Temos que ter olhos, mentes e corações abertos em momentos de crises profundas como a que vivemos. É um processo muito amplo e ao mesmo tempo desigual e frágil. Sua expressão se dá em organizações já existentes, por isso nosso critério é a referência concreta da luta, da resistência e de formas de organizações que busquem resgatar a democracia operária e a participação da base. A expressão também se dá em “novas formas” de organização que surgem para responder os desafios concretos, às vezes de forma programática e metodologicamente confusas, mas progressivas como parte da construção de um novo que quer lutar e resistir, e não se sente representado pelas organizações tradicionais burocráticas.

Nossa classe e o povo de todo o mundo nos dão exemplos permanentes de uma capacidade impressionante de luta para libertar-se da dominação imperialista. Apesar da nossa imensa debilidade e fragilidade, buscar avançar, tentar construir e reconstruir, debater, saber conviver com as diferenças, polêmicas, resgatar espaços de frente única operária e democrática, é indispensável para a luta e também para a compreensão da realidade e da elaboração de respostas. É preciso independência de classe, sem conciliação ou dependência financeira de empresários e governos. Autonomia em relação aos partidos, sem prejuízos ao reconhecimento e o respeito às organizações partidárias. As decisões devem estar de fato nas mãos da base de organizações e dos movimentos.

A Europa é hoje o epicentro da crise e o Estado Espanhol, neste momento, é o centro da crise e do ascenso europeu. É possível uma participação mais ampla do sindicalismo alternativo do Estado Espanhol na construção de uma alternativa internacional?

Dirceu – A participação do sindicalismo da Espanha é fundamental. A reunião realizada aqui contou com a participação da CGT, e nas reuniões anteriores contamos também com a presença da IAC, COBAS e a Confederación Intersindical. É essa participação que, sem dúvida, pode potencializar as iniciativas de solidariedade e unificação das lutas que estão acontecendo, como o apoio a greve do dia 26 de setembro e outros processos de luta, bem como a necessidade de uma greve geral, que não é uma questão só de solidariedade. A vitória dos trabalhadores espanhóis contra as medidas do governo Rajoy e a Troika (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia) fortaleceria a luta de resistência dos trabalhadores em todo o mundo contra o mesmo processo de ataques que, ainda que com ritmos diferentes, são os mesmos.

Quais são as expectativas em relação ao Encontro que se realizará na Europa em abril/maio de 2013?

Dirceu – Haverá participação de companheiros de vários países. A primeira convocatória desta iniciativa saiu de uma reunião realizada entre as organizações presentes no Congresso da Union Syndical Solidaires, na França, em junho de 2011. Nesta atividade estavam presentes a CGT, a IAC e a Confederación Intersindical da Espanha. Em maio demos continuidade com a reunião realizada durante o Congresso da CSP-Conlutas no Brasil. Da Espanha, esteve presente a Cobas. Organizações como a CSP-Conlutas do Brasil, a Unión Solidaries, da França, a CGT e outras organizações da Espanha, a RMT [trabalhadores dos transportes], da Inglaterra, a CCT [Central Classista de Trabalhadores], do Paraguai, a CGT, da Costa Rica, a Federação Sindical e Independente, do Egito e outras organizações sindicais da África do Sul, Senegal, Benin, Argentina, Marrocos, Uruguai, Chile, Peru, Colômbia, Bolívia, Portugal, Inglaterra, Alemanha, Canadá, EUA, Moçambique, China etc, também estão discutindo a participação no encontro.

Não temos a pretensão de “fundar uma nova organização sindical internacional”, mas sim buscar o intercâmbio das distintas experiências e concepções de organizações com histórias, culturas e processos diferentes. Não para reproduzir a dinâmica da imensa maioria das reuniões e iniciativas internacionais, nas quais se discute, mas não consegue avançar na unidade e na solidariedade da nossa classe. Queremos construir o Encontro Internacional do Sindicalismo Alternativo e de Luta e avançar em campanhas e iniciativas unitárias. Ter um pólo de solidariedade às lutas dos trabalhadores e do povo da Espanha, na medida em que o país tem se transformado em um dos centros da crise e também da resistência. Organizar atividades e iniciativas em torno do tema da mineração, que toma agora a forma concreta de campanhas em solidariedade e apoio aos mineiros da África do Sul, em especial de Marikana. Dar uma dimensão internacional à luta contra os ataques ao serviço público e contra as privatizações em setores como transporte e educação. E outras questões, como o combate à criminalização da pobreza e dos movimentos sindicais, da juventude e populares.

Como os ativistas podem participar do encontro e acompanhar sua construção e suas propostas?

Dirceu – Até o final de setembro lançaremos a convocatória do encontro para que possam aderir todos que queiram participar. O encontro será em Paris. A data será em um final de semana, entre 15 de março e 15 de abril. Vamos fazer um site comum que sirva para a preparação e a organização do encontro em todos os seus aspectos.

Queremos chegar no Encontro com exemplos concretos de como podemos potencializar e fortalecer nossas lutas, solidariedade e unidade. Debateremos a crise, nossas lutas e como avançar nas mobilizações e na unidade internacional.
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