Nesta última semana, contemplamos uma vitória no combate ao racismo e ao machismo dentro da UFMG: três dos responsáveis pelo bárbaro trote opressor da Faculdade de Direito da UFMG no primeiro semestre de 2013 foram punidos – um com expulsão e os outros dois com suspensão de um semestre.

Para refrescar a memória, o caso aconteceu em março do ano passado. No dia 18 daquele mês, começaram a circular pelas redes sociais fotos do trote dos calouros do curso de Direito, e entre as ultrajantes humilhações típicas, duas fotos chamaram a atenção: em uma, uma caloura tem sua pele pintada com tinta preta, tem suas roupas rasgadas e é segurada por uma corrente por um veterano branco, com um sorriso cínico no rosto. No pescoço da garota, uma placa com os dizeres “Caloura Chica da Silva”. Na outra foto, um calouro está amarrado a um poste cercado por três veteranos, que saúdam a câmera com o gesto de levantar o braço direito com as mãos abertas: o famoso “Sieg Heil” da Alemanha nazista. Para completar, um dos veteranos ainda pintou no próprio rosto um bigode que remete ao de Adolf Hitler.

Para além da violenta concreta e física perpetrada pelos trotes, a agressão simbólica deste caso é particularmente nefasta. Estudantes do curso que preza em sua centralidade por garantir a justiça, ridicularizam e fazem apologia a dois dos momentos mais terríveis da história humana: a escravização do povo negro africano e a ascenção do nazi-fascismo na Europa.

O caso, é claro, não foi recebido sem alarde: as movimentações e manifestações de repúdio contra o trote vieram do país inteiro, de diversos setores diferentes. Nós do PSTU, juntos à ANEL e o Movimento Mulheres em Luta, estivemos denunciando a barbaridade do caso em todos os espaços, alertando para a calamitosa possibilidade da agressão seguir impune.

Com a punição dos veteranos, a luta contra o racismo e o machismo conquista uma vitória. Contudo, foi uma vitória arrancada, que necessitou de um caso escandalosamente bárbaro pra revelar o “elefante na sala” que todos já sabiam: a prática tradicional de trotes nas universidades brasileiras é em si uma prática machista, racista, homofóbica e transfóbica, de humilhação e opressão do outro. Mulheres, pessoas negras e Trans e homossexuais já passam por inúmeras dificuldades para o acesso na universidade e, mesmo uma vez lá dentro, são recebidas já de início com a mensagem de que não são bem-vindas naquele espaço.

É necessário ir além: urge uma discussão mais ampla e punições mais severas aos praticantes de trotes machistas, racistas e homofóbicos e transfóbicos. É necessário destruir a estrutura de opressão que se perpetua na sociedade e que a Universidade reproduz. Esta não é uma tarefa fácil, e tampouco se fará concretizada pelas vias institucionais: só a luta organizada do povo negro, das mulheres e das pessoas LGBTs pode  arrancar vitórias do Estado opressor ao qual estamos sujeitos.

O PSTU coloca suas candidaturas a serviço destas lutas dos oprimidos. Acreditamos na luta enquanto única via de mudança, e por isso estivemos e estaremos nas ruas, junto aos oprimidos da classe trabalhadora, combatendo cotidianamente todas as opressões. Nas eleições, não queremos que seja diferente: queremos que nossas candidaturas sejam uma plataforma de propulsão para a denúncia de casos como esse do direito, que sirvam de ferramenta para organizar todos os setores oprimidos para que mais e mais agressores como esses sejam punidos, não só nas escolas e universidades, mas em toda a sociedade.