Itajubá, sul de Minas Gerais, 5h da manhã. O dia ainda estava escuro quando Zé Maria de Almeida, presidente da comissão eleitoral, anunciou a vitória da chapa 1, da Conlutas. Foram 69% (1.689) contra 31% dos votos da chapa 2 (743), da CUT. Os votos nulos somaram apenas 18 e os brancos, 38, totalizando 2.488 votantes do total de 2.900 associados.

Com a palavra-de-ordem “A Conlutas é radical / não é capacho do governo federal”, os militantes da Conlutas e os dirigentes sindicais da Federação Metalúrgica de Minas Gerais, junto aos companheiros do Pinheirinho que estavam lá em apoio à chapa 1, gritaram em alto e bom som para os militantes da CUT que saíram de cabeça baixa do ginásio da cidade.

A eleição para o sindicato dos metalúrgicos, ocorrida nos dias 28 e 29 de abril, foram polarizadas entre a Conlutas e a CUT por diversos temas de interesse dos trabalhadores. A luta contra as demissões, a crise econômica, o debate sobre o governo, a resistência à retirada de direitos, o banco de horas, a divisão do sindicato e os distintos projetos das duas centrais pautaram a campanha.

Os dez mil metalúrgicos espalhados nas cidades de Itajubá, Paraisópolis e região têm uma parte da sua produção voltada para indústria bélica – helicóptero de guerra, armamento, fuzil, pistolas e munição – além das empresas de autopeças que produzem para a General Motors.

A disputa pela direção da entidade foi marcada por uma forte tensão, já que há meses um grupo minoritário rompeu com a diretoria e aliou-se à CUT na tentativa de dividir a categoria. Assim, fundaram outro sindicato que foi prontamente rechaçado pela categoria.

Outro forte debate foi sobre o governo federal. As empresas Imbel e Helibras, instaladas na região, são. A Imbel, fabricante de armas e munições, paga para 80% dos trabalhadores salários de fome de apenas R$ 480. Esta empresa tem a maior jornada de trabalho entre as estatais: 48 horas semanais. Uma vergonha para um governo que diz estar ao lado dos trabalhadores.

Dinheiro para banqueiro e montadoras tem, mas para aumentar os salários dos operários que estão em campanha salarial, não. Até agora não houve nenhuma resposta sobre as reivindicações.

A corrente petista Articulação sempre foi conhecida como a defensora do banco de horas (flexibilização da jornada), mas aqui, curiosamente, diziam que eram contra. Isso porque não tinham espaço para defender sua política. Na empresa Delphi, os trabalhadores, junto com o sindicato filiado à Conlutas, derrotaram o banco de horas, obrigando a empresa a pagar uma indenização para todos os trabalhadores. Em muitos casos, o valor chegou a R$ 5 mil, pois a empresa tinha criado o banco de horas à revelia do sindicato.

Outro momento importante na eleição foi a luta contra as demissões que vem ocorrendo em toda a categoria. O sindicato tinha promovido uma grande manifestação no dia 30 de março contra as demissões, seguindo a orientação da Conlutas, e ao mesmo tempo exigiu na Justiça a suspensão das demissões e foi atendido pela juíza da cidade.

A chapa da CUT foi esmagada na empresa Delphi. Dos mais de 500 votos, a chapa da CUT obteve apenas 20. Na empresa onde trabalha o líder da chapa, a CUT perdeu por 70%. Na Helibras, a chapa 1 fez mais de 90%. A chapa da CUT só ganhou na Imbel.

Toda essa vitória se deu pelo trabalho que a atual diretoria vem desenvolvendo: um sindicato de luta que não aceita entregar direitos e luta contra ao governo. Também contou com o grande apoio da Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais através de seus dirigentes e uma forte presença da militância do Pinherinho, ocupação urbana de São José dos Campos (SP), e da militância aguerrida dos camaradas do PSTU.