Assassinatos de sem-teto expõem o descaso dos governantes e a violência que impera nas ruas`HomenagemEntre os dias 19 e 28 de agosto, 16 moradores de rua foram violentamente atacados nas ruas centrais de São Paulo. Seis deles morreram, 10 estão hospitalizados, alguns em estado grave. As vítimas foram atingidas na cabeça com um cano de ferro ou taco de beisebol, enquanto dormiam.

O tipo de ataque e a descrição feita por testemunhas reforçaram a hipótese de que os crimes tenham sido cometidos por skinheads ou grupos de direita. Também não se pode descartar que seguranças, guardas municipais ou policiais (contratados por comerciantes da região) estejam por trás dos assassinatos.

A hipótese de um grupo de extermínio de direita ganha peso diante do preocupante crescimento das organizações fascistas. Como sempre acontece em períodos de crise, mundo afora proliferam grupos que propõe a “cura” da humanidade por meio da eliminação de setores considerados nocivos: negros, homossexuais, migrantes e despossuídos em geral.

Os moradores de rua acabam sendo uma síntese de tudo os que esses grupos odeiam. Dentre as vítimas do atual massacre, por exemplo, a maioria é negra e migrante e, dentre os mortos, havia um travesti.

Contudo, também sobram denúncias sobre a participação dos órgãos de repressão e seguranças neste episódio. Moradores de rua e entidades que trabalham com eles afirmam que as ameaças e agressões feitas têm aumentado. Na última semana, vários depoimentos apontavam particularmente para a participação da Guarda Civil Metropolitana, ligada à prefeitura.

Os cúmplices do massacre

É evidente que é necessário exigir a prisão e punição exemplar de todos os envolvidos, sejam eles quem forem. Como também é necessário combater e destruir qualquer organização neonazista. No entanto, não se pode parar nisso. Pois, independentemente de quem sejam as mãos que desferiram os golpes, há muitos outros cúmplices nesta história: da atual prefeitura petista ao governo Lula, passando pelos tucanos e todos os demais partidos e setores que dão sustentação ao Estado capitalista brasileiro.

São eles os responsáveis por outro crime que há muito vem ocorrendo nas ruas de São Paulo: a existência de cerca de 10.400 pessoas sobrevivendo sem teto, sem alimentação decente e quase sem nenhum amparo. Agora, com o cinismo e a hipocrisia de sempre, todos falam que têm propostas para tirar as pessoas da rua. Uma farsa que nem eles próprios podem sustentar.

Marta, por exemplo, assim que assumiu o cargo prometeu construir novos albergues e reformar os já existentes, para oferecer mais privacidade para os abrigados (haveria um limite de 20 em cada quarto, e de 100 por unidade). Hoje, contudo, há um déficit de mais de 3 mil vagas e a média é de mais de 200 abrigados por unidade, chegando a 450 em alguns casos.

A prefeita ainda afirmou que criaria um serviço de moradia provisória, pago pela prefeitura, para quem deixasse os albergues e tivesse condições de tocar a vida. Hoje existem somente 40 moradias provisórias, número, evidentemente, pra lá de insuficiente.

Para se ter uma idéia da “preocupação” da prefeitura petista com os moradores de rua, basta dizer que nos últimos oito primeiros meses foram gastos R$ 32,6 milhões em programas de assistência, enquanto R$ 39 milhões foram destinados para a publicidade.

Agora, em plena campanha eleitoral, Marta diz que irá resolver o problema. Uma mentira repetida igualmente por Maluf, Serra, Erundina e todos os demais candidatos dos partidos burgueses.

Como lembra Dirceu Travesso, candidato a prefeito pelo PSTU em São Paulo, “é revoltante ver toda essa gente dizendo que irá pôr fim ao problema dos moradores de rua. A maioria deles já esteve no poder e não fez nada. Muito pelo contrário, contribuíram para que mais e mais pessoas fossem obrigadas a morar na rua, diante da falta de oportunidades e perspectivas. Para começar a resolver a questão é preciso romper com a Lei de Responsabilidade Fiscal, não pagar as dívidas externa e interna e investir em obras públicas para criar empregos. Coisas que nenhum deles quer fazer”.

Post author Wilson H. da Silva, da redação
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