No dia 25 de janeiro, completaram-se 20 anos do falecimento de Nahuel Moreno, pseudônimo político do militante revolucionário argentino Hugo Bressano Capacete. Ao longo de sua extensa trajetória dentro do trotsquismo, Moreno fundou ou contribuiu à fundação de várias organizações políticas em seu país, na América Latina e na Europa.

Por outro lado, diante da necessidade de estudar e compreender os novos fenômenos políticos mundiais e orientar os militantes da sua corrente, Moreno realizou um extenso trabalho de escritor, expresso em numerosos livros, ensaios, documentos e cartas. Neles, desenvolveu alguns importantes aportes à teoria marxista. Em seus trabalhos, também abordou temas como lógica e o método de interpretação da História.

Em 1982, foi o fundador da LIT-QI e o principal dirigente da nossa organização internacional até sua morte. Ao final de sua vida, considerou que esta havia sido sua tarefa mais importante. Coincidindo com esta idéia, Peter Fryer, jornalista e militante trotsquista britânico, expressou, logo após o falecimento de Moreno, que a LIT-QI era “o monumento vivo” a sua trajetória militante.

Na carta que enviou ao ato realizado em Buenos Aires, no dia posterior à sua muerte, o conhecido dirigente trotskista belga Ernest Mandel, com quem Moreno havia protagonizado duras polêmicas teóricas e políticas, disse que ele “foi um dos últimos representantes do punhado de quadros dirigentes trotskistas que, depois da Segunda Guerra Mundial, manteve a continuidade da luta de Leon Trotsky, em circunstâncias difíceis”.

Coincidimos plenamente com a afirmação de Mandel. Ao mesmo tempo, acreditamos que Moreno foi, dentro deste “punhado de quadros”, quem melhor representou a continuidade da luta do trotsquismo. Ao fazê-lo, não esquecemos nem por um momento, o balanço que ele mesmo realiza de sua trajetória, expressando que tinha “muitíssimos erros e uns poucos acertos”. Incorporando este balanço profundamente auto-crítico, cremos que Moreno foi quem mais contribuiu com a tarefa histórica e incompleta de reconstruir a IV Internacional, como uma direção capaz de conduzir as massas na luta pela revolução socialista mundial.

Ao completar 20 anos de sua morte, a LIT-CI, decidiu realizar, durante 2007, o Ano Nahuel Moreno, com uma série de atividades que incluem uma edição especial da revista Marxismo Vivo, em seu próximo número, dedicada a sua trajetória política e à sua tarefa de construção da Internacional; atos em diversos países, seminários, etc., os quais iremos informando através desta página.

A seguir, como parte da divulgação de alguns dos seus trabalhos, publicamos o texto Ser trotsquista hoje, um artigo escrito em 1985, onde explica que, em sua opinião, o trotsquismo se expressa na luta contra o capitalismo e contra a burocracia dos (ex) estados operários, e que isso se sintetiza na construção da IV Internacional.

Ser Trotskista Hoje
“Comecemos por entender o que significa ser verdadeiramente marxista. Não podemos fazer um culto, como se fez de Mao ou de Stálin. Ser trotskista hoje não significa estar de acordo com tudo aquilo que escreveu ou o que disse Trotsky, mas sim saber fazer-lhe críticas ou superá-lo, como a Marx, a Engels ou Lênin, porque o marxismo pretende ser científico e a ciência ensina que não há verdades absolutas. Em primeiro lugar, ser trotskista é ser crítico, inclusive ao próprio trotskismo.

No aspecto positivo, ser trotskista é responder a três análises e posições programáticas claras. A primeira, que enquanto existir o capitalismo no mundo ou em um país, não há solução de fundo para absolutamente nenhum problema: começando pela educação, a arte, e chegando aos problemas mais gerais da fome, da miséria crescente, etc…

Junto a isso, ainda que não seja exatamente o mesmo, o critério de que é necessária uma luta sem piedade contra o capitalismo até derrotá-lo, para impor uma nova ordem econômica e social no mundo, que não pode ser outra que não o socialismo.

Segundo problema, naqueles lugares onde se há expropriado a burguesia (falo da URSS e de todos os países que se reivindicam socialistas), não há saída se não se impuser a democracia operária. O grande mal, a sífilis do movimento operário mundial é a burocracia, os métodos totalitários que existem nesses países e nas organizações operárias, os sindicatos, os partidos que se reivindicam da classe trabalhadora e que se corromperam pela burocracia. E esse é um grande acerto de Trotsky, que foi o primeiro que empregou essa terminologia, que hoje é universalmente aceita. Todos falam de burocracia, as vezes até os próprios governantes desses estados que nós chamamos de operários. Enquanto não houver a mais ampla democracia, não se começará a construir o socialismo. O socialismo não é só uma construção econômica. O único que fez essa análise é o trotskismo, e também foi o único que sacou a conclusão de que era necessário fazer uma revolução em todos esses estados e também nos sindicatos para alcançar a democracia operária.

E a terceira questão, decisiva, é que é o único conseqüente com a realidade econômica e social mundial atual, quando um grupo de companhias transnacionais domina praticamente toda a economia mundial. A este fenômeno sócio-econômico é preciso responder com uma organização e uma política internacional.

Nessa era de movimentos nacionalistas que opinam que tudo se soluciona no próprio país, o trotskismo é o único que diz que só há solução ao nível da economia mundial inaugurando a nova ordem, que é o socialismo. Para isso, é necessário retomar a tradição socialista da existência de uma internacional socialista, que encare a estratégia e a tática para alcançar a derrota das grandes transnacionais que dominam o mundo inteiro, para inaugurar o socialismo mundial, que será mundial ou não será.

Se a economia é mundial, tem que haver uma política mundial e uma organização mundial dos trabalhadores para que toda revolução, toda país que faça sua revolução, a estenda à escala mundial, por um lado; e por outro lado, cada vez mais dê direitos democráticos à classe operária, para que seja ela a que tome seu destino em suas mãos por via da democracia.

O socialismo não pode ser nada mais que mundial. Todas as tentativas de se fazer um socialismo nacional fracassaram, porque a economia é mundial e não pode haver solução sócio-econômica dos problemas dentro das estreitas fronteiras nacionais de um país.

A quem se deve derrotar é as transnacionais à escala mundial para abrir espaço à organização socialista mundial.

Por isso, a síntese do trotskismo hoje é que os trotskistas são os únicos no mundo inteiro que têm uma organização mundial (pequena, débil, tudo o que se queira dizer) porém a única internacional existente, a Quarta Internacional, que retoma toda a tradição das internacionais anteriores e a atualiza frente aos novos fenômenos, porém com a visão marxista: que é necessária uma luta internacional.