Daniel Luz, de São Paulo (SP)

Na noite desta quinta-feira (02/03), cerca de 300 pessoas fecharam o cruzamento das Avenidas Cantídio Sampaio e Inajar de Souza, na saída do Terminal Cachoeirinha, zona Norte de São Paulo. Era um protesto contra a morte de João Victor Souza de Carvalho, jovem negro de 13 anos, filho de catadores de material reciclável, na última segunda-feira (27/02), em frente a uma loja do Habib’s, localizada nessa região.

Segundo relato de trabalhadores ambulantes que testemunharam toda a ação, por volta das 19h de domingo, João Victor pedia moedas na calçada quando começou a ser perseguido por um gerente e um segurança do Habib’s, que lhe agarrou pelo pescoço e o arrastou pela rua, em seguida, lhe desferiu um veemente soco na cabeça. Deixado em frente à loja, quando pôde ser socorrido já estava inconsciente. O laudo do IML aponta que o jovem faleceu por parada cardiorrespiratória.

Trabalhadores exigem a verdade
O ato desta quinta-feira durou cerca de quatro horas, reunindo crianças, jovens e adultos os quais vinham de suas casas ou chegavam do trabalho. Ali, se juntavam aos gritos de “Justiça pra João Victor”, “Queremos a verdade” e “Habib’s assassino”. Alguns empunhavam cartazes onde se lia “Vidas Negras Importam”.  Muitos criticavam o descaso da polícia no dia da morte do jovem e a demora na apuração dos fatos.

A PM esteve presente com pelo menos cinco viaturas durante todo o ato de ontem, inclusive com policiais em linha portando armas letais (metralhadoras). Entretanto, no dia da morte do jovem, a polícia demorou uma hora para chegar ao local, o registro de ocorrência foi feito apenas às 4h da manhã da segunda-feira e as investigações só foram iniciadas na quarta-feira (01/03).

Protesto contra a morte de João Victor

VIDAS NEGRAS IMPORTAM | Nesta quinta, 2, cerca de 300 pessoas protestaram contra a morte do garoto João Victor, de 13 anos, espancado por seguranças do Habib’s próximo ao terminal Cachoeirinha, Zona Norte de São Paulo Leia mais www.pstu.org.br/vidas-negras-importam-justica-para-joao-victor/

Posted by PSTU Nacional on Friday, March 3, 2017

Aumenta o genocídio negro no Brasil
Infelizmente, a morte de João Victor se soma a muitas outras mortes de jovens negros nas periferias do Brasil e do mundo. São incontáveis os casos de mortes e assassinatos de trabalhadores negros nas mãos da polícia ou de seguranças privados. Em todos eles o Estado e os governos de PT, PMDB, PSDB e toda essa corja de corruptos agem com extrema cumplicidade, quando não são os agentes diretos dessas mortes, por meio de sua polícia. E se ainda resta dúvida de que não deixou de crescer ao longo da última década uma verdadeira matança de mulheres e homens negros nas periferias do país, seguem alguns fatos.

O Mapa da Violência 2016 analisa a partir de dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS) as informações relativas a Homicídios por Arma de Fogo (HAF) em todo o Brasil, tomando para isso diversos critérios, como a cor/raça das vítimas. Os organizadores do Mapa nos informam que na categoria “negro” são contabilizadas pessoas “pardas” e “pretas”, tendo por base o universo populacional fornecido pelo censo demográfico do IBGE (órgão federal).

Em 2003, foram 13.224 homicídios por arma de fogo na população branca, onze anos depois (2014) esse número cai pra 9.766, queda de 26,1%.  Na dinâmica inversa e durante o mesmo período, o número de vítimas negras vai de 20.291 para 29.213, ou seja, aumento de 46,9%.

Se olharmos a relação entre a taxa de homicídios por arma de fogo (HAF) entre a população negra e a Taxa entre a população branca, constataremos a mesma dinâmica: em 2003 morriam proporcionalmente 71,7% mais pessoas negras, que pessoas brancas. Em 2014, esse índice cresce para 158,9%. É verdade que existem diferenças regionais, mas que não negam esse quadro geral. Por exemplo, em Alagoas foram assassinados 60 brancos e 1702 negros, ou seja, para cada pessoa branca assassinada, tem-se mais de 11 pessoas negras, em 2014. Ainda segundo o Mapa da Violência 2016, não existe variação concomitante entre os índices de homicídio entre negros e brancos, sendo apenas em três estados – Tocantins, Acre e Paraná – maior o índice de assassinatos entre brancos, quando comparados a negros.

É interessante notar também a composição étnico-racial da população carcerária brasileira: 67% de negros, 32% de brancos e 1% de amarelos.

O racismo à serviço do capitalismo
A morte do jovem João Victor para garantir os lucros dos donos da mega rede de restaurantes Habib’s e as informações acima sobre a crescente matança de negras e negros, seja pelas mãos da polícia, seja por seguranças privados, é a forma mais perversa que assume o racismo. Necessário dizer que isso ocorre também nos EUA, na Palestina e em todos os países. Não à toa, como sabemos, a imensa maioria dessas pessoas assassinadas são da classe trabalhadora, vivem do suor do seu trabalho diário. É assim que todos os dias, exploração e discriminação racial são usadas pelos capitalistas pra lucrar o máximo possível em cima de negras e negros trabalhadores.

Por isso, acreditamos que é tarefa do conjunto da classe trabalhadora mundial combater e derrubar o racismo, o machismo, a LGBTfobia e a xenofobia, indo até a raiz dessas opressões – o modo de produção capitalista. Assim, combatemos desde já o racismo tendo como norte a aniquilação do seu grande agente: o estado burguês e a burguesia, rumo à sociedade socialista governada diretamente pelo conjunto da classe trabalhadora, abrindo caminho ao fim total de toda exploração e opressão.