Israel Luz, de São Paulo.

Em plena forte polêmica internacional causada pela cruel política imigratória do governo norte-americano, pela primeira vez o Brasil foi visitado por um alto representante da atual gestão de Donald Trump.

Nos dois dias em que esteve no país, o vice-presidente Mike Pence cobrou que o governo brasileiro adote mais sanções contra a Venezuela, tratou da utilização da Base de Alcântara no Maranhão e defendeu as medidas adotadas nos EUA contra as famílias imigrantes. Tudo isso se portando como quem visita o quintal de casa.

Um show de hipocrisia
Na terça-feira (26), Pence deu um puxão de orelha público em Temer para que adote mais sanções contra Maduro, além daquelas já apoiadas pelo governo brasileiro.

Vice de Trump repassa ordens ao seu vassalo

As medidas contra a Venezuela na realidade nada tem de preocupação democrática ou humanitária. Como explica muito bem a LIT-QI em recente declaração: “As sanções aprovadas pelo governo de Trump e aquelas que pretendem aprovar a UE e o Grupo de Lima […] tendem a agravar a situação econômica venezuelana e são pressões para obrigar o governo a acelerar a aplicação do pacote de ajuste que já foi implementando e a entrega dos recursos da nação, já em curso por meio de contratos de empresas mistas, os acordos do Arco Mineiro Orinoco e os enormes pagamentos da dívida externa, bem como para acelerar uma transição para um governo mais confiável a seus interesses, que minimize a entrada dos russos e chineses no que eles consideram seu “quintal”. As consequências dessas medidas atingirão não o governo burguês de Maduro (que será afetado até certo ponto), nem os servidores públicos corruptos, nem os banqueiros e empresários especuladores, nem as transnacionais, mas os trabalhadores e o povo pobre da Venezuela”.

No dia seguinte, Pence foi a um abrigo de refugiados venezuelanos em Manaus. Conforme divulgado pela Casa Branca, declarou: “Estou aqui para trazer uma mensagem em nome do presidente Donald Trump e do povo americano. Estamos com vocês […] e continuaremos com vocês até que a democracia seja restaurada na Venezuela”.
Que moral tem Pence para falar em democracia? Para ficar em um só exemplo, em dezembro passado seu governo reconheceu Jerusalém como capital do estado de Israel. Isso significa reconhecer o controle sionista sobre a Palestina e manter indefinidamente o povo palestino esmagado pelo apartheid colonial e racista no qual vive.

A luta contra a ditadura de Maduro é uma tarefa da classe trabalhadora venezuelana. O governo Trump tenta disputar a profunda insatisfação popular que há contra o chavismo, mas evidentemente apenas defende substituir a atual gestão burguesa por outra anti-trabalhadores.

Ainda no Amazonas, defendeu a política de imigração de seu governo com uma verdadeira pérola: “Quero dizer a todas as nações da região [América Latina], com todo o respeito: da mesma maneira que os EUA respeitam suas fronteiras e sua soberania, insistimos que vocês respeitem as nossas.” Especialmente no caso dos países da América Central, esse “respeito” não raro significou apoio a ditaduras sanguinárias e intervenção militar direta ou indireta ao longo do século XX.

No caso dos venezuelanos que fogem para o Brasil, um exemplo real de solidariedade foi dado pela CSP-Conlutas. Recentemente uma comissão da central visitou abrigos de imigrantes em Roraima e lançou uma cartilha na qual defende que o governo brasileiro deve garantir a regularização da permanência e direitos como emprego, saúde e educação. Uma atitude de classe e concreta, muito diferente das falsas promessas e mentiras de Mike Pence.

Acordo avança a recolonização
Na véspera da visita de Pence, o governo Temer promulgou um acordo geral de cooperação na área espacial e científica.

Dentro dele, estão sendo negociadas medidas como o acordo de salvaguardas tecnológicas que permitirá a utilização da Base de Alcântara. A região maranhense possui uma localização privilegiada para lançamentos aeroespaciais.

Trata-se de um ataque grave à soberania nacional já que, caso se concretize o “aluguel” dessa base por 20 anos, os EUA terão um ponto de apoio militar no nosso território. O entendimento tem a concordância das Forças Armadas que, mais uma vez, mostram defender um nacionalismo que não se importa em baixar a cabeça para os norte-americanos.