Atnágoras Lopes, dirigente da CSP-Conlutas, viajou ao Pará para prestar solidariedade aos operários em greveNo dia 29 de março, operários da obra da hidrelétrica de Belo Monte se revoltaram mais uma vez contra as péssimas condições de trabalho, salários e moradia. O estopim foi a morte de um operador de motosserra. O dirigente da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes, trabalhador da construção civil no Pará, viajou até o local no dia 1º de abril para ver de perto a situação dos sete mil trabalhadores da obra, e pôde testemunhar as mais desumanas condições de trabalho e sobrevivência.

“Cheguei a Belo Monte quando já havia uns três dias de mobilização, em duas grandes frentes de trabalho, o que dá pouco mais de 50% da obra”, relata Atnágoras. Lá, viu operários lutando pelas mesmas reivindicações que desataram todas as greves operárias neste ano, que chegaram a parar, juntas 140 mil trabalhadores. “Uma das reivindicações é folga de cinco dias para cada 90 trabalhados, hoje eles tem folga só depois de 180 dias”, revolta-se.

Polícia e repressão
A fim de acalmar a greve e tentar evitar que a paralisação se alastrasse para outros canteiros, o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) resolveu antecipar o pagamento aos operários, do dia 5 para o dia 2. Mas as condições são tão precárias que isso só serviu para provocar ainda mais revolta.

“Vi uma cena aterrorizante lá, digna de filme de terror; eles alugaram uma ‘danceteria’ na cidade de Altamira para pagar os trabalhadores, à moda antiga, com dinheiro no envelope”, relembra Atnágoras. Os operários foram então chegando pela madrugada, mas o consórcio avisou que só liberaria o dinheiro às 11h. Algo como quatro mil trabalhadores se amontoaram em frente à danceteria para receber, embaixo de chuva.

“Policiais fortemente armados fizeram um cordão e deixaram só uma passagem estreita para o pagamento. Claro que isso gerou um princípio de confusão e aí a polícia jogou spray de pimenta, bateu e prendeu operários que estavam ali para receber seu próprio pagamento”, relata o dirigente. “Foi uma coisa impressionante, olhei para cima e vi um helicóptero com o símbolo do consórcio, dando rasante e com policial de arma em punho, apontada contra os operários”.

“Estamos falando aqui de megas empresas como Camargo Correa, OAS, Odebrecht”, indigna-se Atnágoras. No dia seguinte o dirigente foi à reunião da Mesa Nacional de Negociação que trata sobre a situação dos operários das obras do PAC, em Brasília, onde denunciou toda a situação vista em Belo Monte.

A reunião definiu um conjunto de regras de respeitos trabalhistas a serem seguidos pelas empreiteiras, porém, com caráter meramente indicativo. “É um acordo nacional, mas que ninguém é obrigado a cumprir. É uma carta de intenções”.

Clima de terror
A greve em Belo Monte se encerrou no dia 6 de abril, sob forte pressão policial, demissões e ameaças. O jornalista Ruy Sposati, que cobria o movimento para a ONG Xingu Vivo, recebeu várias ameaças de morte e chegou a ser proibido pela “Justiça” de se aproximar da obra.

Os trabalhadores, no entanto, aguardam a resposta do consórcio às reivindicações e ameaçam parar novamente, caso nada seja feito.
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