Nas eleições de 2000, o PSTU elegeu vereadores em duas cidades. Agora, Fábio José, de Juazeiro do Norte (CE), e Huender Franco, de Monte Carmelo (MG), aproximam-se do final de seus mandatos. As experiências guardam muitas semelhanças entre si.

Sem gabinete e sem nenhum assessor, Fábio José faz um mandato das ruas. Logo em janeiro de 2001, esteve por 15 dias na ocupação dos servidores municipais em greve. Essa marca prosseguiu, colocando o gabinete à disposição dos movimentos, discutindo com eles cada projeto e realizando plenárias regulares do mandato. Em 2003, o mandato acompanhou os 30 dias da greve da Universidade Regional do Cariri (Urca), no Crato, até a ocupação ser invadida pela polícia, no dia 18 de julho. Para Fábio, o apoio às lutas e a denúncia da Câmara fazem com que o PSTU seja reconhecido na região: “A vanguarda vê a diferença. O vereador do PT aposta todas as fichas no Parlamento enquanto a gente denuncia o seu caráter típico de uma democracia dos ricos”.

Em Monte Carmelo, a denúncia também é sistemática. “A Câmara é jogo de carta marcada. São 14 vereadores contra nós. Usamos o espaço para ir à luta, denunciar o governo Lula, a prefeitura do PT e Aécio Neves”, diz Huender. A principal luta do PSTU na cidade é por emprego. A economia local possui um forte peso do setor ceramista, que emprega quase 4 mil trabalhadores. Desde 2003, o setor atravessa uma crise, com muitas das 36 fábricas fechando. A resposta tem sido a mobilização, com passeatas, inclusive até a casa do prefeito do PT, e mais de 20 greves.

Os ataques do governo Lula, como as filas dos idosos, são denunciadas pelo jornal mensal do mandato de Fábio José, distribuído nas ruas de Juazeiro. Fábio conta que as falas da Câmara ecoam na cidade e intimidam o PT: “O vereador do PT que, junto conosco, criticava a Alca e as reformas de FHC, hoje ou se cala ou defende o governo”. Além da denúncia de Lula, em Monte Carmelo, o mandato de Huender ajuda a impulsionar a Campanha Contra a Alca, que teve grande repercussão na cidade.

As denúncias locais também são feitas e contribuem para a crítica ao sistema. Em Juazeiro, o prefeito armou um esquema com um grupo de vereadores, onde cada um teria direito a liberar 30 multas de trânsito. Fábio encontrou por acaso o documento sobre uma mesa e fez a denúncia, que foi vista por todo o país no Jornal Nacional e fez o prefeito recuar.

AMEAÇAS

A atuação de um revolucionário no Parlamento provoca reações. Em 2003, Fábio exigiu uma CPI para apurar o sumiço de um cheque da Câmara, de 60 mil reais, e foi ameaçado. “Me ligaram e disseram que se não parasse, seria morto”. Ele não recuou e buscou apoio nos movimentos sociais. A campanha cresceu, encontrou eco na imprensa e culminou com a invasão da Câmara por centenas de ativistas. Eles entraram gritando “Cadê o cheque?” e o presidente da Câmara, para não ficar inelegível, teve de renunciar.

Construindo o partido

Mais do que o apoio às lutas, o que diferencia o mandato revolucionário é que este está a serviço de uma estratégia maior, a revolução e o socialismo. Desta forma, estes três anos serviram também para ajudar na construção de uma alternativa revolucionária, o PSTU. Em Juazeiro, o mandato aumentou a visibilidade do partido. Segundo Fábio, “Abrimos trabalho em setores onde o partido não tinha contato, como ambulantes, moto-taxistas e movimento popular”. Além disso, o PSTU ampliou sua presença onde já existia, como servidores municipais e na universidade.

Para as eleições deste ano, o Partido está discutindo o lançamento de candidatos a prefeito no Crato e em Juazeiro do Norte. Em Juazeiro, o PT acabou de realizar suas prévias e a candidata ligada à esquerda foi derrotada. “O espaço eleitoral para nosso partido aumentou. Na padaria, na banca, em qualquer lugar, sou parado por pessoas que querem saber o que vamos fazer nas eleições”, conta Fábio.

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