As edições recentes dos jornais noticiaram 19 mortos em um só dia, aulas suspensas, postos de saúde fechados, transportes interrompidos, enfim, uma situação de verdadeiro caos social. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), teve a cara-de-pau de dizer que a assassina operação policial realizada no Morro do Alemão “foi absolutamente feita com planejamento, inteligência e informações”.
Notícias que poderiam ser sobre a ocupação no Iraque ou ainda sobre a ocupação brasileira no Haiti, mas que são na verdade sobre a ocupação da Polícia Militar e da Força Nacional de Segurança nas comunidades cariocas do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro.

É falso o argumento que a ocupação das comunidades carentes é uma medida para combater o tráfico e garantir a segurança pública. Os governos e a grande imprensa, como a Rede Globo e as revistas ‘Veja’ e ‘Época’, utilizam os Jogos Pan-Americanos para fazer campanha de um novo modelo de repressão contra os trabalhadores pobres. copiado da ocupação militar haitiana. Tentam assim ganhar uma parcela da população assustada com a violência.

Em entrevista ao Portal do PSTU, Cecília Coimbra, presidente do Tortura Nunca Mais do Rio, disse que o governo do estado está praticando uma política higienista “de limpar as ruas do lixo humano”. “Isso se fortalece com o nome de ‘política de tolerância zero’, em que não é só a pobreza que está sendo criminalizada ou exterminada. O secretário de Segurança Pública do Estado diz que aquelas 19 vítimas – que não foram 19, são quase 30 – que morreram no Complexo do Alemão eram todas traficantes. Isso justificaria o extermínio”, disse.

Grande negócio
O tráfico é um grande negócio capitalista, com braços infiltrados no aparelho do Estado, comprando policiais, juízes e políticos. Portanto, longe de representar uma medida que aumenta a segurança, a ocupação de algumas comunidades carentes significa a criminalização dos setores mais empobrecidos da classe trabalhadora. Menos de 1% dos moradores destas comunidades são envolvidos com o tráfico e os outros 99% ganham sua vida dignamente, com salários arrochados e cada vez menos direitos.

Além da exploração diária, os moradores ainda são vítimas de assassinatos protagonizados pelas forças policiais. Afinal, somente seis dos 19 mortos (dados oficiais) dos conflitos do dia 27 de junho nas comunidades do Complexo do Alemão tinham antecedentes criminais. E, se levarmos em conta os dados desde o início da ocupação militar na região (a Vila Cruzeiro está ocupada desde o início de maio), já são mais de 70 mortos, sendo a maioria inocentes, reconhecidamente donas-de-casa, trabalhadores e estudantes.

Não que seja justificável o assassinato de jovens pobres e negros que, sem alternativa de acesso à educação e empregos de qualidade, partem para o tráfico. Os episódios no Rio revelam que a Justiça no Brasil tem um caráter explicitamente de classe: para a juventude negra e pobre, a morte por balas ditas “perdidas“. Para os criminosos de colarinho branco, como o atual presidente do Senado, Renan Calheiros, a mais descarada impunidade.
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