Desde 8 de julho, os profissionais da educação do Rio de Janeiro estão em greve. O Opinião entrevistou Vera Nepomuceno, coordenadora geral do Sepe-RJ (Sindicato dos Profissionais da Educação), que contou o drama vivido pela categoria nesses quase dois mes Como está a greve dos profissionais de educação? Quais são suas reivindicações?
Vera Nepomuceno – Essa campanha salarial procura garantir não só o reajuste salarial, mas também a defesa da carreira docente que vem sendo ameaçada com a política de meritocracia e privatização de Sergio Cabral. Sem um centavo de reajuste em 2009 e 2010, no início deste ano a categoria percebeu que era necessário construir uma greve para arrancar uma reposição salarial de 26%, além do descongelamento do plano dos funcionários administrativos; adiantamento das parcelas do programa Nova Escola – cuja incorporação está prevista para terminar em 2015; fim do Plano de Metas, eleição para os diretores das escolas, revitalização do IASERJ (o hospital mantido com dinheiro dos servidores públicos e que está sendo destruído pelos sucessivos governos).

Como têm sido as negociações?
Vera – Ao longo de todo este ano, procuramos caminhos para a abertura de negociações. Conseguimos audiências com secretários do governo e com líderes da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Fizemos paralisações, atos, passeatas, e nada. Por isso, ocupamos a Secretaria de Educação. Queremos arrancar negociações. Como o governo não propôs qualquer reajuste, decidimos ocupar a Secretaria para exigir nova negociação. Conseguimos uma, para o dia seguinte, e saímos de lá. Mas como, infelizmente, as negociações não avançaram, estamos acampados em frente à Secretaria.

Recentemente, diversos esquemas de corrupção do governo Cabral têm sido trazidos à tona. Como a categoria tem reagido?
Vera – A categoria tem demonstrado muita revolta com essa situação, o que é natural. Em todas as negociações nós ouvimos que o estado não tem dinheiro para nos dar aumento. Não tem dinheiro pra quê? Porque para superfaturar as obras dos megaeventos tem dinheiro, e muito. A máscara do Sergio Cabral caiu. O que a população começa a ver, hoje, é a cara de um governo autoritário, que prendeu 439 bombeiros, que chefia uma polícia violenta que mata negros pobres, e trata com descaso seus servidores. A população está compreendendo que nosso movimento é justo. Recentemente, numa enquete de jornal, 84% dos leitores declararam apoio à nossa greve.

O que significam as políticas meritocráticas para a educação?
Vera – É parte do projeto neoliberal para a educação e vem sendo aplicada em diversos estados do Brasil. A ideia que eles vendem é a de que, para um professor trabalhar bem, tem que ter um incentivo financeiro. Aí, eles deixam a grande maioria dos professores ganhando uma miséria, mas com a expectativa de que podem ganhar melhor. Basta serem mais produtivos! E o que é a produtividade na Educação? Nós não conseguimos medir produtividade na nossa profissão, mas os especialistas neoliberais têm a resposta: aprovar mais alunos. O objetivo é claro: economizar. Para poder sobrar dinheiro para pagar um monte de empresas “amigas” do governo que darão “suporte” para a educação.

Um noticiário da Rede Globo sugeriu que a greve seria fruto do interesse de partidos políticos, citando o seu nome e o do PSTU. Como você vê essa questão?
Vera – É mais uma tentativa da mídia de desmoralizar o movimento grevista. E isso porque, todos sabem, a Globo apóia o Sergio Cabral. Nos ignoraram o quanto puderam. Agora, que não podem mais nos ignorar, querem que a população fique contra nós.
Quem viu a entrevista percebeu que os repórteres estavam ensaiados para fazer essa denúncia específica ao PSTU. Isso não é casual. Nosso partido tem participado de muitas lutas no Brasil e no Rio de Janeiro, lutas que colocam governos e empresas contra a parede. Por isso, sempre que puderem, vão nos atacar. Mas quem atua conosco nos sindicatos e nos movimentos sociais conhece a nossa prática, e não se deixa levar pelo que dizem os poderosos.

Quais são as perspectivas da greve?
Vera – Nesse período que seria o nosso recesso escolar, estamos acampados em frente à Secretaria de Educação. No dia 3 de agosto, teremos nossa próxima assembleia que, caso o governo continue não apontando nenhuma proposta, deverá aprovar a continuidade da greve.

Post author Por Patrícia Mafra, do Rio de Janeiro (RJ)
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