Com o debate sobre Venezuela, a Conlutas resgatou uma antiga tradição do movimento sindical que se perdeu nas últimas décadas: a preocupação em fazer com que os trabalhadores discutam temas estratégicos que a ajudem a compreender e a enfrentar as tarefas que tem pela frente para acabar de vez com a exploração capitalista.

Com base no plebiscito da reforma constitucional ocorrido em 2007, três posições foram defendidas. No ano passado, o presidente venezuelano Hugo Chávez não conseguiu aprovar sua nova Constituição que visava acabar com uma série de liberdades democráticas.

Pedro Fuentes, do Movimento Esquerda Socialista (MES-PSOL), defendeu o voto favorável no plebiscito. Apesar de admitir que há um descontentamento das massas, ele diz que “a derrota do ‘sim’ é um triunfo da direita”. Fuentes acredita que “a Venezuela é o país mais democrático da América Latina” e que “não há movimento de massas hoje que possa substituir o governo Chávez”. Ele concluiu que a política dos revolucionários no país é “apoiar os passos progressivos desse governo”.

Defendendo a abstenção no plebiscito, Sílvia Días, da Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST-PSOL) falou sobre a situação do povo venezuelano, que não tem moradia digna e suporta uma crise da saúde pública. Ela acredita que essa situação tenha levado uma parcela importante dos trabalhadores a votar contra o presidente. “Os ricos estão enriquecendo mais e os pobres estão iguais ou piores”.
Ela ressaltou o caráter antidemocrático da reforma e disse que a redução da jornada de trabalho para 6h foi um pretexto para restringir a liberdade dos trabalhadores. “Chávez ataca o direito de greve e a livre organização sindical, não reconhece direções eleitas e disse que é contra-revolucionário defender a autonomia sindical”, constatou.

“Existe processo revolucionário na Venezuela, mas não podemos confundir esse processo com Chávez”, concluiu.

Por último, falou Valério Arcary, do PSTU, defendendo o voto contrário à Constituição. “Se esse projeto não está a serviço da revolução mundial, termina onde? Esse projeto não tem futuro”, disse referindo-se ao “socialismo do século XXI” de Chávez.

Rebatendo os defensores do presidente venezuelano, ele falou que “não se pode julgar os líderes por aquilo que eles dizem de si mesmos”, citando exemplos históricos de “farsas políticas”, como o próprio Lula no Brasil. Para ele, a força da luta dos trabalhadores venezuelanos é o que “faz com que o governo tenha de abraçar o discurso atual”. Ele acredita que se trata de um projeto “reacionário porque desperta esperança e toca os corações da esquerda da América Latina, mas é um projeto nacionalista”.

Polemizando com Fuentes, questionou: “o papel dos trabalhadores é ser o último vagãozinho de um projeto nacionalista-burguês?”. Ele disse que a demissão do sindicalista Orlando Chirino expõe uma lição básica da luta de classes: “se o governo é burguês, estamos contra e, se a maioria da classe operária o apóia, continuaremos contra”.

A Coordenação da Conlutas não votou uma posição sobre o assunto. Foram aprovadas apenas a campanha pela reintegração de Orlando Chirino, dirigente sindical demitido no final de 2007, e moções de apoio aos trabalhadores da siderúrgica Sidor e de repúdio à Exxon pelos ataques que têm feito à Venezuela. O principal objetivo, porém, foi cumprido: abrir o debate sobre um tema que, além de importante, é bastante delicado. Ficaram explícitas as diversas posições políticas de correntes que estão representadas na entidade, dando um belo exemplo de democracia e de aprofundamento de idéias.

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