Não faltava mais nada. O pontificado do papa Bento 16, em cerimônia polêmica, beatificou, no dia 28 de outubro, 498 católicos mortos pelas milícias de esquerda durante a guerra civil espanhola (1936-1939). Entre os novos “santos” estão dois bispos, 24 padres e um grande número de monges e freiras. Eles foram colaboradores do fascista Francisco Franco durante a guerra.

O cardeal português José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para Beatificação e Canonização, presidiu a cerimônia. Ele disse que as beatificações não tratam de valores universais, mas “de um apoio pessoal a Cristo, salvador do cosmo e da História”.

Padres assassinos
A Igreja Católica espanhola apoiou decisivamente a ofensiva do exército fascista de Franco. Muitos padres, bispos e cardeais pegaram em armas contra o governo republicano. O envolvimento de membros do clero com os fascistas fez da revolução espanhola uma das mais anticlericais da história.

Muitas vezes, quando milícias republicanas liberavam algum vilarejo das mãos dos sanguinários de Franco, a população reagia não só com festejos, mas com perseguições às autoridades clericais da cidade, responsáveis pela manutenção da ordem fascista. Muitas delas entregavam simpatizantes do governo republicano e participavam diretamente de suas execuções. Por isso, quando eram presos, os colaboradores do fascismo eram imediatamente fuzilados.

Mais tarde, quando Franco venceu a guerra, mandou executar milhares de republicanos, com a colaboração da Igreja – ainda hoje, são resgatados restos mortais das vítimas nas valas comuns.

Dezenas de parentes de vítimas do regime de Franco criticaram a beatificação. Eles lembraram o apoio dado pela Igreja ao ditador espanhol, que chegou ao poder com a ajuda da Alemanha nazista e a da Itália fascista.

Bento 16, com a maior cara de pau, disse que os beatificados “nos ensinam a atuar incansavelmente pela caridade, a reconciliação e a convivência pacífica”. O que esperar de um papa que, na juventude, fez parte da juventude nazista?