Começam a se avolumar nuvens de chuva no horizonte do governo Lula que podem se transformar em fortes tempestades. A primeira delas é a perspectiva de crise econômica, já anunciada pelo vendaval financeiro que sacudiu o mundo inteiro nas últimas semanas. Lula sabe que uma crise econômica pode mudar todo o panorama político do país: mesmo as migalhas distribuídas com fins eleitoreiros, como o Bolsa Família, estarão seriamente questionadas. Basta lembrar que a última crise econômica (1999-2001) foi a base material para o deslocamento importante da consciência dos trabalhadores e a vitória do próprio Lula nas eleições de 2002. Agora, uma nova crise cíclica aponta no horizonte, talvez já para 2008.

A segunda é a crise política desatada pelo caso Renan. O desgaste do Congresso e, em particular, do Senado, é muito forte entre os trabalhadores e o povo. E, evidentemente, qualquer um pôde perceber a operação do governo Lula para salvar Renan, incluindo o PT e o PCdoB.

O governo paga o preço da coalizão com o PMDB, tendo de bancar Renan Calheiros. Necessita dessa aliança para votar a seu favor em temas impopulares como a CPMF e a reforma da Previdência. Aparentemente, acumulando ainda mais desgaste, Lula está conseguindo que o Congresso vote a prorrogação da CPMF. E a reforma da Previdência?

Começa a surgir uma nova direção
Antes de falar da reforma, vamos a uma terceira e ainda mais importante nuvem de problemas para o governo. Está surgindo uma nova direção para o movimento de massas, a partir da Conlutas. Isso já se evidenciou no primeiro semestre, em que a Conlutas, junto com a Intersindical e setores da igreja, bancaram um encontro nacional, que foi um sucesso com mais de seis mil representantes. Esse encontro votou um plano de lutas, que levou à mobilização de 23 de maio passado, junto com o MST. A CUT e a UNE, entidades pelegas chapas-brancas, tentaram evitar a mobilização ou que ela se chocasse com o governo e foram amplamente derrotadas.

Posteriormente, o acordo entre essas correntes permitiu a realização de um Plebiscito Popular durante a semana da Independência, que perguntou à população o que ela opinava sobre o pagamento das dívidas externa e interna aos banqueiros, a privatização da Vale do Rio Doce, as altas tarifas de energia elétrica e a reforma da Previdência. Sem qualquer apoio do Estado, o plebiscito recolheu cerca de 4 milhões de votos. Os dados seguem sendo apurados e ainda não temos os resultados completos.

Mas duas conclusões já podem ser tiradas. A primeira é que, apesar de todas as dificuldades, o plebiscito foi positivo porque permitiu um esclarecimento das bases para a continuidade da campanha. Conseguir esses milhões de votos que, objetivamente, são contra a política do governo é uma importante vitória.

A segunda conclusão é que, mais uma vez, a CUT e a UNE foram derrotadas, porque queriam evitar o enfrentamento com o governo. Por isso tentaram reduzir o plebiscito a apenas uma pergunta, sobre a Vale (porque foi privatizada no governo FHC). Os resultados preliminares indicam que prevaleceu amplamente o plebiscito com as quatro perguntas e que tanto a CUT quanto a UNE tiveram um peso muito pequeno na coleta dos votos.

É possível derrotar a reforma
Agora, voltemos à questão da reforma da Previdência. O governo está vacilando em relação a que fazer com a reforma. Lula fez esse compromisso com a burguesia em sua campanha para a reeleição. A proximidade de uma crise econômica reforça ainda mais a necessidade da reforma para a burguesia e para Lula. Essa é a forma clássica deles resolverem as crises econômicas, jogando seu peso sobre as costas dos trabalhadores.

No entanto, existe a crise política. O mesmo Congresso, ultraquestionado pelo episódio Renan, é o que vai ter de votar a reforma. A questão da CPMF já está passando com inúmeros problemas. O que pode acontecer com uma reforma que ataca os direitos dos trabalhadores?

O governo teria de apresentar seu projeto para este final de setembro, segundo o seu próprio cronograma já várias vezes anunciado. Os prazos estão vencendo e até agora nada do projeto.

Por outro lado, uma grande marcha sobre Brasília está sendo articulada por Conlutas, Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados), Grito dos Excluídos e Intersindical. Esta marcha pode ter um peso muito importante sobre essa realidade. Caso se consiga realizar uma grande marcha, será possível deflagrar um movimento que pode incidir seriamente nessa crise política.

Caso o governo não consiga apresentar seu projeto de reforma este ano e seja obrigado a adiá-la para o ano que vem, enfrentará a dificuldade superior de um ano eleitoral para impor uma reforma impopular.

Está colocada a possibilidade de adiar ou mesmo derrotar a proposta de reforma do governo. Aproveitar a crise política para uma campanha de importância que toque a consciência dos trabalhadores pode decidir uma vitória ou uma derrota do movimento. A marcha sobre Brasília pode deflagrar o início de uma grande campanha que tenha este efeito.

É hora de agir e preparar a marcha de 24 de outubro a Brasília!
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 316
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