A mineradora Vale foi obrigada a recuar das demissões massivas que pretendia realizar. Uma matéria do jornal Folha de S. Paulo de 14 de abril falava sobre a possibilidade de demissão de 17 mil trabalhadores, após o término do acordo de licença-remunerada. Em reuniões iniciais com os sindicatos, a empresa chegou a anunciar a intenção de cortar gastos e demitir. Mas recuou.

No dia 30 de abril, pela imprensa, a Vale informou oficialmente a demissão de 250 a 300 trabalhadores, confirmando o que havia dito aos sindicalistas em seu último encontro, isto é, que não haveria demissão em massa.

Vitória parcial
De acordo com Valério Vieira, presidente do sindicato Metabase de Congonhas (MG), os representantes da Vale disseram que não demitiriam em massa. “Mas eles disseram que, se a crise se mantiver e se aprofundar, as demissões em massa ocorrerão”, disse Valério.

Na avaliação do sindicalista, o recuo temporário foi também resultado das iniciativas e da preparação de mobilização realizadas pelos sindicatos. Desde o início da crise econômica mundial, a Vale demitiu cerca de 2 mil trabalhadores diretos e 12 mil terceirizados de um total de 120 mil trabalhadores em todo o mundo, sendo a metade terceirizada.

Para impedir mais demissões, os sindicatos dos trabalhadores da Vale das cidades de Itabira e Congonhas realizaram uma série de mobilizações e articulações que envolveram comunidades, partidos e entidades do movimento popular, bispos da Igreja Católica, pastores, parlamentares e reuniões com o governo de Minas Gerais, cujo ponto culminante foi o ato de 8 de janeiro, realizado em Itabira, berço da Vale. O protesto reuniu 2 mil pessoas. Outro ato importante, em unidade com a arquidiocese de Mariana, foi a romaria que reuniu cerca de 3 mil participantes cujo lema era: “mineração, as riquezas vão e a pobreza fica”.

No dia 26 de maio, aconteceu uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, com vários deputados, a Secretaria de Desenvolvimento do estado e personalidades. Os sindicatos apresentaram um dossiê sobre a verdadeira situação da Vale, demonstrando que ela não necessita nem demitir, nem cortar investimentos. Dessa audiência se levará a questão ao governo do estado, ao Congresso Nacional e à Presidência da República.

A resposta e a ação dos sindicatos foram determinantes para o recuo da mineradora e servem de modelo diante dos ataques da patronal. A própria empresa foi obrigada a reconhecer que essas iniciativas atrapalharam seus planos. “A Vale disse claramente que a atuação dos dois sindicatos, o Metabase de Congonhas e o de Itabira, foi o que a levou a recuar temporariamente das demissões”, relatou Valério.

Papel lamentável da CUT
Os sindicatos ligados à CUT fizeram uma reunião com a cúpula de recursos humanos da Vale e, estranhamente, propuseram que esta mantivesse o acordo de licença remunerada dos trabalhadores (só que reduzindo em 30% o salário e não em 50%, como foi implementado nos últimos meses). A empresa recusou, sabendo que essa licença criaria um enorme passivo trabalhista para os próximos anos.

“Exigimos que estes dirigentes abandonem os acordos com a direção da empresa e trilhem, junto conosco, o caminho da luta em defesa do emprego e do salário, assim como da luta pela reestatização da empresa,” disse Valério.

A luta continua: as iniciativas dos sindicatos
“Se queres a paz, prepara-te para a guerra”, diz um antigo ditado. A crise não vai acabar nos próximos meses. Todas as informações no mundo e no Brasil indicam que vai durar vários anos. O aumento circunstancial das compras de minério de ferro por parte da China não se sustentará, pois a maioria dessas importações não vai para o mercado interno e sim para fabricar produtos e exportá-los para EUA, Europa e Japão, que estão no fundo do poço.

Dentro de pouco tempo, os trabalhadores estarão novamente com a faca no pescoço. Por isso, os dois sindicatos pretendem aproveitar essa pequena trégua para preparar a guerra contra as pretensões da empresa de jogar a crise nas costas dos seus trabalhadores e nos municípios mineradores.

As iniciativas começam com uma ampla campanha de esclarecimento à população e aos trabalhadores, conclamando a unidade para barrar os planos da Vale. Para isso, usará filmes, boletins, carros de som, programas de rádio, etc.

A campanha inicia com uma carta aberta ao presidente Lula, ao governador Aécio Neves e ao presidente da Vale, Roger Agnelli, no aniversário de 67 anos da empresa, exigindo a estabilidade no emprego e que os acionistas paguem pela crise. A carta exige de Lula que utilize seu poder de veto na mineradora, impeça o fechamento de minas e reestatize a empresa. No dia 1º de junho, os sindicatos distribuíram essa carta aos trabalhadores e à população.

Um dossiê está sendo entregue a parlamentares, personalidades e dirigentes comunitários, sindicais e políticos, com informações reais sobre a Vale. Audiências públicas estão sendo promovidas na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados.
Como parte da iniciativa da Conlutas, um abaixo-assinado vai passar pelas cidades mineradoras, com pontos específicos sobre a Vale. O documento é dirigido ao presidente da República e ao governador mineiro e será entregue em breve.

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