Dirigente da Conlutas leva seu apoio à greve dos trabalhadores da Vale no Canadá. Confira o relato de sua experiênciaNo último dia 23 de outubro, ao chegar ao Goose Bay, uma pequena cidade no Nordeste do Canadá do lado do Atlântico encontrei no piquete dos trabalhadores mineiros da Vale Inço, em greve há quase 4 meses um jovem esquimó carregando um cartaz dizendo Vale Go Home, Canadá is not Brazil (Vale vá pra casa, o Canadá não é o Brasil).

A primeira reação do jovem ao saber que eu era brasileiro viajando a convite da USW (United Steel Workers, sindicato onde os trabalhadores em greve se organizam) foi de embaraço e tentar esconder o cartaz. Tive que dizer imediatamente que ele tinha toda razão em carregar aquele cartaz e que se ele quisesse poderia também carregá-lo.

Tanto este trabalhador como seus companheiros de Goose Bay (bem como de Sudburry e Portcolborne, outras duas localidades do Canadá) se encontram em greve contra os ataques da Vale às suas aposentadorias e conquistas históricas desde final de junho passado.

Nos dois dias de atividades da greve onde pude participar representando os companheiros da Vale do Rio Doce dos Sindicatos de Itabira e Congonhas e a Conlutas, pudemos estreitar relações e discutir o papel da Vale.

Disse que a Vale não é mais uma empresa “brasileira”. Desde sua privatização, verdadeiro assalto promovido contra o povo brasileiro e suas riquezas naturais, a Vale se tornou uma multinacional com sócios como o Citibank, HSBC, JP Morgan, Barclays, Morgan Stanley entre outros. Hoje, de acordo com o próprio balanço da empresa, no mínimo 61 % das ações da Vale se encontram em mãos de “investidores estrangeiros”.

Na conversa com eles, ficou claro que defender a greve dos companheiros canadenses contra os ataques da Vale é defender também nossos direitos. Mesmo com a diferença de salários e direitos existentes entre Canadá e Brasil, temos que lutar para não diminuir os salários e direitos de nenhum trabalhador em nenhum lugar do mundo. O que temos de fazer é lutar juntos para disputar os bilhões que são distribuídos aos acionistas majoritários, como a família Rockfeller dona do JP Morgan.

Eles são afetados duplamente, como trabalhadores e como povos originários que vêem suas comunidades serem atacadas pela ação nefasta da Vale degradando e destruindo a natureza, e afetando as populações em sua saúde, cultura e costumes.

Assim tem sido a reação das comunidades atingidas pela Vale no Pará, em Minas Gerais, na Nova Caledônia, Moçambique e em outros 20 países onde a Vale opera em todo o mundo.

Ao final dos dois dias, tivemos a clareza que a “casa da Vale” não é o Brasil. Os nosso inimigos são os capitalistas que detém ações da Vale independente de sua origem canadense, estadunidense ou brasileira. E que nós como trabalhadores somos irmãos de classe e temos que lutar juntos em defesa de nossos direitos, independente de nossas nacionalidades, contra os que nos exploram.

Por isso temos o compromisso de seguir na campanha internacional de solidariedade à greve dos trabalhadores da Vale Inco para garantir sua vitória. E que junto com essa campanha devemos buscar construir um Encontro Internacional dos Trabalhadores da Vale e das comunidades afetadas pela ganância e exploração da empresa.

Post author Dirceu Travesso, da Conlutas
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