Não é só no Brasil que a mineradora Vale (ex-Vale do Rio Doce) ataca os trabalhadores. A empresa, privatizada no governo de FHC, atua como qualquer multinacional, explorando mão de obra e saqueando recursos naturais em todo o mundo. No Canadá, a empresa comprou em 2006 a mineradora Inco, e passou a atuar sob o nome Vale Inco. Agora, ao negociar o acordo coletivo, tenta um grande ataque contra os direitos.

Em resposta, trabalhadores da Vale Inco estão parados desde 13 de julho. Cerca de 3.500 mineiros cruzaram os braços nas comunidades de Sudbury e Port Colborne, na província (estado) de Ontário, e Voisey’s Bay, no oeste do país. Juntas, as minas produzem 31% de todo o níquel da Vale.

A proposta da empresa foi rejeitada por 85% dos filiados ao sindicato USW (United Steel Workers), pois contêm diversos ataques a direitos, como o abono do níquel, o plano de pensões, o fim da reposição automática da inflação e a terceirização (quadro abaixo).

A multinacional que ostenta as cores brasileiras busca uma reestruturação estratégica na sua empresa do Canadá. Por isso, sua postura tem sido tão intransigente. Quer aproveitar a crise econômica para cortar custos, reduzindo direitos.

São ataques muito violentos e, caso a Vale consiga implementá-los, poderá significar uma derrota histórica dos mineiros canadenses, rebaixando seus direitos e salários a níveis praticados em outros países muito menos desenvolvidos.

Todo apoio à greve
Por isso, é uma tarefa urgente dos trabalhadores brasileiros, em especial os da Vale, apoiar ativamente a greve dos mineiros canadenses. A Conlutas e seus sindicatos de mineração já enviaram cartas de apoio, publicadas no site da greve.

Além disso, uma delegação estará no Brasil entre 11 e 19 de agosto, divulgando a greve e conhecendo os sindicatos da Vale daqui. Além dos ligados à CUT, os canadenses também visitarão os sindicatos ligados à Conlutas, como os de Itabira e Congonhas, em Minas Gerais. Essa será uma oportunidade única para estreitar laços de solidariedade e fortalecer essa greve que, caso seja vitoriosa, se transformará num exemplo a ser seguido em todo o mundo.

Como é atualmente

ABONO DO NÍQUEL
O sistema é uma forma de participação no lucro parecida com a PLR, usada por aqui ao final de cada ano. Os patrões vinculam o pagamento ao desempenho da empresa. Assim, quando o preço do níquel está alto, os trabalhadores recebem um percentual. Quando o preço está baixo, não se paga nada.

O que a Vale quer
A Vale quer elevar o valor mínimo para acionar o sistema de abono. Hoje, os trabalhadores recebem sempre que o valor do níquel passe os 2,25 dólares canadenses. A Vale quer que isso ocorra somente quando o níquel supere 5 dólares canadenses. E quer impor um teto para a quantia, limitando significativamente os futuros abonos.

APOSENTADOS
Há um só nível de aposentadoria para todos os funcionários. Todos se aposentam na forma de benefício definido.

O que a Vale quer
Cria dois níveis. Antigos funcionários continuariam com benefício definido e os novos passariam a receber na forma de contribuição definida, perdendo benefícios.

GATILHO SALARIAL
Os mineiros da Inco possuem um tipo de “gatilho” que reajusta o salário automaticamente sempre que a inflação ultrapassa um determinado índice.

O que a Vale quer
Propõe cortes no sistema para que o reajuste não seja incorporado aos salários. O salário seria congelado e reajustes não contariam, por exemplo, para a aposentadoria.

TRABALHO TERCEIRIZADO
Há utilização de mão de obra terceirizada nas minas, mas limitada por
algumas regras.

O que a Vale quer
Quer que terceirizados possam operar empilhadeiras, guindastes e dirigir caminhões, o que hoje não é permitido.
Post author Igor Garcia, de Belo Horizonte (MG)
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