A medida da Vale reflete uma crise no principal setor da economia nacional, que sustentou o crescimento do país nos últimos anos. A empresa privatizada lucrou como nunca com os altos preços das commodities (matéria prima de exportação) e o aumento da procura por minérios, principalmente pela China. Com o desaquecimento da economia norte-americana e a redução da busca pelos produtos fabricados na China, o que de fato move a economia do país oriental, reduziu-se também a demanda por matérias-primas.

A Vale vai reduzir sua produção em 30 milhões de toneladas de minério de ferro, o equivalente a 10% do total produzido. Com isso, deixa de lucrar US$ 350 milhões por mês, ou US$ 4,2 bilhões ao ano. A redução das atividades ocorre em quatro minas de ferro em Minas Gerais e em uma unidade de extração de alumínio no Rio. As férias coletivas devem durar de 15 a 20 dias.

Mas a crise não afeta apenas o resultado da empresa. Só a Vale responde pela maior parte do resultado da balança comercial brasileira. De janeiro a setembro, as exportações da empresa representaram 62% de todas as exportações realizadas pelo país. Enquanto a Vale exportou R$ 12 bilhões nesse período, o superávit da balança comercial brasileira ficou em R$ 19 bilhões.
Isso confirma a tendência de inversão do resultado da balança comercial. Até 2007, o Brasil teve superávit crescente por oito anos seguidos. Para 2008, a expectativa é de nova redução no superávit, para metade do que foi em 2007 e, finalmente, déficit em 2009.

Um dos principais argumentos do governo em sua tese de que o país não seria afetado pela crise era o fato de o Brasil não ter os EUA como principal destino das exportações. Ocorre que esse papel foi passado a países como México e, principalmente para a China, cuja produção depende diretamente da economia norte-americana. Ou seja, o crescimento do Brasil nos últimos anos esteve à mercê das necessidades do império e, com a sua derrocada, sentirá as conseqüências.

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