A resistência e a recuperação do carnaval de rua no Rio de JaneiroNos anos 1990, o carnaval carioca estava reduzido às escolas de samba do grupo especial, que desfilam na Sapucaí para turista ver.

Os blocos de rua, onde a população pode brincar sem custo, estavam abandonados e sem prestígios. Com as cores preta, branca e vermelha representando a defesa da cultura do índio brasileiro, o Cacique resistia, alegrando o povo no carnaval de rua.
Hoje o carnaval de Rua foi resgatado reunindo milhares nas ruas. O Cacique é parte disso. Com muita justiça e sinal de reconhecimento, no ano passado o Cacique de Ramos recebeu a Medalha Tiradentes na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e neste ano será enredo da Estação Primeira de Mangueira. O Cacique de Ramos não é o maior nem o mais badalado bloco do carnaval, mas continua uma referência para quem gosta de samba. “Este ano eu não vou marcar bobeira. Vou caciquear. Só vou parar na quarta-feira”

Um capítulo a parte do carnaval do Rio
Em 20 de janeiro de 1961, em Olaria, bairro da Zona Norte do Rio, três famílias se reuniram e fundaram o Cacique de Ramos. Quando as famílias Nascimento, Oliveira e Espírito Santo se encontraram para criar o Cacique não imaginavam que ali surgiria um dos símbolos da cultura carioca. O bloco chegou a desfilar com dez mil índios e se transformou num fenômeno do carnaval.

Mais que um bloco, o Cacique de Ramos se tornou um celeiro de bambas, e ao longo dos anos virou sinônimo de resistência do samba de raiz e do carnaval de rua que vinha desaparecendo na cidade.

Como toda a cultura popular, o bloco é cercado de história e lendas que refletem crenças populares. Uma das histórias mais curiosas envolve Dona Conceição, mãe do Bira, o presidente do bloco. Adepta do candomblé que benzeu a famosa tamarineira, árvore que se encontra na quadra do Cacique, decretou que quem passasse por ali ficaria famoso.

A disputa com Bafo da Onça
Nos primeiro anos, o Cacique desfilava pelo subúrbio do Rio, indo para Avenida Presidente Vargas apenas na década de 1970. Nesse período, começou a disputa com o Bafo da Onça, tradicional bloco do bairro do Catumbi, dando início a uma das maiores rivalidades do carnaval carioca. O Bafo era um dos gigantes da cidade. Empurra-empurra e confusões marcaram essa rivalidade durante muito tempo. Bira, presidente da Cacique, percebeu que a rivalidade deveria ser sadia e não uma guerra. Resolveu, então, fazer uma visita ao ensaio do Bafo. Chegando lá, conversou com Tião Maria, presidente do bloco rival, o parabenizou e disse que o Bafo sempre foi um exemplo para o Cacique. Acabou com as confusões e, assim, mudou o rumo da história.

Celeiro de Bambas
As rodas de samba realizadas na quadra do Cacique sempre reuniram grandes compositores, cantores e personalidades do samba. Muitos se tornaram celebridades da música popular brasileira, como Almir Guineto, Luis Carlos da Vila, Leci Brandão, Arlindo Cruz, Sombrinha, Jovelina Pérola Negra, o Grupo Fundo de Quintal, dentre outros. O pagode ficou tão famoso que Beth Carvalho passou a frequentar e se tornou madrinha do Bloco e do grupo Fundo de Quintal, hoje o maior grupo de samba do Brasil.