Confira o relato de Toninho Ferreira, da Conlutas, que esteve neste 1º de maio em Montevidéu, no Uruguai, participando do ato organizado pela Tendência Classista e Combativa (TCC), uma das organizações convocantes do Encontro Latino-Americano e Caribenho
No Uruguai o 1º de maio tem uma tradição impressionante. Neste dia Montevidéu encontra se completamente parada. O transporte público não funciona deste às 19h do dia 30 de abril. Somente alguns táxis, raramente cortam as avenidas. Não há um comércio aberto, nem posto de gasolina. Muitas vezes os comércios que ocasionalmente abrem, podem (e geralmente) levam calotes. A população compra tudo, ou mais do que precisa na véspera. Ontem a noite foi comum nos bairros encontrar pessoas com sacolas de comida para passar o dia, pois sabem que nada pode funcionar no 1° de maio. O PIT-CNT, a central sindical daqui, é extremamente burocrática e governista.

A entidade participa do governo de Tabaré Vasquez (Frente Ampla) aplicando os planos de reformas neoliberais. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência. Inclusive, o atual governo uruguaio (supostamente de ‘esquerda´), mantém um contingente de mais de mil militares no Haiti que, ao lado dos soldados brasileiros, oprimem seu povo.

Um ato combativo
Contudo, os lutadores daqui, como no Brasil, também fizeram seu ato classista e combativo. Ao meio dia começou o ato convocado pela Tendência Classista e Combativa (TCC), reunindo por volta de 700 pessoas, o que é bastante representativo para uma cidade de pouco mais de um milhão meio de habitantes.

Representativo principalmente pela força expressada no ato. Tanto nos pronunciamentos dos oradores, como na participação ativa dos trabalhadores. Presentes estavam aqueles que no momento lutam no Uruguai, como os representantes dos trabalhadores municipais de Montevidéu, que protagonizam um enfrentamento com o governo municipal da Frente Ampla. Como no governo nacional, o municipal também é composto de antigos ‘companheiros’.

Presentes também estavam os professores estaduais que fazem uma greve. Esta combativa categoria conquistou um grande triunfo: fizeram a velha e burocrática direção do sindicato renunciar. Quem dirige a greve agora é um comitê de base. Mas como toda burocracia que se preza, esta renunciou, mas mantém o controle das finanças, dificultando a luta.

Todos os sindicatos combativos estavam representados neste ato. Marcaram presença também figuras lendárias de resistência uruguaia. O ato foi encerrado sob o canto da internacional socialista.

Neste momento, chegaram ao local marchando e também cantando a internacional, a Coluna Cerro Teja, que vem de um combativo bairro do mesmo nome. Caminhando 11 km até o centro da cidade. Este bairro operário ficou conhecido na história com sua fenomenal resistência a ditadura. A coluna chegou com cerca de 1.300 pessoas,

Em seguida, marchamos juntos até a Praça do Palácio do governo onde se realizava o ato oficial, gritando palavras de ordem contra a burocracia, contra os patrões e o governo, contra o imperialismo e pela retirada das tropas do Uruguai do Haiti.

A burocracia oficial, apesar de montar um grande aparato, com transporte próprio, fazendo muita polêmica através dos meios de comunicação, contra o ato classista, reuniu por volta de 6 mil pessoas.

O que chamou atenção neste evento, além dos oradores defenderem a política governamental, foi o fato de que em frente ao palanque – cercado por uma grade alta – ficavam os representantes do governo, de câmaras patronais e convidados dos burocratas.

Está próximo o dia em que esta e outras cercas cairão. Os manifestantes classistas que realizaram o ato combativo voltaram para casa caminhando, com o ânimo revigorado. Os lutadores, porém, tem um novo encontro marcado: a presença no ELAC nos dias 7 e 8 de julho no Brasil. Será no encontro que vamos fortalecer nossos laços para iniciarmos lutas ainda mais contundentes.

FONTE: www.elac.org.br