Depois das gigantescas passeatas de junho e do ensaio de greve geral de 11 de julho, o mês de agosto promete dar continuidade ao novo momento que vive o país

A imprensa e o governo estão mostrando a realidade atual como uma “volta à normalidade”, porque já não se vêm mobilizações do porte das de junho. É apenas mais uma tentativa de fazer parecer que a situação retrocedeu para aquela o que havia antes.
No entanto, houve uma mudança na situação do país, acabando com a estabilidade política que existia. Mudou a relação de forças na sociedade. Antes de junho, as classes dominantes reinavam tranquilas. Agora, existe uma ofensiva das massas e uma postura defensiva dos governos e das grandes empresas.
Isso pode ser comprovado com facilidade. Algumas centenas de pessoas ocupam Câmaras de Vereadores e a polícia não se anima a reprimir. Um pequeno grupo pode parar a Avenida Paulista – o santuário do Capital financeiro – a qualquer momento. Isso ocorre porque existe um grande apoio da população às mobilizações. Uma repressão poderia desencadear lutas muito maiores.
Hoje, as manifestações não têm a característica de antes, com as passeatas unificadas. Mas têm a radicalidade do momento atual, ainda assustando os governos, o que lhes dá muito mais possibilidades de vitórias do que antes de junho. Este é o momento em que os movimentos sociais devem ir à luta para conseguir que suas reivindicações sejam vitoriosas.
Muitas dessas lutas já estão em curso, algumas se iniciam. No Rio, o “Fora Cabral” reúne distintos setores e pode se massificar. Os estudantes retomam as aulas e continuarão a luta pelo passe-livre. Novas Câmaras de vereadores podem ser ocupadas. Os trabalhadores, em suas distintas categorias, estão preparando campanhas salariais.
As centrais sindicais chamaram um novo Dia Nacional de Paralisações, para dia 30 de agosto, que pode unificar todas essas mobilizações. Podemos ter mais greves que no dia 11 de julho, com a incorporação das campanhas salariais, junto com grandes mobilizações da juventude pelo passe-livre e tantas outras reivindicações. Agosto pode ser uma combinação de junho e de julho.
 
A crise de Dilma
O governo Dilma Rousseff (PT) foi desgastado pelas mobilizações de junho e não se recuperou. Apesar da política da CUT e do PT, as últimas pesquisas indicam que já existe uma desaprovação majoritária ao governo.
Isso se estende aos governos municipais e estaduais. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), é o recordista de impopularidade, com 12% de aprovação. Fernando Haddad (PT), prefeito de São Paulo, tem o apoio de apenas 18% do povo. Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, tem 26%. Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, só 25%.
A grande burguesia aceitava e apoiava o PT no governo porque este garantia a estabilidade econômica e política do país e os altíssimos lucros deles. O PT continua garantindo os lucros, mas não a estabilidade. Por isso, começa a haver divisões entre a burguesia. Dilma começou a enfrentar oposição das grandes empresas, embora ainda tenha um grande apoio desses setores. A imprensa começou a ser mais hostil com Dilma e a base governista no Congresso está em rebelião aberta.
Dilma reage à divisão da burguesia fazendo mais concessões ao Capital financeiro. Retomou a alta da taxa de juros, reiterou a meta de superávit primário, de 2,3%, com consequente corte de gastos públicos. Isso se choca com as promessas de concessões ao movimento de massas, como mais verbas para gastos sociais.
A resposta do governo perante as mobilizações aumentou a crise. A primeira proposta de Constituinte foi detonada em apenas um dia. A segunda, do plebiscito, acabou também derrotada pela base governista no Congresso. A política social mais importante – o plano para a saúde – é contestada abertamente pelas entidades médicas, com passeatas e greves nas ruas. Pode ser que acabe também em derrota do governo. Não existe uma resposta política clara perante a crise aberta em junho.
 

Elementos de crise na democracia dos ricos

A ofensiva das massas se chocou com as instituições da democracia burguesa. Não se visualiza, no entanto, uma alternativa mais avançada a elas. A democracia dos ricos não representa o clamor das ruas.
Porém se expressa, no Brasil, uma das consequências da restauração do capitalismo no Leste europeu, com o retrocesso da consciência dos trabalhadores e da juventude. A atual inexistência de sociedades não-capitalistas e a ação das direções reformistas levam a um horizonte estratégico limitado às democracias. Mesmo quando se questiona a democracia burguesa, não consegue se enxergar alternativa a ela. Embora exista um enorme repúdio aos partidos, ao Congresso, aos “políticos” etc., ainda se reivindica apenas a radicalização da democracia.
 

A ruptura com a CUT e o PT

A reorganização mais importante do movimento de massas desde o fim da ditadura militar foi a provocada pelo grande ascenso operário da década de 1980, que gerou a CUT e o PT. Foi um processo apoiado nas grandes lutas do proletariado brasileiro e gerou um dos maiores partidos operários de todo o mundo, levando Lula ao governo, em 2002.
Hoje, no entanto, o PT e a CUT se transformaram no maior freio do movimento de massas já visto na história desse país. Desviaram grandes mobilizações políticas, como o “Fora Collor” (que terminou na posse do vice Itamar) e o “Fora FHC e FMI”, canalizado para a eleição de Lula.
Com Lula e Dilma no poder, o PT e a CUT convenceram, por dez anos, os trabalhadores a esperar pequenas concessões, enquanto asseguravam gigantescos lucros para as multinacionais. Agora, isso está em crise.
As mobilizações de junho aconteceram sem os aparatos, em particular da CUT e do PT. A CUT não pode evitar a greve do dia 11 de julho, nem que essa mobilização se chocasse com o governo Dilma. A ofensiva das massas vai destruindo a hegemonia de 30 anos do PT e da CUT entre os trabalhadores. Não está completa essa ruptura, mas se iniciou um processo histórico.
Esse processo também está em curso na juventude trabalhadora. Não parece haver, ainda, uma ruptura majoritária com o governo Dilma nem com o PT na classe operária, mas, aparentemente, existe uma forte crise com o governo, dentro de um amplo setor. Uma alternativa também não se viabilizou, ainda, por causa do medo da direita. Pode ser que essa crise avance até uma ruptura, ou pode ser que haja uma recomposição do governo. Isso poderia ocorrer caso vingasse o projeto “Lula em 2014”.
Caso acabe a hegemonia reformista do PT e da CUT, existe a possibilidade de massificação de alternativas, como a CSP-Conlutas e a ANEL.
 

Construir o dia 30 de agosto pela base

O Dia Nacional de Paralisações e Manifestações convocado pelas centrais sindicais, no dia 11 de julho, marcou de forma contundente a entrada da classe trabalhadora, com suas organizações e métodos de luta, na onda de protestos que varreu o país. Apesar do esforço de grande parte da imprensa em dizer que a greve nacional foi um fracasso, o fato é que a jornada de luta foi a maior onda de greves nacionais desde a década de 1980, parando grandes centros industriais, refinarias e portos, por reivindicações como a redução da jornada e o reajuste nos salários.
Dando continuidade ao processo de mobilização, as Centrais definiram o dia 30 de agosto como um novo dia de mobilizações, com paralisações em todo o país. A CSPConlutas propôs que esse dia fosse convocado como um dia de greve geral pelo atendimento das reivindicações dos trabalhadores. As outras Centrais, contudo, não aceitaram. De qualquer forma, a convocação do dia 30 já é uma vitória, pois marca uma continuidade da luta.
Antes disso, no próximo dia 6 de agosto, ocorrerão manifestações contra o PL-4330, Projeto de Lei do deputado Sandro Mabel (PR-GO), que amplia as terceirizações. Em alguns estados, vão ocorrer manifestações unitárias em frente às entidades patronais, como na Fiesp, em São Paulo.
Nada está garantido, porém. No dia 11 de julho, a CUT e outros setores alinhados ao governo tiveram como política o apoio ao plebiscito sobre a reforma política, numa clara tentativa de desviar o foco das mobilizações para apoiar o governo. Mas foram derrotados e não conseguiram impor essa orientação. Contudo, a disputa continua.
O MST, por exemplo, está convocando uma plenária nacional de movimentos populares para o dia 5 de agosto. O objetivo é articular os setores que compõem a base de apoio ao governo Dilma no movimento (CUT, UNE, Ubes etc.) para impulsionar a proposta de plebiscito sobre a reforma política. A intenção é fazer parecer que essa é uma proposta do movimento, quando, na verdade, é uma política do governo para acabar com os protestos e a insatisfação popular. Da mesma forma, em alguns lugares, existe a iniciativa da CUT de utilizar o dia 6 para esvaziar e desarticular o dia 30.
 
Disputa
A verdade é que as direções das entidades pelegas e governistas estão sendo obrigadas a convocar as mobilizações pela pressão das bases nessa conjuntura de ascenso. Mas isso não muda o caráter dessas entidades. Vão tentar de tudo para desviar as manifestações e impedir que cresçam a ponto de colocar em xeque a atual política econômica do governo.
Isso significa que, para garantir a própria existência do dia 30 de agosto e a manutenção de seu caráter e das reivindicações, será necessária uma forte convocação na base das entidades sindicais, estudantis e dos movimentos sociais e populares. Ou seja, será preciso construir na base as paralisações e protestos.
Da mesma forma, será necessário unir, ainda mais, as mobilizações da classe trabalhadora com o ascenso desatado em junho, que tem a juventude como principal força propulsora. Para isso, os novos organismos surgidos no calor dos protestos – como o Fórum de Lutas, do Rio; o Bloco de Lutas, de Porto Alegre; a Assembleia Popular Horizontal, de BH; o Mais Pão, Menos Circo, de Fortaleza e outros – têm um papel determinante. É fundamental que os ativistas e entidades envolvidos na construção desses organismos votem a sua participação no dia 30, unificando o dia de paralisações às lutas que já vêm ocorrendo, como o “Fora Cabral”, no Rio, e as ocupações das câmaras municipais e prefeituras.
 

Derrotar a política econômica de Dilma

A CSP-Conlutas está a serviço de impulsionar as lutas pela base e conferir um caráter explicitamente antigovernista às mobilizações. Daí, a importância do seminário ocorrido nos dias 17 e 18 de julho, em Porto Alegre, que reuniu, além da Central, setores como “CUT Pode Mais”, Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA). Fortaleceu-se um campo antigovernista e independente para intervir nesse processo.
 
Um programa dos trabalhadores
– Chega de dinheiro para as grandes empresas! Dilma, rompa com os banqueiros! Por um plano econômico a serviço dos trabalhadores e da juventude!
– Nenhum dinheiro para os bancos! 10% PIB para a educação pública! 10% do orçamento para saúde pública! 2% PIB para transporte público!
– Aumentos salariais já! Redução e congelamento dos preços dos alimentos e tarifas!
– Fim dos leilões do petróleo! Petrobras 100% estatal! Reestatização das empresas privatizadas!
– Greve geral para impor um plano econômico a serviço dos trabalhadores e da juventude!
– Passe livre para todos os estudantes e desempregados! Estatização dos transportes e tarifa-zero!
– Salário dos parlamentares igual ao dos professores! Prisão e expropriação dos bens dos corruptos e corruptores! Revogabilidade dos mandatos!
– Nenhum dinheiro a mais para as grandes empresas! Recursos públicos para os serviços públicos e valorização dos servidores!
– Desmilitarização das Polícias Militares! Fim da repressão e infiltração policial nos movimentos!
– Contra a opressão a mulheres, negros e homossexuais! Fora Feliciano! Salário igual para trabalho igual! Contra a violência às mulheres! Criminalização da homofobia! Abaixo o genocídio dos negros nos bairros pobres de periferia!
– Nem direita nem PT: trabalhadores no poder!
 

 

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