Estamos no fim do primeiro mandato de Lula. Este governo está a serviço do grande capital, mas tem a cara da maior liderança da história do movimento operário do país. Lula aplicou um plano neoliberal, tornou a CUT uma central chapa branca, e o PT hoje é um partido de corruptos. Mas o governo sustenta-se sobre o crescimento da economia – por isso, tem o apoio de uma parcela majoritária dos trabalhadores e deve ser reeleito.

Desde o ângulo das lutas dos trabalhadores, o balanço final destes quatro anos só poderá ser feito respondendo à pergunta: em que medida foi possível construir uma alternativa de esquerda à falência da CUT e do PT?

São muitas as chances de que estejamos no rumo certo: em termos eleitorais há uma Frente de Esquerda, que agrupa PSOL, PSTU e PCB ao redor de Heloísa Helena. Esta candidatura está rompendo a falsa polarização entre PT e PSDB-PFL nestas eleições. Já existe uma alternativa eleitoral, que superou a barreira dos 10% das intenções de voto nas pesquisas e segue crescendo, como oposição de esquerda ao governo Lula.

No terreno da organização das lutas diretas das massas (sindicais, estudantis e populares) surgiu a Conlutas, que dirigiu as maiores mobilizações nacionais contra o governo em 2004 e 2005, com marchas à Brasília contra as reformas e a corrupção.

A Conlutas reuniu em um congresso histórico cerca de três mil delegados eleitos pela base para formar uma nova entidade, alternativa à CUT. Está à frente da luta contra a reforma trabalhista e a nova reforma da Previdência. Em sua última reunião (ver páginas 6 e 7), decidiu buscar a unificação das campanhas salariais de setembro, a partir de importantes categorias como petroleiros, bancários e funcionalismo público.

Segue a polêmica:CUT ou Conlutas
Apesar disso, um setor do PSOL é contra a Conlutas e tenta formar uma articulação de sindicatos, a Intersindical. Como se sabe, o PSOL está dividido nessa questão, porque um outro setor deste partido (em particular os previdenciários do Rio de Janeiro, os gráficos de Minas Gerais e os químicos do Vale do Paraíba) já está integrado à Conlutas.

Achamos que, da mesma maneira como conseguimos unificar uma alternativa eleitoral ao redor da candidatura de Heloísa Helena, deveríamos alcançar a unidade no terreno das lutas diretas com a Conlutas.

Vários argumentos são utilizados por esses companheiros do PSOL para justificar sua recusa à Conlutas. O primeiro é que a Intersindical agrupa dirigentes sindicais que romperam e outros que não romperam com a CUT. Não deixar a CUT foi justificado nos últimos dois anos por estes ativistas com o argumento de que era possível disputar sua direção. Todo tipo de plano foi feito por parte da “esquerda da CUT” para manter sua base na central governista, sempre com a perspectiva de ganhar ou avançar de forma significativa nos congressos e no aparato da central.

Agora é preciso fazer o balanço do último congresso nacional da CUT, realizado há pouco mais de um mês. A “esquerda” recuou de 25% (em 2002) para 6,9% nesse congresso e ficou fora da direção da central. Foi possível comprovar, mais uma vez, que o peso do aparato estatal e a burocratização da CUT esvaziaram completamente os fóruns dessa central.

O segundo argumento é que se manter na CUT é a melhor maneira de disputar sua base. Quem melhor disputou a base da CUT no movimento de massas? A Conlutas, com suas marchas nacionais contra a reforma trabalhista, ou a “esquerda da CUT” que, travada pela sua permanência na central, não conseguiu nenhuma ação nacional de importância contra o governo?

É preciso buscar a unidade
Para evitar a polêmica de romper ou não com a CUT, os companheiros dessa ala do PSOL buscam desqualificar a Conlutas, classificando-a como “estreita”. Esta argumentação não resiste à prova dos fatos. O Conat, congresso que fundou a Conlutas, reuniu mais de três mil companheiros, representando mais de 200 sindicatos, mais de 100 oposições sindicais e 80 movimentos populares.

A última edição da Assembléia Popular (iniciativa dos mesmos companheiros do PSOL, que antecedeu a Intersindical) começou com 200 pessoas e terminou com 80. A Intersindical que está sendo proposta agora reúne uma base que nós respeitamos, mas as forças agrupadas na Conlutas são bem superiores.

Outro argumento contra a Conlutas é o peso do PSTU nesta nova entidade. Esses companheiros do PSOL chegam a falar que a “Conlutas é do PSTU”. Isso não é verdade. Na Conlutas estão também companheiros do PSOL, assim como do PDT, do PT, de organizações não partidárias, e ativistas independentes. E existem ampla democracia e respeito, como pôde ser visto no Conat.

Aliás, tem havido um extremo cuidado para ampliar o terreno da convivência entre distintas organizações políticas numa entidade de frente única em construção. Por exemplo, no Conat o PSTU defendia o apoio a uma frente classista nas eleições, e esta proposta contava com a simpatia de ampla maioria do congresso. No entanto, como estamos construindo uma nova entidade, em que existem muitas dúvidas em relação ao comportamento dos partidos, procuramos evitar uma votação sobre o tema, para facilitar a relação entre todos.

Esse argumento em relação à influência do PSTU é especialmente complicado. Nosso partido tem peso na Conlutas porque tem inserção na base do movimento, nos sindicatos e oposições, o que se expressaria em qualquer entidade nacional. A única forma de evitar isso é impedir a unificação dos movimentos, o que seria um erro muito grave. Construir uma Intersindical à parte da Conlutas para evitar o “peso” do PSTU é apostar na divisão do movimento, construindo uma entidade apenas de um setor do PSOL.

A unidade é a forma de lutarmos juntos contra um inimigo muito mais forte, o governo, que tem atrás de si a CUT e o PT. O novo governo Lula, depois de sua provável reeleição, vai atacar violentamente os trabalhadores com as reformas trabalhista e previdenciária.

É preciso construir a luta contra as reformas de maneira unitária. Mais uma vez, lembramos: se podemos estar juntos numa frente eleitoral, por que não podemos construir a mesma unidade para organizar as lutas diretas?

Post author Luiz Carlos Prates, o ‘Mancha’, candidato a senador pelo PSTU-SP
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