O socialista argentino Ernesto González faleceu no dia 16, aos 83 anos. Foi militante da corrente trotskista desde 1952, quando passou a integrar o grupo de militantes dirigido por Nahuel Moreno (morto em 1987). O Grupo Obrero Marxista tinha como objetivo levar o trotskismo argentino para junto dos trabalhadores, rompendo com o chamado “trotskismo de cafés”, assim conhecido por estar distante da classe operária e pelas discussões intermináveis.

Em sua última passagem pelo Brasil, em março passado, quando foi realizado o ato em memória dos 20 anos da morte de Moreno, Ernesto (em entrevista ao Opinião) relembrou este período com seu característico bom-humor: “Foi o início de minha vida dentro do movimento operário (…) Esses foram os anos mais felizes de minha vida. Essa foi a minha grande experiência e que está ligada aos primeiros anos do desenvolvimento do verdadeiro trotskismo operário e internacionalista na Argentina. (…) Em 1952, essa iniciativa já tinha se concretizado de forma fabulosa. Quando eu entrei no partido a primeira coisa que perguntei foi: em que fábrica entro?”.

Colaborador muito próximo a Moreno, ele assumiu tarefas importantes em várias das organizações que, nas décadas seguintes, foram construídas com este propósito. Em 1976, quando ocorreu o golpe militar de Videla, Ernesto era um dos dirigentes do Partido Socialista de los Trabajadores, e cumpriu um importante papel na garantia de que a organização e seus militantes atravessassem aquele período de perseguições e assassinatos. Anos depois, ele também esteve na fundação do Movimiento al Socialismo (MAS), um partido que chegou a dirigir manifestações de centenas de milhares de trabalhadores.

Resgate histórico
Em seus últimos anos, Ernesto dedicou-se a resgatar a história da corrente, tarefa que se expressou nos diversos volumes já publicados de “O trotskismo operário e internacionalista na Argentina”, obra fundamental para conhecer a história de nossa corrente.

Ao final da vida, Ernesto não se eximia de responsabilidades por não ter contribuído o suficiente: “Eu considero este ato uma oportunidade para me autocriticar. Eu, como velho dirigente, não soube responder ao grande problema levantado por Moreno: como consolidar a fundo a direção. Eu assumo minhas responsabilidades nesses 20 anos de não ter ajudado a instrumentalizar uma política de recuperação e integração de todos os que reivindicam a corrente morenista. Creio que esse ato possa ser um pontapé inicial do reagrupamento de todas as correntes morenistas, que desgraçadamente se dispersaram pelos fatores objetivos e subjetivos. Veremos se essa minha previsão poderá ser cumprida no futuro”.

Diante de sua morte, além de estendermos nossas condolências aos companheiros, familiares e amigos de Ernesto, nós do PSTU, em primeiro lugar, queremos nos dar o direito de discordar do “velho” Ernesto e destacar sua contribuição valiosa na manutenção da luta pela Internacional. E mais: queremos reafirmar nosso compromisso em dar continuidade à sua luta até que sua “previsão” se concretize.
Adeus, Ernesto! Até o socialismo, sempre!

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