A aparente calmaria vivida no andar de cima esconde uma tempestade que está se formando. Se, por um lado, as eleições colocaram em modo de espera a artilharia preparada pelo governo contra a classe trabalhadora e os pobres; por outro, o repique de uma nova onda da COVID-19 (com a indefinição de uma vacina), o fim do auxílio-emergencial e a explosão do desemprego vão desaguar com toda a força, tão logo passe a votação.

Não é por menos que os índices das bolsas de valores estão caindo e o país vive uma fuga de capitais. O capital internacional antevê o aprofundamento da crise, e exige a manutenção e ampliação de sua remuneração. E isso exige um novo patamar de exploração e rapina. O projeto de Bolsonaro, Guedes e do Congresso Nacional, para atendê-los, é, tão logo ocorra a votação, descarregar com toda a força uma série de ataques e de entregas para satisfazer a burguesia e o imperialismo, em que nem o Sistema Único de Saúde (SUS) escapa

Desemprego recorde e corte do auxílio

Mesmo agora, estamos vendo o aprofundamento de uma crise sem precedentes. O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) revela um desemprego recorde. Só nos três meses levantados pela pesquisa, mais de 4,3 milhões de empregos foram pulverizados. Em apenas um ano, sumiram 12 milhões de postos de trabalho. Se a taxa oficial de desemprego abarca 13,8 milhões de pessoas, o total de pessoas sem trabalho já chega a 33,3 milhões. Mais do que uma Venezuela inteira (32 milhões).

Se no início da pandemia, os trabalhadores informais eram os que mais sofriam com o avanço do desemprego, agora são os com carteira assinada que estão sendo jogados no olho na rua. Nada menos que metade dos empregos extintos era de postos com carteira. Um reflexo das demissões em massa realizadas pelas grandes empresas é a derrocada dos pequenos negócios deixados à míngua pelo governo, que se junta ao corte do auxílio-emergencial de R$ 600 pela metade.

Além do corte do auxílio, quase 9 milhões de pessoas já deixaram de receber o benefício. São 3 milhões que voltaram a receber o valor do Bolsa Família e outros 5,7 milhões que simplesmente foram retirados do programa porque a Medida Provisória que estendeu o benefício impôs regras ainda mais restritivas para o seu recebimento.

Terra arrasada

Já quem conseguiu manter o emprego sofre com o rebaixamento dos salários. São 11,7 milhões de trabalhadores afetados pela MP 936 que permite redução de salários e direitos. Junto a isso, temos a maior inflação para as famílias pobres dos últimos 14 anos, provocada, sobretudo, pelo aumento dos alimentos. No caso do arroz, a alta chegou, em setembro, a 41%, seguido pelo feijão, com 34%, e o leite, 30%.

Se, hoje, já estamos vivendo desemprego recorde, que só tende a aumentar, e o avanço da pobreza e da miséria, com a volta do flagelo da fome; com o fim definitivo do auxílio-emergencial e 40 milhões ao deus-dará, forma-se a “tempestade perfeita” para o caos social.

Desemprego recorde

  • 13, 8 milhões: Desemprego “oficial”
  • 33,3 milhões: Pessoas sem trabalho
  • 79,1 milhões: População fora do mercado de trabalho
  • 12 milhões: Empregos perdidos no último ano

(Dados PNAD-Contínua jun/jul/ago 2020)

Queda da renda

  • 20,1% foi a queda na renda média dos brasileiros
  • 11,7 milhões de trabalhadores tiveram redução de salários

(Fundação Getúlio Vargas/FGV, no trimestre entre mar/abr/maio 2020)

Auxílio-emergencial

  • 8,7 milhões: Já deixaram de receber auxílio-emergencial
  • 5,7 milhões: Ficaram de fora com as novas exigências
  • 3 milhões: Voltaram a receber só o Bolsa-Família
  • 67,2 milhões: Dependiam do auxílio-emergencial e ficarão ao léu com seu fim
NADANDO EM DINHEIRO

Crise não é para todos

Enquanto a classe trabalhadora sofre com o desemprego e grande parte da população encontra dificuldade até para comer, grandes empresas e bancos não só mantiveram seus lucros, como os aumentaram ainda mais. Levantamento do próprio Ministério da Economia, baseado nas notas fiscais emitidas pelas empresas, mostrou que as grandes empresas da mineração, o agronegócio e os bancos estão nadando em dinheiro.

O setor da mineração lucrou 37,6% a mais de abril a julho, em relação ao ano passado, puxado pela alta demanda da China. Só a Vale lucrou R$ 15 bilhões no terceiro trimestre, mais que o dobro que em 2019.

Já o agronegócio faturou 18% a mais devido ao aumento nas exportações, o mesmo que jogou o preço do arroz nos supermercados lá em cima. Os bancos, por sua vez, aumentaram o faturamento em 14%, lucrando R$ 22,4 bilhões no primeiro trimestre e R$ 18,4 bilhões, no segundo. Fruto do aumento do crédito, cuja demanda cresce na crise, dos juros, e, principalmente, da ajuda do governo. Os bancos foram os primeiros a receberem ajuda de nada menos que R$ 1,2 trilhão no início da crise.

BOMBA NO BOLSO DOS TRABALHADORES

Pacote de maldades após as eleições

Fechadas as urnas, em novembro, Bolsonaro e Paulo Guedes, junto com o Congresso Nacional, sacarão da cartola um pacotaço de maldades. Trata-se de medidas para garantir o pagamento da dívida aos banqueiros, transferir ainda mais recursos para os grandes empresários e multinacionais, acabar de vez com direitos e avançar na privatização e na entrega do país.

Entrega do SUS

No final de outubro, Bolsonaro editou um decreto que abre caminho para a privatização completa das Unidades Básicas de Saúde (UBS), do Sistema Único de Saúde (SUS), via Parcerias Público Privadas (PPP´s). Com a recepção negativa, o governo voltou atrás e suspendeu o decreto, mas prometeu reeditá-lo.

PEC Emergencial

O Congresso Nacional quer aprovar, ainda em 2020, uma PEC Emergencial que institui um gatilho que representa um verdadeiro confisco nos salários e direitos dos servidores, além do fim das promoções e suspensão de concursos. A redução salarial pode chegar a 25%.

Reforma Administrativa

A Reforma Administrativa, uma das prioridades de Paulo Guedes, visa acabar com os concursos, a estabilidade dos servidores e rebaixamento de salários. Ao invés de atacar privilegiados, como os juízes, alto-escalão dos militares, diplomatas ou os políticos, que não serão afetados, a Reforma volta-se contra os outros 90% da categoria, setor que ganha no máximo cinco salários mínimos. São trabalhadores dos postos de saúde, das escolas, universidades etc.

Carteira Verde e Amarela

A obsessão de Guedes é aprovar esse projeto que visa acabar com os poucos direitos ainda resguardados pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Carteira Verde e Amarela vai institucionalizar o trabalho informal, criando uma categoria de trabalhadores sem direitos.

Fim dos direitos sociais e ataques à classe média

A fim de bancar seu “Bolsa Família turbinado”, projeto eleitoreiro que visa compensar pequena parte do fim do auxílio-emergencial, o governo estuda vários ataques aos assalariados e remediados, entre eles o fim do Abono-PIS, congelamento das aposentadorias e benefícios como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), além do fim da dedução de impostos com saúde e educação, que afetam a classe média.

Privatizações e entrega do país

Além de iniciar a privatização do SUS, o governo só espera que as urnas sejam fechadas para colocar grandes empresas no balcão de negócios, como os Correios, a Eletrobrás e a própria Petrobrás.

QUE OS RICOS PAGUEM PELA CRISE

Organizar e unificar a luta para garantir emprego, renda e salário

É preciso unificar as lutas para impedir tudo isso, lutar contra as privatizações e fazer com que sejam os ricos que paguem pela crise. Precisamos de um programa emergencial para a crise, que ataque os lucros e privilégios das multinacionais, grandes empresas, latifundiários e banqueiros, para garantir emprego, renda digna e salário para todos.

– Manutenção do auxílio-emergencial

Reversão do corte do auxílio e manutenção dos R$ 600 por quanto durar a pandemia.

– Redução da jornada sem redução dos salários

É preciso proibir as demissões, estatizar as grandes empresas que insistirem em demitir e reduzir a jornada de trabalho, sem reduzir os salários, abrindo novas vagas para que todos trabalhem.

– Plano de obras públicas

A fim de criar empregos e suprir deficiências de infraestrutura em setores como saúde, educação, transportes e moradia.

– Reversão da Reforma Trabalhista e das terceirizações

Restabelecimento de todos os direitos trabalhistas arrancados pela Reforma Trabalhista e revogação da Lei das Terceirizações.

– Fim das isenções fiscais às grandes empresas e multinacionais

– Taxação das grandes fortunas e imposto fortemente progressivo

Taxar em 40% as grandes fortunas dos bilionários brasileiros (R$812 bilhões), podendo cobrir, assim, o pagamento do auxílio-emergencial. Serão gastos, no total, R$ 321 bilhões com o auxílio. A taxação dos bilionários arrecadaria R$ 325 bi.

É preciso, ainda, estabelecer um sistema de imposto progressivo, em substituição ao sistema tributário que, hoje, recai sobre o consumo; ou seja, sobre os trabalhadores e a classe média.

– Estatização dos bancos e do agronegócio

É preciso colocar o sistema financeiro para atender os interesses do povo, e não para transferir nossas riquezas para os grandes agiotas internacionais. Com os bancos sob controle dos trabalhadores daria para garantir crédito sem juros à população pobre, ao pequeno empresário, à agricultura camponesa familiar. Da mesma forma, o agronegócio, que hoje só produz commodities para exportação, deve ser estatizado e colocado sob controle dos trabalhadores, garantindo alimentos para a população junto com uma reforma agrária radical.

– Não à entrega do país! Reestatização das empresas privatizadas

Bolsonaro, Guedes e o Congresso Nacional querem a completa entrega do país ao imperialismo. É preciso barrar essa entrega, retomar as empresas privatizadas, como a Embraer, a Vale e a Petrobrás, colocando-as sob controle operário, para que atuem para atender os interesses da população, e não de meia dúzia de grandes investidores.