E o Maracanã vaiou Lula. Longe de ser “uma minoria”, como querem os governistas, a vaia foi tão forte que impediu o presidente de falar. Com o discurso nas mãos, Lula ficou paralisado ao ouvir o som que tomava todo o estádio. Vacilou, foi, voltou e acabou recuando.

Um fiasco monumental, inédito na história dos Jogos Pan-Americanos.

Foi por água abaixo uma manobra de R$ 2 bilhões. Esta foi a quantia investida pelo governo federal nos jogos, com o objetivo de se aproveitar política e eleitoralmente de seus resultados. Agora, o que vai ficar na memória do povo brasileiro é que Lula não conseguiu falar no Maracanã, tomando a maior vaia de um presidente na história desse estádio.

É cedo para tirar conclusões sobre o grau de desgaste do governo Lula perante o conjunto dos trabalhadores do país. Infelizmente, é bem provável que a maioria siga apostando nele. Mas ver Lula ser vaiado assim fortalece muito todos os que lutam.

Mais ainda porque, exatamente no mesmo dia, um ato promovido pela Conlutas, MST e organizações do movimento popular do Rio de Janeiro, protestou contra o governo federal. Utilizando a cobertura de toda a mídia na abertura do Pan, a manifestação marcou posição contra a reforma da Previdência, que está sendo preparada pelo governo federal, e a violência da polícia (apoiada pelo governo estadual do PMDB e por Lula).

Para tentar passar uma imagem de “tranqüilidade” durante os jogos, a polícia atacou com enorme violência comunidades pobres da cidade, com a desculpa do ataque ao tráfico. Morreram 19 pessoas no Complexo do Alemão, e a maioria não era traficante e foi executada a sangue frio pelas costas.

Os governantes tentaram jogar a população contra o ato, dizendo que era “contra o Pan”, numa manobra vergonhosa. Mas houve um “pequeno” problema: a massa que foi ver a abertura dos jogos também protestou vaiando Lula. O tiro saiu pela culatra.

Naquele momento, o maior estádio de futebol do país produziu bem mais que uma irreverência carioca. A vaia do Maracanã foi em nome de todos nós.

É como se todos os funcionários públicos federais em greve do país estivessem lá vaiando Lula. Como se os sem-terra que lutam pela reforma agrária se juntassem todos no Maracanã. Como se os estudantes da USP que ocuparam a reitoria por mais de um mês fossem todos para o Rio naquela sexta-feira.

Como se os trabalhadores que querem se aposentar um dia e já conhecem a proposta de reforma da Previdência do governo (que na prática impede a aposentadoria) ocupassem as arquibancadas. Como se os que sabem que Renan Calheiros é corrupto, e que só segue senador porque PT e PSDB também são corruptos, também estivessem lá.

É como se os que não aceitam o assassinato e a identificação da juventude negra dos bairros pobres com bandidos marcassem um encontro no Maracanã naquela tarde.

Essa vaia vai ficar na história do estádio, assim como alguns dos mais belos dribles de Garrincha e dos gols de Pelé.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 306
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