Abatimento, perplexidade e um sentimento de revolta destilado pela certeza de que o maior desastre da história da aviação brasileira poderia ter sido evitado.

Provavelmente estas foram as primeiras reações da população após a tragédia com o Airbus 320 que partiu de Porto Alegre na terça-feira 17 com destino ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Quase 200 pessoas – entre passageiros, funcionários e pedestres – morreram quando a aeronave não conseguiu parar na pista principal de Congonhas, atravessou uma movimentada avenida e explodiu ao se chocar com o prédio da TAM Express, escritório de cargas da companhia.

Os controladores de vôo tinham razão em suas denúncias. O destino do vôo JJ 3054 comprovou isso de maneira trágica. Há meses eles vêm alertando sobre a falta de investimentos do governo federal no setor, o que levou a um profundo sucateamento e sérios problemas de infra-estrutura. O governo deu de ombros para a reivindicação dos controladores e ainda agiu com violenta repressão, prendendo e punindo os trabalhadores. Como se não bastasse, a aviação civil brasileira passou a ser dirigida por órgãos que mantêm uma promíscua e corrupta relação com as empresas aéreas e empreiteiras. Esses foram os principais ingredientes para a atual tragédia.

Um dia depois do acidente, autoridades do governo começaram a fazer um discurso afinado, numa tentativa explícita de culpar o piloto do Airbus 320 da TAM. Tentaram repetir as manobras após o desastre da Gol, no ano passado, responsabilizando trabalhadores do setor (controladores de vôo e pilotos) pela “fatalidade”. Há uma diferença, porém, com relação aos desastres anteriores. Ninguém mais engole a versão da fatalidade, do acidente inevitável.

A indignação aumentou ainda mais diante do deboche de membros do governo. Como se o infeliz conselho da ministra Marta Suplicy fosse pouco (o famoso “relaxa e goza”), ou ainda a frase de Guido Mantega de que a crise aérea era fruto “da prosperidade do país”, Marco Aurélio Garcia (um dos principais assessores de Lula) foi flagrado fazendo um gesto obsceno comemorando uma reportagem sobre um defeito técnico no avião da TAM. Danem-se as vítimas, desde que se “livre a cara” do governo, pensou Garcia.

A baixaria não parou por aí. Três dias depois do desastre em Congonhas, foram homenageados em Brasília quatro diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Entre eles o seu presidente, Milton Zuanazzi, que ainda insiste em dizer que não há crise aérea nenhuma (!).

Foi o segundo desastre em dez meses. A crise agora se volta com toda força contra o governo. A demissão do ministro da Defesa, Waldir Pires, já é dada como certa. Manobra alguma poderá livrar a cara de Lula, Anac, FAB, Infraero e empresas aéreas, todos envolvidos em um jogo de promiscuidade e corrupção. Todos são culpados pela crise e pelo desastre.

O Airbus da TAM também caiu como uma bomba sobre o Planalto, num momento delicado para Lula. Dias antes o presidente havia recebido retumbantes vaias de 90 mil pessoas no Maracanã. Lula começava a sentir o peso do desgaste. Para piorar a situação, ele ainda demorou três dias para se pronunciar sobre a tragédia, mostrando à população o descaso oficial.

O governo vive a sua pior crise política neste segundo mandato que tomou uma dimensão gigantesca, ofuscando os Jogos do Pan. A tragédia da TAM se assemelha ao “apagão” de energia elétrica ou ainda ao desastre da plataforma P-32 do governo FHC, e poderá marcar o início do declínio das altas taxas de popularidade que Lula vinha mantendo até agora.

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