Qualquer filme desses comerciais que contam histórias de apocalipse e final dos tempos tem cenas que traduzem perfeitamente o que vive hoje Nova Friburgo e a Região Serrana. De uma bela cidade muito frequentada por turistas, cercada por montanhas e paisagens verdes, o que sobrou foi uma terra arrasada.

Chegamos a Nova Friburgo na sexta-feira, dia 14, em busca de militantes do partido e ativistas dos movimentos sociais, com os quais não conseguimos mais contato desde a chuva de terça-feira, que isolou a cidade e cortou as comunicações. Felizmente, conseguimos encontrar alguns de nossos companheiros que nos relataram que, apesar de toda essa tragédia, todos estão bem fisicamente.

Na cidade, caminhando pelas ruas do centro, completamente coberta de grandes espessuras de lama por todo o lado, onde prédios residenciais inteiros vieram abaixo, vemos uma população ainda atônita e desnorteada depois de alguns dias dos principais deslizamentos e desabamentos. O assunto entre os grupos de bate papo, das pessoas que saem de suas casas, são sobre o estado de familiares e conhecidos. Muitos ainda desaparecidos, em locais isolados ou desabrigados.

Pensar a cidade de Friburgo é imaginar um grande Centro com diversos distritos e conjuntos de casas afastados, em geral na beirada de grandes ribanceiras e montanhas onde brotam rios e cachoeiras. Nesses locais os bombeiros não conseguem chegar ou têm enormes dificuldades e as informações são completamente desencontradas. Por conta dessa triste realidade boa parte dos moradores, sem exageros, acreditam que os números de mortos vão subir muito. Na cidade se fala que o número total deve passar de mil mortos, pois alguns vilarejos desapareceram e centenas de pessoas permanecem enterradas, o que agrava ainda o problema do surgimento de doenças. A todo momento se fala também nas ruas em novas tragédias como novos desabamentos, famílias encontradas mortas, um abrigo que desabou matando dezenas de crianças, carros com pessoas dentro submersos na lama.

O cemitério perto do centro da cidade permanece cheio de gente a todo o momento, os supermercados e farmácias ou estão fechados ou abrem em “meia porta” fazendo com que a população tenha sérios problemas de abastecimentos.

Essa cidade pequena que encantou milhares de pessoas com suas belezas naturais e históricas vai demorar muito tempo para retomar sua velha rotina e algumas cicatrizes profundas infelizmente vão permanecer.
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