Temos dito nas páginas do Opinião que os gigantescos protestos de junho e o Dia Nacional de Luta e Paralisação, de 11 de julho, são, apesar das enormes diferenças na forma, parte de um mesmo despertar da juventude, dos trabalhadores e da população brasileira em geral, de uma mesma luta contra os governos municipais, estaduais e federal. As jornadas de junho, convocadas de maneira horizontal e espontânea pelas redes sociais, deram o ânimo necessário e abriram o caminho para que a classe trabalhadora organizada, que move a economia do país, também entrasse em cena, o que não é de forma alguma secundário: cidades inteiras praticamente pararam, 25 rodovias federais foram bloqueadas, cerca de 2 milhões de trabalhadores cruzaram os braços, e algumas dezenas de milhares saíram às ruas em protestos.
As mobilizações que sacodem o país desde junho trouxeram, também, novos debates para o movimento. Um deles tem a ver com a ação dos “Black Blocks”, presentes com frequência nas passeatas. Seus integrantes se vestem de negro e usam máscaras para dificultar sua identificação pela polícia. Esses grupos atraem ativistas pela radicalização dos seus métodos de ação, como as depredações de bancos e lojas. 
As greves e manifestações de ruas são o caminho pelo qual a classe trabalhadora e a juventude podem mudar o país e garantir as transformações sociais necessárias. Neste sentido, discordamos das ações vanguardistas por parte de grupos que se aproveitam das mobilizações para aplicar seus métodos, descolados do movimento. 
Antes de tudo, queremos reafirmar que defendemos os ativistas desses grupos contra a repressão policial, como o fazemos com todos os que participam das mobilizações. A origem da violência é a exploração capitalista e a repressão da polícia.
Mas queremos dizer, com clareza, que as ações desses grupos nos parecem completamente equivocadas. Os “Black Blocks” defendem a “propaganda pela ação”. Ou seja, defendem a utilização do método das depredações das fachadas de bancos, empresas, lojas de grifes e tudo o que simboliza o capitalismo porque, assim, estariam enfraquecendo o sistema.  
Nós, do PSTU, não temos nenhum apreço por essas instituições. Muitopelo contrário. Mas, consideramos que esses métodos não enfraquecem os grandes empresários. Ao contrário, lhes dão um argumento para jogar a opinião pública – e muitos trabalhadores – contra as manifestações e, assim, preparar a repressão. Sua “ação direta” é típica de setores de vanguarda, descolados das massas, que terminam por fazer o jogo da direita, justificando a repressão. 
 
Enfrentar a polícia ou ajudar a repressão?
Nas grandes mobilizações, houve momentos em que milhares de pessoas se defenderam como puderam dos ataques violentos da polícia. Naturalmente, acreditamos que essas atitudes foram totalmente legítimas.
Os “Black Blocks”, porém, têm uma ação distinta. Entram nas passeatas e, sem que tenha havido qualquer deliberação por parte dos manifestantes ou dos grupos que organizaram o protesto, atacam de forma provocativa a polícia, que reage, sistematicamente, reprimindo e muitas vezes acabando com as mobilizações. Agem como provocadores da repressão policial, tendo sido responsáveis, muitas vezes, por acabar com várias passeatas. Foi o que aconteceu no Rio de Janeiro, nas últimas manifestações pelo “Fora Cabral”.  
Também foi claramente comprovado pelos episódios no Rio de Janeiro que esses grupos sofrem com a infiltração de policiais provocadores, que se utilizam deles para acabar com as mobilizações. É muito fácil para um policial usar uma máscara, jogar um coquetel molotov contra a própria polícia, justificando a repressão. Numa passeata do Rio, o policial infiltrado foi filmado, se identificando, quando voltava para onde estava a polícia. 
Mas se esses grupos, aparentemente radicais, são equivocados no que se refere ao método de ação, também possuem outra grave limitação: a falta de um programa revolucionário.
 
Qual é o programa dos “Black Blocks”? 
Esses grupos são apenas “radicais” na metodologia. Não têm um programa revolucionário. Qual é o programa defendido pelos “Black Blocks”?  Isso não é respondido por nenhum dos portais ou comunidades nos quais eles estão agrupados.  Isso só pode ser explicado por um desprezo a qualquer  programa, como se bastasse quebrar uma loja para derrotar o Capital.
Os “Black Blocks” não defendem a revolução socialista. Muitos de seus integrantes reivindicam o anarquismo, mas na verdade param na radicalização da democracia como horizonte político. Ou seja, no programa acabam sendo  moderados.
 
Não somos pacifistas 
Nós, ao contrário, não somos reformistas. Defendemos o programa da revolução socialista. Somos defensores da violência revolucionária, como parte da luta das massas e não de grupos de vanguarda. 
O PSTU defende a ação direta das massas, porque não serão os acordos por cima ou as eleições que irão mudar o país. Entretanto, a verdadeira ação revolucionária é a ação das massas. E não de pequenos grupos. Foram as grandes manifestações de massas de junho que mudaram o país e não a depredações de fachadas e vidraças.  
Os métodos de luta e as ações radicalizadas das massas (como as greves, os piquetes, as ocupações de fábricas, latifúndios, prédios públicos etc.) são muito mais eficazes e muito mais revolucionários do que quebrar vitrines e lojas.  Assim como defender um programa de ruptura com os banqueiros, a suspensão do pagamento da dívida e a estatização sistema financeiro, para verdadeiramente destruir os bancos e acabar com a burguesia e o Capital.
Não somos, nem nunca fomos pacifistas. Mas é a violência das massas, e não de um pequeno grupo, que poderá fazer a revolução. As ações desses pequenos grupos facilitam a repressão da polícia contra as massas nas passeatas. 
É preciso deixar claro a inconsistência no programa e na ação desses grupos que, na verdade, são reformistas e radicais apenas na ação. Existem muitos ativistas sérios que se deixaram atrair pelos “Black Blocks” e já começaram a ver os problemas. Agora, é necessário que reflitam sobre isto.
 

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