A crise econômica internacional está abrindo uma nova situação na luta de classes em todo o mundo. Está claro que a dimensão da crise econômica provocará inúmeras e graves crises sociais e políticas.

A burguesia vai querer que os trabalhadores paguem pela crise rebaixando seus salários e cortando seus empregos. Os governos vão ter que aplicar reformas duríssimas e reprimir as mobilizações que surgirem, o vai significar fortes crises políticas.

Mas não está claro em que medida isso evoluirá para novas situações e crises revolucionárias. Isso dependerá essencialmente da reação dos trabalhadores, de suas ações diretas para enfrentar a miséria e o desemprego. Pode prevalecer o medo do desemprego e isso gerar a paralisia dos trabalhadores. Podem se desenvolver também as posições de ultradireita e fascistas, ou seja, está se iniciando uma nova situação internacional com múltiplas possibilidades.

Uma das interrogações centrais é o que vai acontecer nos países imperialistas. O centro das rebeliões nas últimas crises se deu nos países semicoloniais. Agora a crise começa nos países imperialistas. Nos EUA, por exemplo, o último grande ascenso da classe operária foi na década de 1930, exatamente em função dos ataques durante a depressão. O que vai se passar agora?

Já dá para ver a dimensão da crise social só com a execução de hipotecas: em 2007 foram 1,3 milhão de imóveis de casas com hipotecas não-pagas em que o banco ou a financeira retomaram o imóvel. Pelo menos cinco milhões de famílias deverão ser afetadas.

O endividamento das famílias norte-americanas é outro estopim à vista. Segundo o Instituto Braudel, “entre 1993 e 2006 o passivo financeiro das famílias subiu de 89% para 139% da receita pessoal disponível”.

Reações
Agora, os trabalhadores vão ter seus salários rebaixados ou perder os empregos. A primeira reação já está anunciada. Uma marcha nacional está convocada para os dias 24 e 27 de outubro.

Na Europa, já começaram também a ocorrer reações. Um dia de paralisação nacional aconteceu na Bélgica no início deste mês. Os operários da Renault na França receberam o presidente Nicolas Sarkozy, que visitava a empresa, com um dia de greve em protesto contra os planos de demissão.

Que nova situação vai se abrir nos países em que foi restaurado o capitalismo, como a Rússia e a China? Em praticamente todas as últimas crises, um dos símbolos do período de auge foi queimado. Foi assim com o México em 1995 e com a Argentina em 2000-2001. Isso pode acontecer agora com a China, um dos maiores símbolos dos “benefícios da globalização capitalista”. Os operários chineses hoje já têm salários baixíssimos e não possuem direito a aposentadoria nem a educação e saúde gratuitas. Como reagirão frente à crise?

Na América Latina, os governos de frente popular e nacionalistas surfaram na onda do crescimento econômico. Chávez, por exemplo, se apoiou numa receita das exportações de petróleo de mais de US$100 por barril, que já está a menos de US$80 e deve seguir baixando.

A crise passada gerou as insurreições e semi-insurreições que derrubaram os governos de direita no Equador (2000), na Argentina (2001) e na Bolívia (2003-2005). Agora, serão os governos nacionalistas e de frente popular que terão que administrar a crise e aplicar planos de ataque aos trabalhadores. Como reagirá o movimento de massas a esses governos? Que novas direções surgirão dessas lutas?

A luta pelo socialismo
Uma questão se afirma neste momento com clareza: a falência do capitalismo como sistema para revolver as necessidades da humanidade. A crise brutal que se inicia está reduzindo a pó as ideologias do livre mercado e do neoliberalismo. Estão se abrindo novas oportunidades para as bandeiras do socialismo. É até simbólico que na Alemanha as vendas das obras de Karl Marx tenham subido 300% nos últimos meses.

A esquerda como um todo teve um retrocesso na década passada quando houve a restauração do capitalismo no Leste Europeu, com toda a campanha imperialista da “morte do socialismo”. A reorganização da esquerda neste momento terá de se dar passando por cima das visões stalinistas, que deram as bases para as ditaduras burocráticas e depois para a restauração do capitalismo no Leste. E terá também de se enfrentar com as diversas versões da social-democracia, foram cúmplices na aplicação dos planos neoliberais, como o PT brasileiro.