Confira abaixo trechos de uma reportagem do Batay Ouvriye sobre as duas semanas de protestos no HaitiNa manhã seguinte, no dia 4 de agosto, a partir de um acordo tomado durante a “sacudida” do dia anterior, bloqueou-se o parque industrial inteiro. Fomos, desde ali, fechar as demais fábricas que não se encontram na zona. Nesse dia, como num disparo rápido e forte, foram bloqueadas todas as fábricas têxteis da capital. Em um movimento de rara potência, nos dirigimos ao parlamento. Os operários tinham se esquecido da falta de dinheiro do dia a dia; as mães de família, da comida da casa… A manifestação era nada mais e nada menos do que uma massa enorme, compacta e, neste momento, inteiramente unida. As forças repressivas, completamente surpreendidas, não fizeram nada. Retrocediam, conversando por walkie-talkie, extremamente nervosas.

Passamos pelos bairros populares mais próximos, aplaudidos com gritos exuberantes, pelo mercado principal, abaixo na orla do mar, onde as vendedoras distribuíam gratuitamente água aos manifestantes. Era então uma multidão nunca vista, com a classe operária à frente.

Nesse dia, a classe operária mostrou (talvez a ela mesma) seu poderio. Certamente ficarão impressões que a história de luta usará.

Chegavam os jornalistas, correndo. Chegavam outras pessoas atônitas, outros aterrorizados e gritavam “200 gourdes!”. E, claro, chegou então a Minustah, acompanhada das forças especiais da polícia, dos gases lacrimogêneos e dos tiros. Nos dias seguintes, se repetiram os protestos. No quarto dia, os próprios burgueses fecharam as fábricas. Então, as forças repressivas entraram com mais determinação. Nós também. A confrontação durou duas semanas, com muitos feridos, presos e outros escondidos.

Ao final da segunda semana, o movimento se esgotou. Em função do longo tempo dos protestos, não “havia mais trabalho”. As mães, sobretudo, falavam dos filhos famintos… A repressão aumentava, assustava e atemorizava mais nos bairros populares, durante a noite. A imprensa burguesa criminalizava o movimento a todo vapor. Então, apelamos às organizações de bairro mais “populares”. Para a segunda-feira, dia 17, planejou-se então uma última tentativa, unindo operários, estudantes, trabalhadores de todo tipo, junto com as massas populares dos bairros mobilizados.

No entanto, às cinco da manhã desse dia, formou-se um cerco repressivo, inclusive com helicóptero, que nunca tínhamos visto. Grupos de três pessoas nas ruas eram proibidos. Nossos amigos dos bairros (que sofreram ataques da Minustah em 2005, 2006 e 2007) não chegaram ao ponto de encontro. Soubemos depois que não puderam nem sair de suas casas.

Assim, a “oposição” do presidente, ainda que abertamente ilegal, foi “votada”.

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