As mulheres indígenas são duplamente oprimidas

As mulheres indígenas compartilham da mesma combinação de exploração e opressão racista e machista que atinge as mulheres negras.Ao se colocar em destaque a luta das mulheres negras latinas e caribenhas é sempre importante destacar o quanto ela está relacionada à luta de todas as demais trabalhadoras da região e, particularmente, das descentes dos povos nativos que, desde a conquista e saques promovidos pelos europeus (que em muitos casos, como o brasileiro, quase levaram a população nativa ao extermínio), têm sido expostas a uma situação constante de exploração, machismo e racismo.

Jogadas para as margens da sociedade; submetidas às piores condições de vida; transformadas em “figuras folclóricas”; exploradas pela indústria do Turismo e da prostituição; sem acesso à saúde, à educação ou até mesmo à justiça; e negligenciadas inclusive por governantes que saíram de suas comunidades, como o aymara Evo Morales, na Bolívia, as mulheres indígenas, lamentavelmente, compartilham da mesa perversa combinação de exploração e opressão racista e machista que atinge as mulheres negras.

No livro “Etnicidad, Raza, Género y Educación en América Latina” (2004), editado por Donald R. Winkler e Santiago Cueto, os autores estudaram as desigualdades existentes entre crianças de diferentes etnias, em países com forte presença de afrodescendentes, como Brasil, Bolívia, Guatemala, Peru, Equador e Chile, e chegaram aos que eles próprios denominaram “conclusões dolorosas”.

Na Guatemala, por exemplo, onde a presença indígena é enorme, o índice de pobreza desta população é muito superior ao dos brancos: 63% entre os maias e 90% entre os mam, contra 42% entre os “ladinos” (não-indígenas). No Equador, os números não são nada melhores: enquanto o índice de pobreza dos indígenas é de 84% da população, 46% dos “ladinos” encontram-se na mesma situação. E, mais uma vez, as mulheres estão em situação ainda pior: uma nativa recebe, em média, 34% do salário dos homens.

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