Hoje existe uma aposta da maioria da burguesia nacional e internacional em Lula. Afinal de contas até este momento tem funcionado no país uma eficiente manobra: a maioria dos trabalhadores acredita que tem no governo um aliado, porque Lula foi o maior dirigente sindical de sua história. Mas na verdade, Lula governa para as grandes multinacionais e banqueiros que quadruplicaram seus lucros logo em seu primeiro mandato.

Apoiado nas maiores entidades do movimento sindical, estudantil e popular, como a CUT e a UNE, além do próprio MST, Lula conseguiu manter o controle dos trabalhadores. Toda a lógica da ação do governo e seus aparatos no movimento é a do engano da maioria dos trabalhadores, apoiados em sua confiança no governo. Quando não conseguem fazer isso, partem para a divisão e desmoralização dos oponentes. Como lutar contra um governo que tem o apoio da maioria dos trabalhadores e conta com a ação de poderosos aparatos nas mãos da CUT e UNE?

Lutar é preciso… e possível
Apesar disso, existem lutas muito importantes, greves que escapam do controle dessas burocracias. Mobilizações estudantis com ocupação de reitorias, ocupações de terras urbanas (como a do Pinheirinho e as do MTST) e rurais. A maioria dos trabalhadores continua apoiando o governo, mas com a piora da situação social, as lutas se estendem e muitas vezes se radicalizam.

Foi na esteira dessas mobilizações que se firmou a Conlutas como principal conquista da reorganização no período do governo do PT. A Conlutas conquistou essa legitimidade comandando os dois maiores protestos de oposição ao governo Lula nas marchas nacionais em Brasília, assim como a luta contra o desemprego, como foi na Embraer. A mais recente expressão do papel da Conlutas se deu nas campanhas salariais, como, por exemplo, na luta metalúrgica em São Paulo, na campanha dos trabalhadores dos Correios, ou na atual mobilização de petroleiros com a FNP (Frente Nacional dos Petroleiros).

A proposta de uma nova Central
Mas a Conlutas se reconhece como uma expressão minoritária, e vem buscando a unificação com outras correntes do movimento sindical e popular como a Intersindical, Pastoral Operária de São Paulo, MTST, MTL, entre outras. Para isso foi realizado nos dias 1° e 2 de novembro o Seminário Nacional de Reorganização. A resolução do Seminário, que aponta um Congresso unitário em junho de 2010 para fundar uma nova central, tem enorme importância.

É possível que Lula termine seu governo ainda com apoio da maioria dos trabalhadores. Mas o acúmulo de lutas e experiências do movimento de massas com esse governo terá levado a um processo de reorganização com um resultado positivo, que pode ser superior à Conlutas, assim como a todos os outros componentes desse congresso de unificação. Pode-se firmar uma alternativa de direção para as lutas como a principal conquista do movimento sob o governo Lula.

A decisão do seminário aponta para um novo momento na reorganização do movimento de massas no país. Nesses tempos de divisão e fragmentação, uma perspectiva de reunificação é uma referência que pode se estender além das forças acumuladas no Seminário de Reorganização.

A popularidade do governo não será mantida indefinidamente, e as futuras crises econômicas e políticas podem possibilitar um novo terreno de lutas e rupturas com a Articulação, corrente governista majoritária. A fundação de uma nova Central Unitária pode ter um impacto bem superior ao que podemos imaginar hoje.

Duas aprendizagens
Os próximos meses até o congresso de unificação serão longos e difíceis. Nada ainda está garantido. Inúmeros obstáculos podem surgir pelas diferenças que já existem entre as forças reunidas no seminário. Mas duas conquistas do seminário podem servir de guia para resolver esses problemas.

A primeira é a compreensão de que a unidade é realmente imprescindível para superar a fragmentação e dar maiores condições para lutar. Essa compreensão comum foi o que abriu caminho para buscar uma superação das diferenças. Uma postura sectária só conduziria a continuidade na dispersão.

A segunda conquista é a aposta na base, na democracia operária. É um critério correto submeter o debate das diferenças não para a discussão, mas também para a decisão das bases.

Essas são aprendizagens desse fim de semana, que podem ser muito úteis para a superação dos problemas que teremos na construção do congresso unitário, e também depois, na nova Central que vai surgir.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 395
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