Na semana passada, os servidores federais começaram o retorno ao trabalho após a realização de um dos mais poderosos movimentos de greve dos últimos dez anos. Foram mais de cem dias de luta, que ainda segue em alguns setores, como o dos professores das universidades e escolas técnicas, o INCRA e a polícia federal. Abaixo, um breve balanço de como foi essa luta.

Coragem para enfrentar um governo muito forte
Uma greve de servidores federais, em geral, não é um movimento de luta comum, mas uma verdadeira guerra contra a política e o plano econômico do governo burguês de plantão. Mas, quando esse processo se desenvolve contra um governo do PT, com altos índices de popularidade, em meio a uma crise econômica mundial, se transforma em quase que em uma façanha.

E foi de fato uma façanha o que fizeram os servidores federais neste embate contra o governo. Inicialmente, Dilma negava qualquer concessão para as categorias, alegando preocupação com os trabalhadores que não têm estabilidade no emprego e os efeitos da crise econômica no Brasil. Em seguida bradou que não negociava com grevistas, muito menos com categorias de trabalhadores “sangue azul”. Por fim, protelou as negociações na tentativa de “cansar” os grevistas e jogar a opinião pública contra a greve com o claro objetivo de manter sua política de reajuste zero para o funcionalismo. O movimento seguiu firme e aumentando a cada dia. Para cada novo ataque de Dilma, os servidores federais respondiam com a adesão de mais categorias à greve. E foi assim até meados de agosto, quando algumas categorias, mesmo depois de três meses da deflagração da greve, ainda somavam-se ao movimento.

Por todo o Brasil, e todos os dias, os servidores públicos tomaram as ruas em protestos nas capitais dos estados. Em Brasília, os grevistas acompanharam a agenda da presidente e deflagraram o “Caça à Dilma”, movimento que os organizava em protestos exigindo negociação em todos os cantos do país onde estivesse a presidente. Em São Paulo, a pressão dos protestos chegou a desestabilizar o candidato do PT à prefeitura, apadrinhado por Lula e ex-ministro da educação, Fernando Haddad, que foi socorrido por ninguém menos que o candidato tucano, José Serra, que chamou os manifestantes de “fascistas”.

Em uma das mais ousadas ações da greve, os servidores fizeram um bloqueio ao Ministério do Planejamento às 5 horas da manhã do dia 19 de julho (mantiveram o prédio fechado por todo o dia) e obrigaram o governo a receber uma representação do Fórum Nacional das Entidades. Começava ali um novo momento da greve. Acuado, o governo se viu pressionado a negociar com todas as categorias e mexer no orçamento para abrir concessões salariais. A empáfia do governo era dobrada pela força e organização da greve.

Uma vitória política imensurável
Os ganhos econômicos foram importantes e uma demonstração do efetivo recuo do governo. A previsão era “zero por cento”, mas o movimento conseguiu arrancar R$ 12 bilhões/ano até 2015. Oito vezes mais do que foi concedido neste ano, R$ 1,5 bilhões. Porém, insuficiente para a maioria das categorias que vão ter um reajuste de 15,8% em três anos, que não cobrirá sequer as perdas inflacionárias. Alguns setores, como o dos técnicos das universidades federais e escolas técnicas, professores, IBGE, carreira ambiental e parte do PCCTAE (Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação), receberão reajustes maiores em forma de incorporação de parte das gratificações e adicionais por graduação e titulação (cursos de especialização, mestrado e doutorado).

A greve do funcionalismo federal foi um fenômeno pela sua abrangência, radicalidade e expressão política na conjuntura do país. Impôs ao governo Dilma uma derrota política de proporções muito grandes, forçando uma mudança na relação com o funcionalismo e garantindo negociação e concessões para a categoria. O desgaste político foi tão grande que os índices de popularidade do governo caiu (em média, 10 pontos percentuais) nas principais capitais do país. Isso aconteceu pela primeira vez nos dez anos do governo de frente popular, se considerados os dois mandatos de Lula e o atual mandato de Dilma.

Portanto, o legado mais importante dessa greve foi a derrota política imposta ao governo e, como consequência, uma vitória também política do movimento, que vai colocar os servidores federais em uma situação mais favorável para novos enfrentamentos com o governo no próximo período. O primeiro desafio será barrar os projetos de regulamentação do direito de greve, que, em essência, buscam proibir ou limitar substancialmente, a realização de greves no setor público.
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