Muro de Berlim: a queda do aparato stalinista foi fruto da ação das massas

A situação mundial está marcada por uma grande contradição. Por um lado, o movimento de massas está travando lutas revolucionárias muito importantes. Por outro, existe uma profunda crise no conjunto das forças de esquerda, até mesmo nas que se reivindicamA atual crise começou como um processo de adaptação, e depois de capitulação, da absoluta maioria das organizações à política imperialista que chamamos “reação democrática”. Depois da derrota no Vietnã (1975), o imperialismo viu-se obrigado a mudar sua política do “garrote” e passou a utilizar os processos eleitorais (e outras “armadilhas” da democracia burguesa) para desviar e deter novas situações revolucionárias. Aplicou essa política, com bastante sucesso, nas revoluções portuguesa (1975) e nicaraguense (1979). Um exemplo muito importante foram os Acordos de Paz de Contadora, que conseguiram deter a luta guerrilheira em El Salvador. A FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) esteve a ponto de tomar o poder, mas depôs as armas, converteu-se em uma frente eleitoral e o processo revolucionário salvadorenho frustrou-se.

Cada vez mais, a esquerda foi transformando as eleições em sua principal atividade e, a partir daí, adaptando-se à ação parlamentar e à participação no Estado burguês. Isso se expressou, pouco a pouco, na teoria e no programa dessas correntes, e a maioria foi abandonando os conceitos de “luta de classes” e “revolução”, substituindo-os por outros, como “participação da cidadania”, “aprofundar a democracia” etc.

A restauração capitalista nos ex-estados operários burocratizados
O processo deu um salto com a queda dos regimes stalinistas e a restauração do capitalismo no Leste europeu e em todos os países que nós, trotskistas, chamávamos “Estados operários burocratizados” (e outras correntes do “socialismo real”). Todos os ex-Estados operários burocratizados são hoje Estados capitalistas.

A maioria das correntes concorda com essa opinião ao falar da ex-URSS e do Leste europeu. Mas não pensam assim nos casos de Cuba, China, Vietnã e Coréia do Norte, porque ali os partidos comunistas continuam no poder. No entanto, há muito tempo, as burocracias que governam esses países já não defendem (nem mesmo de forma burocrática, como no passado), as bases sociais que caracterizam um Estado operário: o monopólio do comércio exterior, a planificação da economia e a propriedade estatal dos meios de produção. Pelo contrário, são as que estão à frente da liquidação dessas bases sociais, as que privatizam as empresas estatais e introduzem cada vez mais capital imperialista em seus países. Esse processo representou uma derrota para os trabalhadores (a restauração do capitalismo nos países onde a burguesia havia sido expropriada) e gerou grande confusão na maioria da esquerda, que viu essa derrota como o único saldo do que ocorreu.

O que não viram, nem concluíram, foi que, junto com essa derrota real, ocorrera outro processo de importância igual ou maior que a anterior: a queda do aparato stalinista mundial como resultado da mobilização das massas. Esse aparato havia conseguido trair e desviar inúmeras revoluções no passado e era o principal colaborador do imperialismo na tarefa de controlar a revolução mundial. Basta recordar como, depois da Segunda Guerra Mundial, evitou a vitória da revolução operária e socialista em países capitalistas tão importantes como a Itália e a França. Esse aparato mundial havia sido derrubado pelas massas e isso liberava imensas forças e possibilidades revolucionárias. Esse fato foi, em si mesmo, muito progressivo. Por isso, o balanço do que ocorreu e as perspectivas que se abriam na situação mundial são muito mais contraditórios que a conclusão de que “o socialismo havia sido derrotado”.

Uma primeira conclusão
Com base nessa análise, cremos que há uma primeira lição principal que devemos tirar da restauração capitalista: a impossibilidade da construção do “socialismo em um só país” (como propunha o stalinismo).

A realidade demonstrou que, como afirmaram Lenin e Trotsky, a teoria do “socialismo em um só país” não passou de uma utopia reacionária. As revoluções operárias podem e vão triunfar em um ou vários países (em geral, primeiro nos países mais atrasados). O socialismo (como sistema econômico-social), porém, só poderá ser possível se a revolução se expandir internacionalmente, se a classe operária tomar o poder nos países imperialistas centrais, de maior desenvolvimento econômico. Caso contrário, o imperialismo retomará sua ofensiva, os países capitalistas mais desenvolvidos manterão sua superioridade econômica e os Estados operários serão, cedo ou tarde, dominados pela economia mundial imperialista e empurrados para a restauração.

Os ex-Estados operários burocratizados, sob o comando direto do stalinismo, não extenderam a revolução mundial. Pelo contrário, buscaram a “coexistência pacífica” com o imperialismo. O mesmo ocorreu com as revoluções dirigidas por movimentos pequeno-burgueses que expropriaram a burguesia, como foi o caso de Cuba. Todos eles terminaram na restauração capitalista.

Os que hoje formamos a LIT-QI, apoiamos e defendemos a revolução cubana e a instauração do primeiro Estado operário latino-americano, junto com centenas de lutadores de todo o mundo. É necessário, entretanto, diferenciar o processo revolucionário das políticas de sua direção. Por exemplo, quando Fidel Castro disse que a Nicarágua não devia ser “uma nova Cuba” (ou seja, não devia realizar a expropriação da burguesia) condenou a revolução nicaraguense à derrota. Ao mesmo tempo, acentuou o isolamento da Cuba socialista e preparou assim as bases da restauração em seu próprio país. Pelo contrário, Che Guevara, anos antes, chamara a fazer “dois, três, muitos mais Vietnãs”, afirmando que a luta devia ser pela “revolução socialista ou seria uma caricatura de revolução”. Concordamos plenamente com Che em relação a essas afirmações.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (www.litci.org)
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