Em tempos de Facebook as más notícias correm mais rápidas. Nos últimos dias a vanguarda foi surpreendida com a informação que o PSOL irá fechar com o PPS e o PSDB para disputar a prefeitura de Macapá (AP).

Para quem acompanha as posições da oposição de esquerda ao governo Dilma, sabe muito bem do conteúdo policlassista da resolução sobre alianças aprovada no último congresso do PSOL. A resolução do congresso aponta que “o Diretório Nacional avaliará caso a caso as alianças políticas e sociais que avançarem para além do acúmulo da Frente de Esquerda (PSTU e PCB), cabendo somente a essa instância a decisão final sobre a possível concretização de ampliações, tendo como parâmetros básicos a indicação da candidatura a prefeito (a) pelo PSOL e a firme defesa de nosso programa de profundas mudanças sociais e políticas.” O ativista de esquerda mais atento, sabe das pressões que esse partido tem passado para receber dinheiro de empresários e fazer aliança com partidos da burguesia.

O que me faz escrever são os socialistas que existem no PSOL, especialmente os que conheci. Recordo que quando esse partido ainda estava colhendo assinaturas para sua legalidade, e eu estava engatinhando no movimento, tive que intervir numa assembléia estudantil para garantir o direito de seus fundadores construírem um partido.

No que pese nossas diferenças políticas, programáticas e estratégicas aprendi a respeitar a militância do PSOL. Desgraçadamente (e só ao escrever essa linha me dou conta disso), a maioria desses militantes é da mesma corrente que hoje entre seus pares promove a fatídica aliança no norte do país. A direção da APS, e as outras correntes que compõe a direção majoritária do PSOL, são responsáveis por toda política regressiva aplicada no Estado do Amapá.

Com isso não quero procurar uma explicação personalíssima. O contrário. A falta de uma estratégia clara, combinada com uma situação onde a nossa classe não protagoniza uma luta ativa contra o capital, são as bases para essa transgressão da fronteira de classe.

As principais correntes que compõem o PSOL há algum tempo iniciaram uma corrida no sentido oposto ao do socialismo. A cada dois anos se afastam alguns quilômetros a mais da vitória estratégica que buscamos para nossa classe (ao qual chamamos de socialismo). Creio que se a luta de classes estivesse mais aguda, o distanciamento deles já daria para correr uma São Silvestre. A velocidade com que o PSOL se transforma chega a ser maior do que a do PT.

Os erros políticos são comuns em qualquer organização socialista e revolucionária. Do partido bolchevique, passando pelas guerrilhas, e as organizações trotsquistas, todos cometeram algum tipo de desvio do tipo oportunista ou sectário. A capacidade de autocrítica e correção política garante a permanência de uma organização na trincheira revolucionária. Porém as vacilações programáticas e a dubiedade estratégica se perduram por muito tempo e podem levar a um pecado capital.

A luta pelo socialismo não tem atalho. E é assim não porque os deuses não estão do nosso lado. Essa lei social existe porque o socialismo tem que ser obra da classe trabalhadora. Para chegar a esse objetivo passamos por derrotas, vitórias parciais, traições e decepções. É dessa forma que forjamos nossas táticas e estratégias, para cada situação objetiva da luta de classes. É dessa forma que a nossa classe aprende e passa a acreditar em suas próprias forças. Não fazemos a história como desejamos, mas sim com as condições dadas por ela, essa é uma lição básica do pensamento marxiano, mas que segue sendo cruel para os marxistas.

Na busca por responder rápido uma nova realidade, princípios foram rasgados. A derrocada da URSS e a restauração capitalista levaram a elaborações ecléticas. A estratégia socialista foi duramente questionada e teorias já ultrapassadas no início do século XX, voltaram com todo gás. Foi dito não ser mais possível a construção de partidos com regime leninista; que agora era hora de construir partidos socialistas com revolucionários e reformistas honestos. Outras “teorias” foram tiradas do sarcófago do stalismo: é preciso apoiar governos progressivos. O que vimos dos anos 90 para cá foi um verdadeiro abandono da luta revolucionária e uma verdadeira adaptação reformista por parte de centenas de correntes mundo a fora.

Qualquer teoria, por melhor que seja no papel, só estará apta ao passar pela crítica dura da realidade. As atualizações programáticas e teóricas fazem parte do arsenal de medidas que as novas gerações lançam mão para interpretar novas realidades. Não podemos ser reféns de esquemas do passado e não podemos cair no abismo do preconceito contrario a fazer revisões teórico-programáticas. Entretanto esse movimento tem que obedecer ao fluxo do que é progressivo para educação e avanço de consciência da nossa classe. Por isso, para nós marxistas revolucionários, os fins não justificam os meios. Não é por que precisamos de dinheiro para fazer campanha eleitoral, que vamos receber dinheiro de empresas (ou de empresários).

Para a militância socialista do PSOL o futuro do partido está em jogo. Para aqueles que oscilam entre o socialismo revolucionário e o reformismo “socialista” a hora do acerto de contas está chegando. A militância do PSOL tem alguns meses para derrotar tamanha capitulação. Se for vitoriosa, o partido ganhará uma sobrevida. Caso sejam derrotados, o fim da maratona estará mais próximo do que nunca.

As bases fundacionais do partido agora cobram seu preço para militância. Desde o seu início que a direção do PSOL apostou na construção de um partido não para a luta revolucionária, mas sim para disputar o espaço a esquerda no regime democrático liberal deixado pelo PT. O PSOL é fruto do descontentamento de um importante setor da vanguarda com Lula e seu partido. Centenas de trabalhadores e estudantes têm dedicado parte de seu tempo para construir uma ferramenta que julgam ser socialista e necessária para transformar o país. O preço da traição gestado pela direção majoritária do partido pode cair como um balde de água gelada sobre a consciência dessa nova geração de ativistas. O ceticismo, que iguala os partidos burgueses, os reformistas e os revolucionários, pode retornar com força na vanguarda.

Do lado de cá há a certeza de que estaremos prontos para debater com os companheiros e companheiras uma alternativa socialista e revolucionária. Nosso partido não é perfeito. Cometemos diversos erros políticos. Entretanto, somos um embrião de organização que se propõe, junto com a classe trabalhadora, chegar ao socialismo.

Já me foi dito, por um amigo, que a luta pelo socialismo é uma corrida de maratonista, não é uma prova de 100 metros. É com essa clareza, e acreditando na força da classe trabalhadora em luta, que seguimos militando. Seja em qual terreno for.