Por que centrais ligadas ao governo também chamam um Conclat?Poucos antes do Fórum Social Mundial, as centrais sindicais CUT, CTB, Força Sindical, UGT, NCST e CGTB convocaram para o dia 1º de junho deste ano uma Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat).

Seria mesmo uma conferência para discutir os problemas mais sentidos da classe trabalhadora? Não. O objetivo descarado do evento é organizar o apoio das centrais a candidata de Lula à presidência da República Dilma Rousseff. Como explica um de seus principais idealizadores, o presidente da CUT, Artur Henrique: ” [o Conclat] será um instrumento de mobilização e ação sindical que contribuirá no processo eleitoral, demarcando campo com a direita”.

Um comunicado da CUT ainda afirma que as centrais pretendem reunir mais de 10 mil lideranças sindicais para debater e aprovar o documento sobre o apoio a um candidato à presidência da República que “dê continuidade ao projeto político implementado no país desde 2002”.

O evento é mais uma sinalização do rumo tomado pelas centrais – especialmente da CUT – depois que Lula chegou ao governo. Sem a menor independência política e com a democracia interna rasgada em mil pedaços, a CUT apoiou todas as medidas do governo do PT, dando, inclusive, apoio a sua política e econômica de orientação neoliberal.
O atrelamento da CUT confirmou a caracterização de todos os que romperam pela esquerda com a central no último período: trata-se de um instrumento absolutamente decadente e a impossibilidade de dar-lhe outro rumo é irreversível.

Além disso, o atrelamento ao governo impôs uma camisa de força às lutas dos trabalhadores. Mesmos as que escapam do ferrenho controle da burocracia, na maioria das vezes foram condenadas à derrota e ao fracasso pelos dirigentes cutistas. Nos últimos oito anos, imobilismo e traição foram os pilares de uma central que funciona como uma quase agencia do Ministério do Trabalho dentro do movimento sindical.

Mas há também uma explicação material para o atrelamento da CUT e demais centrais ao governo. Atualmente os burocratas recebem verbas do Estado em quantidade nunca imaginadas – especialmente através do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) -, além de reunirem ao lado de empresários e capitalistas no Conselho de Desenvolvimento Social.

Dados indicam que entre janeiro e julho do anos passado, as centrais receberam R$ 74 milhões do imposto sindical, numa política clara de atrelar as centrais ao governo. Já a Controladoria Geral da União informava no ano passado que CUT, Força Sindical e outras centrais pelegas menores receberam R$ 261,2 milhões nos últimos sete anos. Ou seja, CUT e a Força Sindical dependem financeiramente do Estado e não das contribuições dos trabalhadores. Nada mais justo do que fazer uma festa para agradecer ao governo esses imensos privilégios.

Um verdadeiro congresso da classe trabalhadora
A data da festa para Dilma organizada pelas centrais pelegas também tem um claro objetivo de ofuscar o que poderá ser o principal fato político do processo de reorganização do movimento sindical brasileiro: o Congresso da Classe Trabalhadora (Conclat), que discutirá a possibilidade de unificar a Conlutas, a Intersindical, o MTST, o MTL, o MAS e representantes da Pastoral Operária de São Paulo em uma mesma entidade nacional.

Não é causal que a data da conferência governista foi marcada para o começo de junho; o Conclat sobre unificação será nos dias 5 e 6 de junho em Santos. As centrais pelegas pretendem realizar uma manobra barata na tentativa de ofuscar a realização do o Conclat, que já vem se transformando em um pólo de atração para os ativistas do movimento sindical cansados da submissão governistas da maioria das centrais sindicais.

A Conlutas tem orgulho de sua trajetória de lutas e levará toda sua experiência para o Conclat de unificação. A classe trabalhadora precisa de uma nova ferramenta para lutar e assim superar as amarras imposta pelo sindicalismo governista. Nesse sentido, o dia 30 de janeiro, durante a realização da edição do Fórum Social Mundial em Salvador (BA), a Plenária Nacional do processo de reorganização será primeiro passo em 2010 para a realização deste desafio.