Por agora os mercados suspiram de alívio. O último plano de austeridade grego foi aprovado no parlamento e tanto o Banco Central Europeu como o FMI já deram luz verde para o dinheiro de mais uma parcela de “ajuda” à Grécia. Mas até quando os governos, os bancos e os mercados poderão continuar tranquilos?

A crise econômica e politica na Grécia tomou um novo salto com a aprovação de um vasto plano de privatizações, na ordem dos 50 bilhões de euros, entre 2012 e 2015.

O novo pacote de austeridade inclui também 6,4 bilhões em reduções de custos previstos no orçamento de 2011, incluindo uma “taxa de solidariedade” excepcional para os empregados do sector privado, do público e das profissões liberais.

Esse plano de “austeridade” (para os trabalhadores e o povo em geral) terá como contrapartida uma serie de empréstimo da chamada Troika (Comissão Européia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

Em troca da liberação da nova parcela de 12 bilhões de euros, os gregos deverão reduzir seu déficit em 28 bilhões entre novos cortes na despesa e aumento dos impostos à qual se juntam o vastíssimo plano de privatizações no valor de 50 bilhões.

Tudo isso em um cenário de uma crescente preocupação dos EUA e do FMI com a situação européia e em particular com um cenário de “default” grego que poderia desencadear uma nova crise no sistema bancário.

O multimilionário especulador George Soros manifestou suas preocupações e disse que acredita que um país acabará por deixar a zona euro, sem dizer qual.

“Estamos à beira de um colapso econômico que começa, digamos, na Grécia, mas que pode alastrar facilmente” , disse Soros num painel de debate em Viena (Áustria) sobre se a democracia liberal está em risco na Europa, citado pela agência Bloomberg.

Essa preocupação de Soros está conectada ao que disse o Banco Central Europeu que, direta e indiretamente, domina 40% da dívida pública grega.

Uma quebra da Grécia significa expor o conjunto da economia europeia. Alguns dos principais afetados seriam BCE: que detém diretamente de 49 a 50 bilhões de euros ; Veículos financeiros de resgate da União Europeia que detêm 38 bilhões; Fundo Monetário Internacional com 15 bilhões; Eurobank (banco grego) com 9 bilhões; FMS (fusão do Depfa com o Hyporeal Estate alemães), trata-se do primeiro banco alemão desta lista, com 6,3 bilhões e BNP Paribas, o primeiro banco francês desta lista, com 5 bilhões, entre outros.

Na Espanha, dois anos de recessão deixaram o país com uma taxa de desemprego de 21,3% – a mais alta entre as 17 nações que integram a zona do euro – e com uma dívida soberana enorme. O desemprego chega a 35% quando são considerados apenas os espanhóis entre 16 e 29 anos de idade. Muitos jovens com ensino superior não conseguem encontrar trabalho.

Em Portugal uma combinação de medidas impostas pela troika e pelo novo governo de direita PSD/CDS tais como maior precariedade laboral a todos os níveis com “maior flexibilização do período experimental” e “simplificação no processo de cessação de contratos”, a diminuição das indenizações por demissões, e criação de um fundo publico para financiar metade dos subsídios (ou seja para além de ser mais fácil e barato despedir, metade dos custos dos demissões vão ser arcados pelo estado) alem do projeto do PSD-CDS (atual coligação governante) que prevê um amplo plano de privatizações, EDP e REN (empresas responsáveis pela distribuição de energia eléctrica), CP (transportes ferroviários), CCT (correios), TAP (transportes aéreos), ANA (empresa gestora dos aeroportos nacionais). Como se não bastasse já foi anunciado um imposto extraordinário de 50% sobre o subsídio de Natal.

2 – A reação operaria e popular
As principais centrais sindicais gregas convocaram uma greve geral de 48 horas nos dias 28 e 29 de Junho, data da votação no Parlamento do novo plano de austeridade aprovado pelo governo e exigido pela Zona Euro.

O exemplo árabe que gerou o movimento “indignados” na espanha, chegou à Grécia onde um grupo de “indignados” se mantém acampado acampou em frente ao parlamento grego mesmo depois de ter sido aprovado o último pacote de austeridade. (dos acampamentos dos indignados os gregos são os únicos q estão acampados em frente ao parlamento, os restantes foram em grandes praças).

A grande participação na Greve Geral e os protestos e enfrentamentos violentos nas ruas das principais cidades gregas deixa claro que a batalha pela consciência das massas contra os planos de ajustes esta ganha.

O fato de o parlamento grego ter aprovado o plano de ajuste apresentado pela troika demonstra apenas que o parlamento e o governo grego respondem aos interesses dos grandes capitalistas europeus e não das massas gregas.

O fenômeno das mobilizações de massas na Europa demonstram que há não só um profundo descontentamento na classe trabalhadora e nos setores populares, como também um questionamento a democracia representativa.

O exemplo dos protestos na Espanha que começaram em 15 de maio e desde então se alastraram por várias cidades do país, alimentando-se da insatisfação de milhares de pessoas cansadas de cortes salariais e aumentos de impostos que, segundo as autoridades, são necessários para solucionar a crise financeira pela qual passa a nação é mais uma demonstração disso.

Respondendo à convocatória do movimento 15M, mais de 150 mil manifestantes ocuparam a Praça de Neptuno, para expressar a sua oposição ao pacto do euro e aos sistemas político e financeiro, culpados da crise. Em Barcelona eram 270 mil e em Valência vários milhares. O protesto em Paris foi marcado pela detenção de 100 pessoas.

Em Portugal, prevendo que o descontentamento popular contra as medidas da Troika e Governo vai ser significativo um deputado do PSD, entre outros, apelou ao PCP para que seja “razoável” e controle a agitação social que se prevê devido à aplicação do programa de ajuda externa a Portugal. Se o PCP vai ou não atender a estes pedidos é para já uma incógnita. No entanto pode ser que a população não fique à espera das centrais sindicais e avance sozinha tal como o fez a 12 de Março quando mais de 200mil pessoas, convocadas via Facebook, tal como nas revoluções árabes, sairam à rua por todo o país em protesto contra os planos de austeridade. Esta manifestação foi a grande responsável pelo derrube do anterior governo e convocação de eleições antecipadas.

3 – Economia e política de mãos dadas
Ha uma frase que diz que economia é política concentrada. Nos últimos dias o continente europeu tem visto isto elevado a ultima potencia. No melhor estilo Latino Americano órgãos “econômicos” internacionais ditam ao parlamentos dos países mais frágeis do velho continente as políticas sociais e econômicas a serem adotadas para salvar a economia capitalista.

Do outro lado as massas, seguidas ou não por suas organizações resistem a essas políticas que afetam diretamente a suas economias.

As lutas travadas na Grécia, Espanha e Portugal geram terror a suas classes dominantes. No dia 18 de Junho era possível ler no Vanguardia, jornal espanhol, que os jovens de hoje vivem pior que seus pais e possivelmente que seus avós.

Todos os noticiários portugueses estavam alucinados com a possibilidade de que o pacote grego fosse rejeitado.

A “alta” política burguesa esforça-se para demonstrar que Portugal não é a Grécia em uma atitude muito parecida com os políticos brasileiros que demonstravam a cada crise argentina que Brasil e Argentina não eram iguais.

Nessa latino-americanização da política e economia dos PIGS um destaque deve ser dado às direções do movimento operário. Com uma história de dois séculos de reformismo que muitas vezes conseguiu beneficios para a classe operária europeia, nomeadamente o Estado Social do pós-guerra, as direcções do movimento operário encontram-se altamente burocratizadas e dependentes do sistema que dizem combater.

As derrotas eleitorais sofridas pela velha esquerda européia, na Espanha e em Portugal, é um indicio de que seu discurso e pratica conciliadora perderam espaço junto das massas em geral.

4 – O desafio da esquerda revolucionária
Com uma tradição revolucionaria de séculos, com um nível cultural e político invejável e um grau de organização alto, o proletariado europeu se encontra órfão.

Suas principais organizações são abertamente traidoras e conciliacionistas irremediáveis.

As poucas que de alguma forma tem ido as lutas o fazem sob a pressão irresistível da ação espontânea das massas, dos protestos auto organizados, e em nenhum caso se propõem a passar dos limites do sistema capitalista.

A crise européia coloca em vermelho vivo a afirmação de que a “crise da humanidade é a crise de direção revolucionaria”.

No entanto, as possibilidades que se abrem agora são ímpares. Basta lembrar que o Maio de 68 permitiu a uma correte trotskista francesa, a LCR, dar um salto de qualidade, para vermos que o desafio que nos toca é o de aproveitar com todas as nossas forças a situação que se abre.

Finalmente, as vitórias e derrotas conjunturais do próximo período não nos podem impressionar.

A batalha atual que começou no campo econômico, combinou-se com a crise árabe, aprendeu com ela e entrou de pleno no campo político. Já não são apenas as medidas econômicas que determinarão o futuro político da Europa, mas também as medidas políticas dos campos em luta que determinarão o futuro econômicos das classes sociais.