Há 40 anos, os Beatles lançaram o álbum “Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band“, disco síntese da psicodelia e das revoluções comportamentais dos suingados anos 60.
Lançado em 1° de junho de 1967, “Sergeant Pepper’s” foi a trilha sonora definitiva para os anos finais de uma década marcada, também, pela “revolução” do paz & amor, pelas experiências (e cores…) psicodélicas, pela exaltação libertária do feminismo, pelos movimentos negro e homossexual, pela prazerosa celebração do sexo livre. E a “concorrência” de discos aptos a embalar tudo isso não era nada desprezível.

Naquele mesmo ano, foram lançados outros tantos discos que marcaram época, como “Are You Experienced”, de Jimi Hendrix, “The Velvet Underground and Nico” e “Surrealistic Pillow”, do Jefferson Airplane, além de trabalhos igualmente revolucionários de Bob Dylan, Frank Zappa, Brian Wilson e Pink Floyd.

As belíssimas e inspiradas letras de “Sergeant Pepper’s”, bem como seus ousados arranjos, entraram para a história como o primeiro disco que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr lançaram depois que o grupo, cansado, dentre outras coisas, do fanático assédio que os cercava, decidiu parar de fazer shows e produzir um álbum totalmente em estúdio. O que acabou fazendo do disco mais do que um simples apanhado de músicas, mas sim uma obra com identidade própria, formatada como um roteiro, sem interrupções entre as faixas.

Toda a concepção do álbum, inclusive, girou em torno da idéia de que ali não estavam os Beatles, e sim uma banda inventada, a Sgt. Pepper`s Lonely Hearts Club Band (algo como “A Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta”. Um ponto a mais no quesito criatividade, num disco que ainda estava recheado de inovações musicais e técnicas revolucionárias de gravação em estúdio – onde eles se trancaram por seis meses, acompanhados, ao final, por uma orquestra de 160 instrumentos. Isso pra não falar na capa, que é um capítulo à parte.

“Quarentão”, mas ainda vibrante em todos os cantos do mundo, “Sgt. Pepper’s”, de fato, merece ser comemorado. Não só porque continua repercutindo na música mundial, mas também por ainda ecoar fundo nos corações e mentes daqueles que, apesar do quase asfixiante cenário cultural da atualidade, resistem em alimentar as fantasias e os sonhos libertários que deram origem ao lendário disco.

Uma viagem musical
“Sgt. Pepper” consolidou a ruptura definitiva dos Beatles com seu passado de “reis do iê-iê-iê” – iniciada com “Rubber Soul” (1965) e, principalmente, com “Revolver” (1966).

Na primeira faixa, os músicos fazem um convite à viagem pela qual ele nos levará através de uma espécie de concerto, com os instrumentos sendo afinados e o público se acomodando na platéia. Na seqüência, vem “With a Little Help from my Friends”, seguida da alucinada “Lucy in the Sky with Diamonds”, cujas inicias, LSD, até hoje provocam infindáveis debates.

Daí em diante, o que se pode ouvir é uma sucessão de inesquecíveis canções – a maioria delas compostas por Lennon e McCartney –, cheias de lirismo e poesia, como “A Day in the Life”, “When I`m 64”, “Within You Without You”, “Lovely Rita”, “She’s leaving home” ou “Good Morning Good Morning”. Músicas nos quais podem ser verificadas a sofisticação de arranjos musicais que mesclam influências do blues, do rock clássico, do jazz e, inclusive, das cítaras inspiradas pelo indiano Ravi Shankar, uma das principais referências dos Beatles na época.

Duas outras músicas que faziam parte do projeto inicial, “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever”, não foram lançadas no álbum devido a pressões dos produtores, mas saíram em compacto no mesmo ano, praticamente se incorporando à lenda que cerca o disco.

Foi exatamente a diversidade musical e poética do álbum que o transformou em trilha sonora do chamado “Verão do Amor”, em 1968. Os hippies, os herdeiros da geração “beatnik” (ler matéria no site) e uns tantos outros representantes da “contracultura” espalhavam suas sementes pelo mundo em meio aos coquetéis “molotov”, que anunciavam o levante mundial da juventude e dos chamados setores oprimidos (como negros, mulheres e homossexuais), que estavam dando passos decisivos em suas lutas.

O fato de os Beatles terem sido um dos principais porta-vozes desse momento, também não é casual. Londres, nessa época, era conhecida como a “Swingin’ London”, palco da criatividade provocativa que contaminava a moda (através das minissaias de Mary Quant), filmes anarquicamente subversivos, como “If…”, de Lindsay Anderson (que conta a história de um radical grupo de rebeldes numa tradicional escola britânica), ou as ruas de uma cidade por onde a diversidade cultural e comportamental desfilava com desenvoltura e gingado.

Tudo que tenha a ver com os Beatles sempre foi cercado de polêmicas. Para muitos, o grupo não passou de uma das várias tentativas de “branqueamento” do rock, organizadas por estúdios sedentos por dinheiro (“vício”, segundo os críticos, amplamente compartilhado pelos Beatles) e apavorados em ver a juventude branca de classe média agitando seus corpos embalados por sonoridades de origem indiscutivelmente negras. Para tantos outros, o grupo e suas produções são, até hoje, motivos de verdadeiro culto.

Polêmicas e exageros à parte, o fato é que não se pode negar a influência e a importância de “Sergeant Pepper’s” – que já foi considerado o “disco de rock mais influente de todos os tempos”, pela revista Rolling Stone, não só para a música mundial, mas também para os próprios Beatles, inclusive para sua separação definitiva, em 1970.

Foi a partir de 1967, que Lennon tomou um rumo mais experimental e político, Harrison se embrenhou pelas sonoridades orientais, Ringo Star e, principalmente, Paul McCartney desenvolveram suas bem sucedidas carreiras solo.

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