O capitalismo significa desigualdade em todos os momentos, mas é nas crises econômicas que apresenta sua face mais cruel. Enquanto os governos de todo o mundo se preocupam em salvar os grandes bancos quase falidos, dando a eles mais de US$ 600 bilhões, explode o preço dos alimentos, aumentando a fome no mundo.

Alguns desses bancos aplicam o dinheiro recebido na especulação com o preço dos alimentos. O resultado é que o preço do arroz duplicou nos três primeiros meses de 2008, causando a fome em muitos países. Como dizia Chico Science, os de cima sobem e os de baixo descem.

Por que os preços dos alimentos sobem?
O aumento de preços tem razões profundas e outras mais imediatas. É principalmente um reflexo da globalização na produção agrária em todo o mundo. As grandes empresas do agronegócio controlam o campo, o que leva a conseqüências muito sérias: o agravamento da concentração das terras (com a expulsão dos camponeses do campo) e a regulação dos preços dos alimentos pelo mercado mundial (o que encarece os produtos). No fim das contas, existe a perda da soberania alimentar dos países, que deixam de produzir a comida necessária para a população, dirigindo a produção para a exportação.

O crescimento da produção de biocombustíveis também aprofunda o problema. A produção de etanol no Brasil cresce rapidamente, diminuindo a área destinada à produção de alimentos.

A isso se agrega a especulação com os alimentos, conseqüência do início da crise, e o deslocamento dos capitais especulativos para este “filão lucrativo”.
Isso é só o início de um processo que terá conseqüências bem mais graves, com a generalização da recessão econômica que começou nos EUA.

A festa do governo e das multinacionais
A economia ainda está crescendo, a crise econômica não explodiu. Ao contrário, a indústria automobilística nunca produziu e vendeu tanto e o país acaba de receber o “grau de investimento”, dado pela Standard&Poor’s.

Isso significa que as empresas multinacionais consideram o país um lugar seguro para investir e especular. E têm boas razões para isso: o Brasil é um paraíso para as multinacionais e os bancos. Os dois maiores partidos, PT e PSDB, têm o mesmo programa neoliberal. Lula vem aplicando as medidas econômicas iniciadas por FHC, e ainda mantém uma grande popularidade entre os trabalhadores.

No entanto, a economia brasileira também dá mostras de esgotamento: as contas externas estão vindo abaixo. As transações correntes saíram de um superávit nos últimos cinco anos para um déficit de US$ 10,7 bilhões nos três primeiros meses de 2008, o pior da história.

Isso é causado pela queda do superávit comercial (US$ 4,4 bilhões no primeiro trimestre de 2008 contra US$ 13,4 bi em 2007) e o aumento do envio de lucros das multinacionais para o exterior (US$ 8,6 bi em 2008, 118% a mais do que no ano passado).

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