Dilma anuncia que desoneração na folha será permanente
Agência Brasil

Inflação e dívidas para as famílias, desoneração e subsídios às empresas

A divulgação do resultado do PIB (o Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país) nesse primeiro trimestre do ano confirmou a tendência de estagnação da economia. O país cresceu pífios 0,2% em relação ao trimestre passado e reduziu ainda mais as já modestas previsões de expansão para 2014. No melhor das hipóteses, aposta-se num crescimento de apenas 1%.

Praticamente todos os principais setores tiveram queda, a começar pela indústria, que já vive na prática uma recessão. Mesmo com a política de generosos subsídios via BNDES e desoneração oferecida pelo governo, a produção industrial recuou 0,8%. A construção civil que foi um dos setores mais dinâmicos dos últimos anos teve queda de 2,3%.

O consumo das famílias, por sua vez, impactada pela alta da inflação nesses primeiros meses do ano, e mais endividada pelo aumento dos juros, retrocedeu 0,1%. É a primeira vez desde 2011 que o consumo cai.

Longe de ser um soluço ou um ponto fora da curva, como faz parecer o governo, os números divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reforçam uma dinâmica desses últimos anos, e apontam perspectivas que não são das melhores. Os investimentos, que determinam o ritmo de crescimento, tiveram uma queda significativa de 2,1% nesse trimestre, mesmo com as obras da Copa. Com isso, a taxa de investimento do Brasil caiu de 18,2% para 17,7%.

A freada da economia forçou o governo e o Banco Central a interromperem o aumento da taxa Selic, a taxa básica de juros, que parou nos 11%. No entanto, além dessa taxa ser ainda uma das maiores do mundo, os efeitos do aumento no último período ainda vão se aprofundar. O juro dos bancos às pessoas físicas, por exemplo, era de obscenos 42% ao ano em abril, a maior taxa desde 2011.

A tendência é as dívidas das famílias crescerem ainda mais. Segundo projeção do banco Credit Suisse publicada pela Folha de S. Paulo, as famílias brasileiras gastam hoje o equivalente a 21,9% dos rendimentos com juros e amortizações de dívidas, proporção que deve subir para 23% até o final do ano, e 23% em 2015, quando deve atingir valor recorde.

O PIB desse primeiro trimestre só não foi pior devido ao crescimento do setor agropecuário. As exportações de commodities (matérias-primas) aumentaram 2,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Resultado impulsionado pelo crescimento da cotação do preço da soja e do café no mercado internacional. Tendência que não foi capaz de reverter a piora na balança comercial do país (a diferença entre exportações e importações, ou seja, tudo o que o Brasil compra e vende lá fora), que teve, em maio, o valor mais baixo em 12 anos.

Dilma Roussef vai fechar seu mandato com uma média de crescimento próximo de 2%, a pior média de um mandato desde que o PIB é medido, a partir dos anos 1940. Endividadas e sofrendo com a inflação, as famílias reduzem o consumo e a indústria se retrai, mesmo com as políticas de benefícios do governo. Por outro lado, reafirma-se o processo de desindustrialização do país e o seu papel de grande exportador de commodities.

Inflação para os pobres, isenção para as empresas
O país ainda não está em recessão, mas grande parte da população já sente os efeitos da estagnação, principalmente através do endividamento e da inflação, sobretudo dos alimentos que afeta os mais pobres. A onda de greves, muitas delas radicalizadas, nesse último período mostra isso. O governo Dilma e os governos estaduais, por sua vez, respondem a isso com criminalização, judicialização das greves e ameaças.

Já para os empresários e fazendeiros, o tratamento é outro. O governo acaba de anunciar a expansão da política de desoneração da folha de pagamentos aos empresários de 56 setores diferentes, além de tornar a medida, que valeria até o final de 2014, permanente. Com isso, a Previdência vai deixar de arrecadar R$ 21,6 bilhões só este ano. Já os ruralistas se reuniram com Dilma no final de maio e, após uma tarde inteira de conversa, saíram sorridentes e satisfeitos com as promessas feitas pela presidente.