Zé Maria

Metalúrgico e presidente nacional do PSTU.

Quando ficou clara à possibilidade de derrota do PT em Porto Alegre, diversas vozes desse partido defenderam a mudança do Fórum Social Mundial para outra cidade. Lula, por sua vez, criticou o Fórum por “discutir muitos temas” e propôs que se discutisse um único ponto, que seria o plano contra a fome, a partir da experiência do Plano Fome Zero, além de defender também a mudança do Fórum para Recife.

Depois das eleições, formou-se um movimento pela mudança do local do Fórum, com sugestões de Belo Horizonte ou Recife, cidades onde o PT ganhou as eleições. Uma das primeiras vozes a defender essa proposta foi Emir Sader.

Uma nota da secretaria internacional do Fórum, de 3 de novembro, encerra a polêmica ao confirmar a data (26 a 31 de janeiro) e o local do Fórum – Porto Alegre. Foi derrotada, assim, ao menos conjunturalmente, uma visão aparatista que associa o Fórum necessariamente a uma prefeitura petista.

A manutenção do Fórum em seu local tradicional no Brasil, no entanto, não assegura que ele cumpra uma jornada positiva para o movimento de massas. Até agora, os Fóruns vêm servindo para aglutinar discussões ao redor da frase-tema “Um outro mundo é possível”.

Sem a necessidade de uma revolução, seria possível mudar completamente o mundo? Uma enorme legião de intelectuais, ONGs, partidos reformistas, ex-revolucionários arrependidos acham que sim e apresentam, com toda a pompa, velhas receitas reformistas requentadas para parecerem novidades: a defesa da cidadania, passando por cima do conceito de classe; a ampliação da democracia, como o orçamento participativo, como opção à destruição do Estado.

Paralelamente a esse Fórum oficial, existiu, desde o primeiro Fórum, uma atividade paralela de organizações revolucionárias, que se reuniam sob o lema “um outro mundo socialista é possível”.

Já estamos na V edição do Fórum, e é importante ver a evolução de cada uma das propostas. É inegável que o próximo Fórum será diferente dos demais. O “oba-oba” ao redor do PT já refluiu e não foi só por causa da derrota de Porto Alegre.

Toda a expectativa de “um outro mundo”, que seria possível atingir pelas eleições, se materializou no Brasil, por meio do governo Lula. Veio o governo petista, e o outro mundo não veio. Passados já quase dois anos de mandato, e segue o mesmo mundo capitalista, a fome, a miséria, o FMI.

Emir Sader (mais uma vez ele), em uma matéria para injetar ânimo na idéia-mãe do Fórum, dá como exemplo de “outro mundo possível” a reforma agrária do governo Lula (que é ainda menor que a de FHC) e os CEUs de Marta Suplicy em São Paulo (com o respectivo abandono do restante da rede pública de ensino).

A verdade é que já estamos distantes das primeiras edições do Fórum, e hoje Lula não seria recebido como foi em 2003. Deve se reconhecer a importância dos encontros paralelos, organizados por setores revolucionários, como os do PSTU, nas edições passadas.

No próximo Fórum, o Conlutas realizará um Encontro Nacional, precedido por um Encontro do Conlute (juventude) e outro Encontro do Conlutas Popular. Além disso, promoverá um grande debate sobre o governo Lula e as esquerdas. O PSTU e a Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI), por sua parte, realizarão um debate sobre a esquerda e a democracia na América Latina.
Post author José Maria de Almeida, o Zé Maria, é Presidente Nacional do PSTU e integra a Coordenação da Conlutas
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