Foto Rodrigo Barrenechea

6 de março foi um primeiro passo, precisamos construir nas lutas uma alternativa classista e de esquerda aos campos do governo e da oposição de direita

As paralisações e manifestações ocorridas no dia 6 de março, a partir do chamado da CSP-Conlutas e outras entidades, demonstram que há disposição, entre os trabalhadores, de mobilizar em defesa dos direitos ameaçados pelo ajuste fiscal de Dilma, dos governadores e prefeitos, e em defesa do emprego e dos direitos trabalhistas.

As paralisações dos operários da construção civil de Belém e Fortaleza, dos petroleiros da FAFEN (fábrica de fertilizantes da Petrobras) e cimenteiros da Nassau de Sergipe, da confecção feminina de Fortaleza, dos metalúrgicos da GM e outras fábricas de São José dos Campos (SP) e também dos metalúrgicos no interior de Minas Gerais, dentre outras, foram uma pequena, mas importantíssima amostra de que há, no interior da classe operária, uma disposição de luta que pode ser canalizada pelas direções sindicais para derrotar as políticas de ajuste dos governos e dos patrões.

A esses setores da classe operária se somaram servidores e estudantes da USP que paralisaram as atividades contra a ameaça de demissão de 3000 servidores. No Rio de Janeiro, o ato nacional contra a privatização dos serviços públicos e a EBSERH (empresa criada para gerenciar os hospitais universitários privatizados) teve a adesão dos trabalhadores demitidos do Comperj e de servidores de diversos estados do país.

E pelo país afora ocorreram manifestações, algumas delas antecipando as comemorações do dia internacional da mulher trabalhadora, além de bloqueio de vias, panfletagens e atos públicos.

Construir uma alternativa aos campos do governo e da oposição de direita
O dia 6 demonstrou que existe um espaço político para a construção de um campo de esquerda independente dos governos, dos patrões e da oposição de direita. Os trabalhadores se mobilizaram por uma pauta política, contra medidas do governo que atacam os direitos da classe. Construir um verdadeiro plano de lutas rumo a uma greve geral no Brasil é a tarefa que se coloca, para derrotar a ofensiva patronal e dos governos. Para isso precisamos ter ousadia e muita iniciativa política, para acumular forças e romper a falsa polarização que está colocada hoje na sociedade, entre aqueles que sustentam o governo Dilma e a oposição capitaneada por setores mais à direita.

O sentimento de muitos trabalhadores a favor do impeachment é uma demonstração de que a insatisfação, cada vez mais generalizada com o governo de Dilma, pode ser canalizada para uma alternativa também de direita. A responsabilidade por essa situação é, em primeiro lugar, do PT e do seu governo. Dilma foi à televisão no dia 8 de março e, numa provocação que fez lembrar o discurso de Collor de Melo que resultou no início da campanha pelo “Fora Collor”, pediu paciência às pessoas, ao mesmo tempo em que reafirmou o pacote de ajuste fiscal, as medidas provisórias que atacam o seguro desemprego, o PIS, as pensões e outros direitos.

Durante o pronunciamento ocorreram manifestações em bares e restaurantes, panelaços e buzinaços em pelo menos doze capitais. Ainda que na maioria dos locais os panelaços tenham ocorrido em bairros de classe média, nas fábricas, muitos operários dizem ser a favor da saída de Dilma e tem simpatia pelas manifestações do dia 15.

Nós entendemos esse sentimento, mas afirmamos aos trabalhadores que não devemos participar das manifestações do dia 15. Essas manifestações se apoiam nesse sentimento justo de indignação dos trabalhadores, mas são patrocinadas por setores que defendem uma alternativa reacionária para o povo, como o PSDB e o DEM. E sua política tem como consequência que o poder passe às mãos do vice, Michel Temer, ou do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ambos do PMDB, e metidos até o pescoço no escândalo de corrupção da Operação Lava Jato.

O lamentável papel da CUT e do MST
Já a CUT, MST, UNE, CTB, a Consulta Popular e outras organizações pró-governo, vão realizar manifestações no dia 13 de março levantando bandeiras como a reforma política, a defesa da Petrobras e criticando as medidas econômicas do governo Dilma. Essas organizações tem se reunido com setores do PSOL e o MTST, numa tentativa de construção do que chamam de uma frente de esquerda.

No interior dessa frente não chegaram a um acordo sobre o dia 13, mas, como de outras vezes, cada um fará o que quer, e a maior parte dessa frente estará nas ruas defendendo o governo Dilma, mesmo com todos os ataques que vem patrocinando. Por esse motivo não estaremos nos atos do dia 13. Não é possível defender o governo que patrocina alguns dos maiores ataques à nossa classe com a desculpa de que a “direita vem aí”!

A responsabilidade desse setor é muito grande. Trata-se de alguns dos maiores movimentos sociais e centrais sindicais do país, com capacidade de mobilizar milhares, senão milhões de trabalhadores. No entanto, até agora, a postura dessas organizações tem sido a de acobertar os ataques de Dilma, como se fossem de responsabilidade da direita, de dentro e de fora do governo, como dizem, mesmo contra o sentimento das bases que dirigem.

Essa política desarma a nossa classe, impede a unidade no momento em que mais precisaríamos estar unidos.

Um chamado à CUT, ao MST e demais centrais
A CSP-Conlutas, entendendo a importância da unidade na luta, aprovou em sua Coordenação Nacional um chamado a essas organizações e às demais centrais sindicais, como a Força Sindical, para que rompam as negociações com o governo e unifiquemos os nossos esforços para realizar um dia de greve geral no país.

A pauta de exigências e reivindicações teria como eixos a revogação das Medidas Provisórias que atacam direitos trabalhistas e a Previdência, o arquivamento do PL 4330 das terceirizações, o fim das demissões e a defesa da estabilidade no emprego, contra os cortes do orçamento da saúde e educação e a suspensão do pagamento da dívida pública aos banqueiros.

O momento atual exige que a direções da CUT, do MST e da UNE rompam com o apoio político que seguem dando ao governo Dilma e, junto com a CSP-Conlutas e as demais centrais, organizem a construção da greve geral pela derrubada das MP’s e outras medidas de ataque aos direitos de nossa classe pelo governo e pelos patrões.

Organizar plenárias nos estados, mobilizar as bases e construir um novo dia nacional de luta, rumo à greve geral
As entidades que compõem o Espaço de Unidade de Ação realizaram uma reunião no último dia 6, após o ato contra as privatizações, que aconteceu no Rio de Janeiro. Dentre os encaminhamentos da reunião foi apontada a necessidade de construir um novo dia de mobilização, com paralisações, a ser realizado de 7 a 9 de abril, coincidindo com as jornadas de mobilização dos servidores públicos federais.

Uma nova reunião será realizada em São Paulo no dia 20 de março, antecedida por reuniões nos estados e nas entidades sindicais, estudantis e dos movimentos populares para debater a nova data de luta. Decidiu-se ainda pela participação no Dia Nacional em Defesa da Educação, em 26 de março, junto com as entidades estudantis, como a ANEL e o Juntos e sindicatos de trabalhadores das universidades.