A França, palco de tantas lutas e revoluções, como o Maio de 1968, ou ainda, da heróica greve geral de 1995, golpeou duramente as intenções neoliberais da burguesia imperialista européia. No último domingo, quase 55% dos eleitores votaram pelo “não” à Constituição Européia. De nada adiantaram as ameaças e os apelos feitos pelo presidente francês Jacques Chirac e de toda grande imprensa mundial pedindo para a população votar no “sim”, pois do contrário “a Europa ficaria em pane”, como disse Chirac. Ele deixou de dizer, porém, que quem realmente ficaria em pânico seriam as elites do continente.

Desde a criação da União Européia, uma onda de privatizações e ataques aos direitos dos trabalhadores abateu-se no Continente. A Constituição Européia é parte fundamental para a manutenção dessa política. No seu texto, estavam previstos mais destruição dos direitos trabalhistas, rebaixamento dos salários, destruição e privatização dos serviços públicos e a transferência de fabricas, lá chamadas de “deslocalização”, para países onde os salários são miseráveis. Tudo para aumentar os lucros dos empresários.

De nada adiantaram também as campanhas do Partido Socialista em prol do “sim”. Mergulhado numa profunda crise e com a sua base dividida, o PS apenas fez jus à fama de ter sido o partido que, quando esteve no governo com Leonel Jospin, mais realizou privatizações. Do mesmo modo, o governo de direita de Chirac sai do plebiscito extremamente enfraquecido e deve anunciar a dissolução do seu gabinete nos próximos dias.

A vitória do “não” na França ameaça o pacto das elites européias de imposição dessa Constituição neoliberal. Afinal França e Alemanha são as maiores economias da região. O efeito poderá se alastrar por outros países da Europa onde serão realizados plebiscitos pela adoção da Constituição. O próximo plebiscito será na Holanda, onde pesquisas indicam que haverá grande rejeição à Constituição.

Instala-se uma crise no centro político do projeto de unificação neoliberal da Europa. Somadas as derrotas eleitorais de Gerhard Schröder na Alemanha e de Berlusconi na Itália, e com o fraco desempenho eleitoral de Tony Blair na Inglaterra, o que se vê é uma mudança de curso do velho continente. Lá, como aqui na América Latina, os trabalhadores travam uma luta decisiva contra o neoliberalismo.

Post author Zé Maria, presidente nacional do PSTU e integrante da Conlutas
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