Existem momentos na vida política que valem mais que sua própria duração.

Clinton e Bush foram ao Haiti para ver o país depois do terremoto. Repetiam a farsa da ajuda humanitária, na verdade a dominação econômica e militar agora assegurada por 13 mil soldados norte-americanos. Um jornalista flagrou o momento em que, logo depois de um aperto de mão a um haitiano, Bush limpou a mão com nojo na camisa de Clinton.

Por trás desse momento, existe toda uma estratégia de exploração do país mais pobre das Américas. A miséria haitiana dá muito lucro, pois as multinacionais têxteis podem produzir muito próximo dos EUA, pagando um salário equivalente a R$ 110 mensais. E agora, a suposta reconstrução do Haiti vai possibilitar negócios para construtoras multinacionais. É isso que justifica a visita de Clinton e Bush.

Lula visitou o Haiti em fevereiro passado para assegurar que as tropas brasileiras sigam no país. Pelo seu peso entre os trabalhadores brasileiros, Lula consegue fazê-los acreditar que as tropas têm uma missão humanitária. O verdadeiro papel dos soldados no Haiti, porém, é assegurar a estabilidade do país, através da repressão às mobilizações dos trabalhadores.

Não houve um momento revelador na passagem de Lula pelo Haiti. Talvez pudesse ocorrer antes, se um repórter tivesse coberto a visita ao país de uma delegação de empresários brasileiros em 2009. Nela estava o filho do vice-presidente José de Alencar, dono da Coteminas, uma das maiores empresas têxteis brasileiras, também interessada na exploração dos trabalhadores haitianos e na exportação para os EUA.

Mas a esquerda socialista também tem grandes momentos de luta contra a exploração de nossos povos, que marcam positivamente toda uma geração. Nesses dias está se dando um desses momentos. Enquanto fechávamos essa edição uma delegação da Conlutas partia para o Haiti e, como parte dela, estava Zé Maria, que também é o pré-candidato à presidência pelo PSTU. Trata-se do primeiro – e talvez o único – candidato a visitar o Haiti.

Se Lula abandona todas as tradições da esquerda ao se aliar a Bush, Clinton e Obama na ocupação militar do Haiti, Zé Maria vai a esse país para mostrar que o governo não fala em nosso nome.

A solidariedade ativa da Conlutas, conseguida junto aos trabalhadores e estudantes brasileiros, vai ser entregue aos trabalhadores e estudantes haitianos, através de Batay Ouvriyé (Batalha Operária), para que isso sirva também para a luta contra a ocupação militar.

O internacionalismo concreto é parte das tradições da esquerda socialista. Nos tempos atuais, em que vemos tantos exemplos da degradação da esquerda simbolizadas nas práticas do PT, é muito bom resgatar bandeiras tão importantes como o internacionalismo proletário.

Os holofotes da imprensa burguesa não estarão lá, mas seguramente os ativistas que saberão dessa visita estarão orgulhosos de saber que sua luta contra a ocupação militar do país vai estar representada nessa delegação. E ajudarão a divulgá-la, lutando contra a corrente.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 401
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