Os balneários às margens do mar Vermelho, no Egito, foram mais uma vez cenário para a assinatura de um acordo entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP). O cessar-fogo foi anunciado pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas, e pelo premiê de Israel, Ariel Sharon, dias após a visita da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, à região. É a segunda tentativa de um acordo, após a morte de Yasser Arafat. “Concordamos com o primeiro-ministro, Ariel Sharon, em cessar todos os atos de violência contra israelenses e palestinos onde quer que estejam“, disse Abbas.

Na prática, é o resultado do endurecimento da repressão do exército de Israel na Palestina, com destruição de casas, mortes e prisões a esmo e até a construção de um muro isolando os territórios. Em sua estratégia de guerra, Sharon chegou até a prometer a ‘eliminação’ do líder Yasser Arafat. No encontro no Egito, nada disso foi citado. Os únicos pontos anunciados por Israel foram a mudança de orientação de seu exército, que passará a ter uma postura ‘defensiva’, e a libertação de 500 presos palestinos na próxima semana.

Muitos são os assuntos deixados de lado. Sharon não anunciou nenhum recuo na construção do ‘Muro da Vergonha’ e tampouco tocou em temas cruciais, como o das fronteiras e o retorno dos refugiados à suas terras. Ainda assim, Abbas avança na capitulação e na traição da nova Intifada, iniciada em setembro de 2000.

O acordo com Israel não representa o conjunto das organizações palestinas: “Não vimos nenhuma ação do lado israelense para mostrar sua seriedade“, declarou Hassan Youssef, do grupo Hamas. Como mostra disso, uma marcha reuniu milhares de palestinos e praticamente todas as organizações em Gaza, pela libertação dos cerca de 8.000 palestinos em prisões israelenses.

CÃO DE GUARDA – Uma das maiores exigências de Israel para um acordo definitivo é que a Autoridade Nacional Palestina reprima e acabe com os grupos que mantém ataques suicidas e combatem militarmente o exército israelense. Abbas fará o jogo sujo de Israel, como em 2003, quando foi primeiro-ministro da ANP e anunciou que iria “combater as milícias”. Isso poderá vir a acontecer mais rápido do que se imagina. Em três semanas, o controle de cinco cidades palestinas – Ramallah, Tulkarem, Qalqiliya, Jericó e Belém – deverá ser transferido às forças de segurança da ANP.

Para fazer o papel de cão de guarda de Israel, Abbas terá assessoria especial. O governo Bush enviou o general William E. Ward, para ajudar com a “reforma das forças palestinas de segurança“. A ajuda dos EUA não será só militar. Segundo Condoleezza Rice, nos próximos três meses, os Estados Unidos transferirão 40 milhões de dólares à ANP. Israel também não ficará de fora. Em sua proposta de Orçamento, Bush aumentou as verbas militares, das quais o país será um dos maiores beneficiários.

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